Page 39 - Revista Política Democrática nº 44 - Junho/2022
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FELIPE BARBOSA - GUERRA ÀS DROGAS E A INSISTÊNCIA NO FRACASSO



    Foto: Bruno Rocha/Enquadrar/Estadão Conteúdo




































             “O detalhe é que, nesta guerra insana, morre o traficante, morre o policial, morre o inocente. A bala perdida encontra
              alvos descartáveis. Permanece o tráfico, permanece o usuário, permanece o dependente”, observa Felipe Barbosa.



                     considerados sujeitos de “não-direitos”,  “
                     indignos de consideração.
                       Processos de inviabilização do “outro”
                     são diariamente alimentados. Nossa “ce-  O BRASIL CRIOU SUA
                     gueira moral” nos incapacita de enxergar
                     para além dos nossos próprios interesses   VERSÃO DOMÉSTICA DE
                     ou do grupo social a que pertencemos.
                       A “guerra” deixou de ser compreendi-
                     da como um mecanismo de ruptura polí-    GUERRAS ÀS DROGAS, MAIS
                     tica e anormalidade, passando a ser na-
                     turalizada como forma de controle social   HIPÓCRITA E SANGUINÁRIA
                     dos marginalizados.
                       Adaptamo-nos e aceitamos um regime
                     que preserva elementos democráticos, com                                       “
                     procedimentos do estado de direito, e au-
                     toritários, em razão do controle social mili-  o inocente. A bala perdida encontra alvos
                     tarizado e violento de parcela social.    descartáveis. Permanece o tráfico, perma-
                       Ocupações militares, metralhadoras,  nece o usuário, permanece o dependente.
                     viaturas blindadas com símbolos da mor-    Nós,  aqui  da  plateia,  com  uma  distância
                     te, helicópteros de guerra disparando  confortável, continuamos aplaudindo a bar-
                     fuzis 556 em direção a comunidades lo-   bárie! Afinal, na trincheira, estão os “outros”.
                     tadas, não nos incomodam. O terrorismo
                     estatal é legitimado quando o inimigo               SAIBA MAIS SOBRE O AUTOR
                     são os “perigosos” moradores da favela.
                       O detalhe é que, nesta guerra insana,                   FELIPE BARBOSA
                     morre o traficante, morre o policial, morre




        JUNHO  2022                             REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA                                    39
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