Page 10 - Revista Política Democrática nº 50 - Dezembro/2022
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EVITAREMOS OUTRA DÉCADA PERDIDA? - BENITO SALOMÃO




                     sequências não desprezíveis para o equilí-  dinâmica do próprio modelo. Neste caso,
                     brio macroeconômico do país. Se isso acon-  políticas de desenvolvimento tecnológico
                     tecer, novamente a agenda de estabilização  e  de ampliação  do capital humano têm
                     de curto prazo da economia brasileira irá  papel central na definição da trajetória
                     se sobrepor às questões de longo prazo, e,  de longo prazo das economias. São expo-
                     dificilmente, o país conseguirá escapar de  entes dessa literatura autores como Ro-
                     “                                        não pode ser negligenciada. Os institucio-
                                                              bert Lucas Jr (1988); Paul Romer (1990) e
                     uma nova década perdida.
                                                              Adam Posem (1992).
                                                                Uma terceira corrente de pensadores

                                                              nalistas vão argumentar que a dinâmica
                                                              de longo prazo das economias é resulta-
                     Preocupação social
                                                              do da qualidade das instituições desen-

                                                              cos. Em livro bastante intuitivo e acessível
                     cristalizada na retórica                 volvidas pelos mais variados pactos políti-
                                                              a não economistas, chamado “Why The
                                                              Nations Fail” (Por que as Nações Fracas-
                     petista pode se converter                sam), Daron Acemoglu e James Robinson
                                                              discorrem a partir de exemplos históricos
                     em captura político-                     e ilustrativos, como instituições importam
                                                              para o desempenho dos países.
                                                                Os autores apelam ao velho conceito
                     eleitoral dos programas                  de destruição criativa cunhado por Joseph
                                                              Schumpeter para argumentar que o tipo de
                                                              instituições determina a dinâmica de ino-
                     sociais pelo governo”                    vações em uma economia e, consequente-
                                                              mente, o seu desempenho em termos de
                                                              crescimento  do  PIB.  Para  eles,  instituições
                                                              inclusivas são aquelas que permitem e ga-
                       Os modelos que se debruçam a compre-   rantem à sociedade usufruir dos bônus de
                     ender o crescimento de longo prazo das   novas descobertas. Esse incentivo criaria
                     economias sugerem uma combinação de      uma dinâmica de busca pelo conhecimento
                     fatores que podem desencadear um longo   e pelas inovações que são a base do cres-
                     horizonte de prosperidade para as nações.   cimento sustentável. Analogamente a isso
                     Robert Solow, em clássico artigo de 1956,   tem-se as instituições extrativas, oriundas de
                     atestou que a dinâmica de longo prazo    pactos políticos que permitem às elites asfi-
                     das economias está relacionada com a     xiar ou capturar os bônus destas inovações.
                     sua capacidade de acumular capital, que,   Neste caso, não há incentivos para acúmulo
                     por sua vez, depende da evolução da taxa   de capital humano e novas descobertas.
                     de poupança doméstica. Olhando para o      Ao se projetar no governo as preo-
                     modelo de Solow, cujos avanços tecnoló-  cupações da equipe de transição, toda
                     gicos ou da produtividade são considera-  essa discussão é negligenciada. O vício
                     dos exógenos e estimados via resíduos, as   do modelo keynesiano simples dá a fal-
                     perspectivas não são boas, de forma que   sa sensação de que os problemas podem
                     o Brasil não será capaz de crescer a taxas   ser solucionados por expansões do gas-
                     elevadas mantendo uma taxa de poupan-    to público,  desconsiderando os efeitos
                     ça em torno de 15% do PIB.               disso sobre a produtividade total dos fa-
                       Há, no entanto, outras abordagens. A   tores (PTF); sobre a taxa de poupança e
                     família dos chamados modelos de cresci-  sobre os incentivos que tais políticas pro-
                     mento endógeno se difere do modelo de    duzem. Há um risco real que estejamos
                     Solow pela forma como é tratada a dinâ-  entrando noutra década perdida.
                     mica da tecnologia e, consequentemente,
                     da produtividade. Neste caso, a evolução           SAIBA MAIS SOBRE O AUTOR
                     tecnológica e do capital humano neces-
                     sário para elevarem o crescimento de lon-               BENITO SALOMÃO
                     go prazo das economias se dá diante da



       10                                       REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA                       DEZEMBRO  2022
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