Page 21 - Revista Política Democrática nº 42 - Abril/2022
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MARCO ANTONIO VILLA - ENTREVISTA ESPECIAL
Foto: Reprodução/Facebook
dois anos, na coincidência dos processos identidade com as grandes questões sociais
eleitorais. Os partidos não conseguem mais do Brasil, paga poucos impostos, tem um
uma relação direta com o eleitor, ou com o olhar de violência para a democracia e as
“rebanho”, como gostam de falar. questões do século 21. Até sua saída não
Temos um país que não cresce há déca- é mais pelos portos tradicionais. Suas mer-
das, as pessoas estão frustradas. Antiga- cadorias partem pelo norte do Brasil, e já
mente, o filho vivia melhor que o pai, e o se pensa em usar a alternativa do Peru. São
pai, melhor que o avô. Hoje isso não ocorre segmentos da sociedade totalmente disso-
mais. Não existe mais esse processo de des- ciados, têm outra cultura, ouvem outras mú-
locamento social, de ascensão social. É um sicas, não leem nada, têm ódio da cultura. É
país que tem dificuldade de entender o que outro mundo. Esse é o Brasil que queremos?
ele é. É um país muito fraturado. O fenôme- Nós queremos outra coisa.
no do agronegócio reforça isso. Pela primei- Por isso, digo que é difícil fazer hoje po-
ra vez na história do Brasil, o agronegócio, o lítica no Brasil com tantos Brasis, como na
setor mais dinâmico da economia, está des- cidade de São Paulo tem muitas cidades de
locado absolutamente do litoral. Alguém vai São Paulo. A questão que se coloca é en-
falar assim: a mineração do século 18 estava tender aqueles trabalhos clássicos que tínha-
vinculada ao litoral, por meio dos portos do mos de interpretação do Brasil, nos anos 30,
Rio de Janeiro e Parati. Mas o agronegócio 40, 50 e 60 até anos 70, com mais visões de
é outro mundo, é como se fosse um outro totalidade, o que não temos, e acho difícil
Brasil, fortemente reacionário, que não tem termos na atualidade. Tomando emprestada
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