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REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA    PEDRO NERY - REFORMA DA PREVIDÊNCIA PARA EVITAR O DESMONTE DO ESTADO  13




          A  reforma  da  Previdência  não  é  o   A segunda opção é fazer uma refor-  res à proposta original, e aprovada 2
        desmonte  do  Estado:  ela  é a  salvação  ma mais ampla e definitiva, incluindo  anos depois.
        contra o desmonte do Estado. Não  grupos mais pobres, tratando da vincu-  Neste momento, a relevância do Par-
        reformá-la é provocar um ajuste bíblico  lação ao salário mínimo, e criando um  lamento é ainda maior. Embora reco-
        em outras despesas, transformar o Esta-  pilar de capitalização – mais sustentá-  nheça a necessidade de mudança, o
        do em uma mera folha de pagamento  vel – para as próximas gerações.     novo Presidente titubeia e dificilmente
        e viver um pesadelo ultraneoliberal. O   Seja qual for a opção, é importante  liderará como necessário este processo.
        Estado vai ser mínimo.              que a reforma exija maior esforço dos  Há um evidente desconforto no ex-par-
          No INSS, o benefício mais elevado é a  grupos mais ricos da população e que  lamentar corporativista, que veemente-
        aposentadoria por tempo de contribui-  seja acompanhada também de medidas  mente rechaçou qualquer aspecto das
        ção, que corresponde a 15 vezes o gas-  contra injustiças do lado da arrecada-  reformas anteriores.
        to com ensino profissional ou 20 vezes  ção. Entre elas, os Refis e a maior tribu-  Em resumo, a reforma deve vir
        todo o orçamento de C&T. A pensão  tação de pessoas físicas disfarçadas de  justamente  para  prestigiar  a  Cons-
        por morte tem orçamento maior que o  pessoas jurídicas.                 tituição, garantindo a solvência do
        da saúde ou o da educação.            O Legislativo vai ter um papel impor-  Estado nas 3 esferas e, logo, a pres-
          A aposentadoria por idade urba-   tante, como sempre teve no tema.  tação dos serviços públicos essen-
        na ou a aposentadoria por invalidez  Relembremos: a reforma de Fernando  ciais e o investimento público. Os
        já despendem o equivalente a 2x o  Henrique foi bastante alterada no Con-  objetivos a Carta Magna já traçou:
        programa Bolsa Família. Nos Estados,  gresso Nacional, sendo inclusive objeto  a erradicação da pobreza, a redução
        falidos, a previdência dos servidores  de um substitutivo do Senado Federal.  das  desigualdades  e  o  desenvolvi-
        já é quase 2 vezes o próprio Fundo de  A de Lula foi mais rápida, mas tramitou  mento nacional. Sem a reforma, con-
        Participação (FPE). Esta é a parte mais  em conjunto com uma “PEC Paralela”,  denamos a Carta Cidadã a se tornar
        regressiva do sistema, pois exige gran-  com as modificações feitas por senado-  a Carta Previdenciária.
        des aportes da sociedade para benefí-
        cios altos que apenas uma parcela da
        população vai receber.
          Esta é também uma das característi-
        cas da previdência dos militares: a car-                                                                    Foto: Wilson Dias / Agencia Brasil
        reira possui diferenças, mas não deve
        ser blindada sob argumentos de vitimis-
        mo. O déficit dos militares é equivalente
        a uma CPMF.
          O crescimento anual da despesa total
        é igual a todo o investimento público.
          A pergunta mais difícil  é “como
        reformar?”. Existem na prática várias
        “Previdências” para os vários “Brasis”.
        Nos estados ricos, predomina a aposen-
        tadoria por tempo de contribuição, sem
        idade mínima. Nos estados pobres, a
        aposentadoria rural, com idade mínima.
        Nos muito pobres, o benefício assisten-
        cial ao idoso (BPC-Loas), com idade
        mínima mais dura.
          Por isso, o debate se concentra em
        2 opções. Uma é aproveitar a atual ver-
        são da reforma de Temer, sem mexer
        nos rurais, no BPC e no tempo mínimo
        de contribuição (item caro aos mais
        pobres, que não têm carteira assinada).
        O foco seriam as aposentadorias urba-
        nas de maior valor, as pensões por mor-
        te e os servidores.                   O Legislativo vai ter um papel importante na aprovação da proposta de reforma da Previdência
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