Page 13 - Revista Política Democrática nº 50 - Dezembro/2022
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JOSÉ LUIS OREIRO - O DEBATE AUSENTE: O DESEQUILÍBRIO EXTERNO PERSISTENTE DA ECONOMIA BRASILEIRA
Graças à forte desvalorização cambial em conta corrente no acumulado em 12
e à queda de mais de 8% do PIB entre o meses se reduz para apenas 1,90% em
segundo semestre de 2014 e o último tri- agosto de 2021, apresentando desde
mestre de 2016, o défi cit em conta cor- então nova tendência a elevação.
rente se reduziu para 0,894% do PIB em
março de 2018. Embora défi cits em conta
corrente inferiores a 1% do PIB não sejam “
preocupantes do ponto de vista do fi nan-
ciamento externo, chama atenção que,
após a maior recessão dos últimos 40 anos
e de uma forte desvalorização da taxa de Desindustrialização
câmbio, a economia brasileira se mostrou
incapaz de voltar a gerar superávits em
conta corrente, como no período de junho precoce da economia
de 2003 a dezembro de 2007. Mais grave
ainda é o fato de que, uma vez passados brasileira resultou numa
os efeitos da grande recessão brasileira
(2014-2016), o défi cit em conta corren-
te como proporção do PIB no acumulado reprimarização da pauta
em 12 meses volta a se elevar atingindo
3,52% do PIB em junho de 2020, já no de exportações, reduzindo
“ assim a sensibilidade das
período da pandemia do covid-19.
exportações ao câmbio”
Mais grave ainda é o
fato de que o déficit apontar para o retorno da rigidez estru-
Os dados apresentados parecem
em conta corrente tural do balanço de pagamentos, situa-
ção na qual a desvalorização cambial se
como proporção do PIB mostra incapaz de resolver o desequilí-
brio externo devido ao perfil da pauta
de exportações. A desindustrialização
no acumulado em 12 precoce da economia brasileira resul-
tou numa reprimarização da pauta de
exportações, reduzindo assim a sensibi-
meses volta a se elevar lidade das exportações ao câmbio. Nes-
se contexto, o crescimento do PIB a um
atingindo 3,52% do PIB ritmo mais robusto será inevitavelmente
estrangulado pelo aumento explosivo
do déficit em conta corrente, que ter-
em junho de 2020” mina sempre desencadeando uma crise
cambial, com maxidesvalorização do
câmbio, elevação da inflação e da taxa
de juros, abortando assim a retomada
De fevereiro de 2020 a maio de 2021, do crescimento.
a taxa real efetiva de câmbio se desvalo-
riza em 30,75%, e a economia se encon- SAIBA MAIS SOBRE O AUTOR
tra em recessão. Apesar da enorme mu-
dança de preços relativos e da queda do JOSÉ LUIS OREIRO
nível de atividade econômica, o déficit
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