Page 25 - Revista Política Democrática nº 43 - Maio/2022
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REPORTAGEM ESPECIAL



                          m 1986, o economista Celso Furtado,   Em plena campanha à reeleição, Bolso-
                          o terceiro a ocupar o Ministério da  naro, que reduziu o ministério a uma se-
                          Cultura em menos de um ano de cria-  cretária, continua a buscar caminhos para
                    Eção da pasta no governo Sarney, já era  atingir o setor cultural, assim como fez ao
                     conhecido por dizer que o papel do Estado  oficializar, em fevereiro, instrução normati-
                     não era produzir cultura, mas apoiar iniciati-  va que provocou uma série de mudanças na
                     vas autônomas da sociedade, que, à época,  Lei Rouanet. A diminuição de 50% no teto,
                     mantiveram-se mesmo com parcos recursos  inclusão da "arte sacra" e queda de cachês
                     e ausência de amparo institucional. A men-  em 93% foram algumas das alterações fei-
                     sagem pretendia superar o pesadelo da cen-  tas na legislação (veja arte na página 28).
                     sura e dos desmandos da ditadura militar.  Último ministro da Cultura do governo de
                       “Em uma sociedade democrática, as fun-  Michel Temer – que chegou a colocar a Cul-
                     ções do Estado no campo da cultura são de  tura no status de secretária, mas, logo depois
                     natureza supletiva”, afirmou o então minis-  de pressão do setor, recriou o ministério –,
                     tro, durante cerimônia de apresentação da  Sérgio Sá Leitão critica Bolsonaro e afirma
                     Lei Sarney, que criou o primeiro programa de  que “a cultura é um dos principais ativos eco-
                     incentivo à cultura por meio de renúncia fiscal  nômicos e sociais do Brasil, com uma incrível
                     do país. Ela foi extinta, em 1990, cinco anos  capacidade de geração de renda, emprego,
                     após a criação da pasta, no início do mandato  inclusão e desenvolvimento”. As atividades
                     de Fernando Collor de Mello. Celso Furtado  do setor representam, conforme destaca,
                     saiu do governo dois anos antes, junto a ou-  2,64 % do PIB brasileiro, quase 5 milhões de
                     tros ministros ligados à Ulysses Guimarães.  postos de trabalho em todo país.
                       Pressionado, Collor recuou. Em 1991,     “A situação antes do governo Bolsona-
                     sancionou a Lei Rouanet, que ficou assim  ro era muito melhor do que a atual. O Mi-
                     conhecida depois de ser proposta pelo então  nistério da Cultura existia. Tivemos boas
                     ministro da Cultura, Sérgio Paulo Rouanet.  gestões no governo FHC e no primeiro
                     Ela instituiu novos mecanismos de opera-  mandato de Lula, com Gilberto Gil. A ges-
                     cionalização dos investimentos, com análise  tão de Marta Suplicy foi positiva. Após a
                     técnica prévia dos projetos e prestação de  crise inicial, também no governo Temer
                     contas mais rigorosa. No entanto, passados  houve avanços relevantes. São contextos
                     31 anos, agora é atacada como “teta gor-  em que a política cultural evoluiu. Agora,
                     da” pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que  está involuindo”, diz Leitão, que é secre-
                     atua contra o fomento à cultura, na esteira  tário de Cultura e Economia Criativa do
                     de seus eleitores: a direita mais radical.  Estado de São Paulo.


                    Foto: Joa Souza/Shutterstock



























                         Integrantes do grupo de capoeira executam maculele durante evento cultural em Salvador/BA



       MAIO  2022                               REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA                                    25
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