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26 PARA UMA CRÍTICA DO TEMPO PRESENTE - LUIZ SÉRGIO HENRIQUES REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA
Para uma crítica do
tempo presente
A política, no entanto, deve voltar a falar de pessoas e ativar-se para criar laços,
cuidar de territórios. A política morre se viver só de direitos individuais, assim
como morre uma política que ergue muros, avalia Maggati
Foto: arquivo pessoal/Facebook
Mauro Maggati: “A religião deve purgar-se de toda forma de fundamentalismo, a política deve abraçar o princípio da realidade, e a técnica”
“Com a queda da ilusão liberal – esta sua característica pode permane- que se apressa em dizer: “Este trabalho
que se segue ao colapso do muro de cer em aberto é que teologia, ideologia não oferece soluções. Limita-se a fazer
Berlim e que deveria ter trazido bem- e técnica atenuem as próprias intem- compreender que estamos correndo
-estar para todos –, voltam ao jogo a peranças e aprendam a interagir entre um risco. A sociedade da potência téc-
política e a religião, que a técnica havia si. A religião deve purgar-se de toda nica, que se afirma em 1989, entrou
suplantado. Mas ambas ameaçam forma de fundamentalismo, a política em crise, assim como aquele seu bio-
voltar a campo de modo equivocado. deve abraçar o princípio da realidade, poder que exerceu com tanta desen-
Pensam enfrentar uma técnica cada e a técnica, que certamente permitiu voltura e sem nenhuma autocensura.
vez mais invasiva e a-finalista – por a mais de um bilhão de pessoas, em A consequência é que não consegue
cancelar fins e horizontes da existência trinta anos, sair da pobreza, não mais mais resolver os problemas que causou
do homem –, mas continuam a querer pode pensar que não existem limites”. e não se entreveem novos paradigmas
monopolizar a violência. Como imagi- É o que afirma Mauro Magatti (1960), para interpretar e construir a realidade.
nam deter o poder da técnica, se con- professor de Sociologia da Universidade A técnica esterilizou a vida dos homens
tinuam a incorrer nos erros cometidos Católica de Milão, autor do livro, recen- e tornou-a igual para todos, matando
no passado, usando a mesma violência temente publicado pela Ed. Feltrinelli, sua capacidade de ser excêntrica, isto
que pretendem suprimir? O homem é intitulado Além do infinito – História da é, deslocada em relação a um centro
potência, e o único modo pelo qual potência desde o sagrado até a técnica, estabelecido externamente e de modo