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REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA                                           CLEOMAR ALMEIDA - REPORTAGEM   23



                                                                                                                   Foto: Erivelton Viana



























          Vivendo em situação de rua, Jeruza dos Santos reclama da falta de estrutura básica de atendimento à população vulnerável na capital federal

        Falta de abrigo agrava desamparo em Brasília



          Em Brasília, a falta de um sistema  suporte técnico a 30 equipes de abor-  desenvolvem trabalho sério, mas não
        de acolhimento 24 horas castiga ainda  dagem social na rua, cada uma delas  quiserem se expor por medo de a tran-
        mais as pessoas que vivem nos espaços  com cinco profissionais.         sição de governo provocar o corte de
        públicos. Não existe abrigo para elas, e   O governo do DF inaugurou em 2013  recursos, em represália.
        das 20 às 8 horas não há equipes de  o segundo e último CentroPop, em     – A rua não é lugar de ninguém morar.
        profissionais que atuem na abordagem  Taguatinga, a 25 quilômetros de Brasília.  Não faz bem. A gente não tem privacida-
        social. Há apenas o Centro de Referên-  Pessoas em situação de rua reclamam  de e torna-se mais vulnerável à violência.
        cia Especializado para a População em  do despreparo de alguns profissionais  Mas ficar em abrigos é pior ainda, não
        Situação de Rua (CentroPop), inaugura-  que trabalham em abrigos. É o caso da  têm estrutura básica de atendimento e
        do em 2012, na Asa Sul, e que funciona  diarista Jeruza dos Santos (41 anos), que  vivem superlotados, diz Jeruza, que não
        durante horário comercial, das 8 às 18  mora nas ruas de Brasília desde abril des-  pretende voltar mais ao Rio de Janeiro.
        horas, de segunda a sexta-feira.    te ano após mudar-se do Rio de Janeiro   Em nota, a Sedest reconhece que a
          No CentroPop, são servidos 400 lan-  para resolver assuntos particulares.  população em situação de rua vive em
        ches e atendidas cerca de 150 pessoas   Jeruza acredita que é do interesse do  extrema pobreza e expressa a desigual-
        por dia com serviços básicos de higieni-  governo que o problema continue para  dade social. Apesar de admitir o pro-
        zação. A Secretaria Adjunta de Desen-  que algumas organizações não gover-  blema, não elaborou plano de Estado
        volvimento Social (Sedest) informou  namentais (ONGs) continuem receben-  que defina data para a construção do
        que, no Distrito Federal, 17 psicólogos  do dinheiro público. ONGs ouvidas pela  primeiro  abrigo para essas pessoas na
        e assistentes sociais da pasta oferecem  reportagem informaram, contudo, que  capital federal.
        Jovem encontra apoio na biblioteca da FAP


          –  Ninguém da minha família sabe  Plano Piloto de Brasília, que o jovem em  a única saída. Ele conta que em Recife
        ainda que estou vivendo na rua, porque  situação de rua passa parte dos seus dias  trabalhou como auxiliar administrativo.
        não quero dar aperreio para a minha  durante a semana e em horário comer-  Ganhou experiência, mas ainda não con-
        mãe. Ela também está passando dificul-  cial. Nascido em Recife, ele mudou-se  seguiu ser chamado por nenhuma das
        dade e não pode me ajudar, diz o estu-  de sua cidade natal, onde deixou toda  20 empresas em que deixou currículo.
        dante Paulo Henrique dos Santos (25).  a sua família, para a capital federal em   –  Tenho muita dificuldade por não
          É lendo livros na Biblioteca Salomão  2012, em busca de emprego.      ter endereço fixo. Tenho esperança de
        Malina, mantida pela Fundação Astrojil-  Desempregado e sem dinheiro para  construir  uma  família.  Quero  mostrar
        do Pereira (FAP), perto da Rodoviária do  pagar aluguel, viver na rua tornou-se  para mim mesmo que venci.
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