Page 17 - Política Democrática
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REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA                          PIQUET CARNEIRO - DESBUROCRATIZAÇÃO REVISITADA  15




        expansão burocrática e a perda de efici-                                uma ideia, abre-se uma nova empresa
        ência nos últimos anos podem até provir                                 mediante simples comunicação. E, se a
        de razões justificáveis, como a necessi-  “A BUROCRATIZAÇÃO             empresa preferir não se oficializar, a úni-
        dade  de  combate  à  corrupção.  Mas  a                                ca diferença é que ela não terá as vanta-
        principal causa, sem sombra de dúvida,   É, NA ESSÊNCIA, UM             gens da formalização. Reconhecimento
        tem sido a manipulação da estrutura    DESDOBRAMENTO                    de firma, já era.
        administrativa estatal para fins políticos   INEVITÁVEL DA                Claro, o Brasil é muito maior que Por-
        e econômicos subalternos. O exemplo    INTERVENÇÃO ESTATAL              tugal. E daí? Nosso problema não é o
        paradigmático  foi  a  criação  indiscrimi-  E DA CENTRALIZAÇÃO         tamanho,  mas  a  maneira  incompeten-
        nada  de  ministérios  (39)  que  se  trans-  ADMINISTRATIVA,           te de administrar tão vasto território. A
        formaram em frondosas árvores do       TRAÇOS QUE REMONTAM              impressão que dá, como nos lembra o
        empreguismo oficial e do desperdício do   AOS PRIMÓRDIOS DA             educador Edgar Flexa Ribeiro, é que a
        dinheiro público.                      COLONIZAÇÃO. NOSSOS              burocracia age como se a distância de
          A  burocratização  é,  na  essên-    COLONIZADORES SEMPRE             Brasília a Manaus fosse a mesma de Lis-
        cia, um desdobramento inevitável       TEMERAM QUE O BRASIL,            boa ao Porto...
        da intervenção estatal e da centra-    POR SER TÃO GRANDE                 O mais preocupante é que nos-
        lização administrativa, traços que     E RICO, ESCAPASSE AO             sos políticos e administradores não
        remontam aos primórdios da coloni-                                      se dão conta de que a centralização
        zação. Nossos colonizadores sempre     CONTROLE DE PORTUGAL.”           burocratizante é  inimiga  da  demo-
        temeram que o Brasil, por ser tão                                       cracia. Basta ver o que ocorre atual-
        grande e rico, escapasse ao contro-                                     mente na Europa, em particular na
        le de Portugal. A expressão “alvará                                     “redemocratização” francesa sob o
        régio” bem simboliza a dependência  mas não tem nada a ver com o Portugal  comando do Presidente Macron. O
        de qualquer iniciativa empresarial à  de hoje. Lá o programa Simplex, em vigor  redimensionamento do estado é visto
        autorização  do  governo.  No  Impé-  há vários anos, significou enorme tranco  por ele como condição sine qua non
        rio, a questão já causava polêmica.  na velha burocracia lusitana. Para se ter  da moderna
        Paulino Soares de Souza, o Viscon-
        de de Uruguai, era um centralizador
        convicto, embora não se furtasse em                                                                        Foto: Internet
        apontar a burocratização como um
        dos subprodutos inevitáveis da cen-
        tralização administrativa. O tempo
        passa, mas na prática quase nada se
        faz para combatê-la.
          Nos dias atuais, a centralização admi-
        nistrativa sequer serve para ajudar no
        combate à crise econômica; ao contrá-
        rio, agrava. Mais que nunca é o gover-
        no federal que tudo atrai como parte
        da estratégia de consolidação do poder
        central. É indiscutível que os Estados
        mais desenvolvidos teriam condições
        técnicas e econômicas de assumir várias
        atividades  hoje  exercidas  pelo  governo
        federal. Minas Gerais, por exemplo, tem
        uma vasta malha rodoviária federal, mas
        os órgãos de Brasília empurram com a
        barriga a concessão desse serviço ao
        governo estadual.
          Ainda hoje, aponta-se o modelo colo-
        nizador português como o culpado da
        nossa centralização administrativa. Claro
        que isso foi verdade no período colonial,   Emmanuel Macron enfrenta crise no processo de “redemocratização” francesa
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