Page 16 - Revista Política Democrática nº 50 - Dezembro/2022
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ENTREVISTA ESPECIAL - BENJAMIN SICSÚ
não têm nada a ver com a necessidade de radical nessa política, ou seja, a reversão
propiciá-la para as camadas mais pobres do que vinha sendo feito e a adoção de
da população. O caso da privatização da novos instrumentos. Qual é a avaliação
que essa energia seja consumida no lito- “
Eletrobrás é outro exemplo. Realizou-se
do senhor sobre isso?
uma política de levar gás para o centro
do país, e, obviamente, como não tem
uma população muito grande lá, depois
que se produzir termelétricas com gás no
centro do país, deverá levar a fi ação, para
ral. Então, esse tipo de política que onera Precisamos atuar
o custo de vida e, principalmente, o dos
mais pobres têm que ser enfrentado, se- intensamente para
não o Brasil não irá na direção certa. Tem
sempre acaba existindo passe a impactar acabar com subsídios e
que fazer com que a pouca infl ação que
na renda dos ricos, e não dos mais po-
bres. Temos um nível de subsídio anual mecanismos que geram
na faixa de mais de R$ 400 bilhões no
te de energia, o que justifi ca haver sub- concentração de renda
orçamento da União. Desse total, na par-
sídio para carvão? É de se entender que,
em uma crise europeia, o carvão precisou nas camadas mais
ser reacionado por causa da questão da
Rússia, mas, aqui no Brasil, há um volu-
me de subsídios concedidos à produção ricas da comunidade”
de carvão ainda, equivocadamente. O
subsídio à gasolina acabou se tornando
uma penalidade ao etanol, que é uma das
grandes alternativas para uma economia BS: Temos uma série de leis que pro-
mais limpa. Essa questão do ICMS pre- tegem o meio ambiente. O que houve,
cisa ser tratada com agilidade, porque, nos últimos quatro anos, com enorme
caso contrário, vamos fazer como alguns nível de intensidade, mas também an-
anos atrás e quebrar de novo as usinas tes, com intensidades menores, foi o não
do setor açúcar alcooleiro. É preciso ha- cumprimento das leis. Quando se fala da
ver uma solução rápida porque elas não situação triste em que o Brasil fi cou na
aguentam muitos meses de desequilíbrio questão da preservação ambiental, fala-
com um subsídio extremamente grande -se de incentivo ao crime. Na Amazônia,
concedido à gasolina. Precisamos atuar há grilagem de terras, desmatamento e
intensamente para acabar com subsídios mineração em situação irregular, invasão
e mecanismos que geram concentração de terras indígenas, transformação de
de renda nas camadas mais ricas da co- fl orestas em pasto. Existe uma somató-
munidade. Lembro-me, ainda, de uma ria de crimes, em todos os seus modelos,
tese de que precisa acabar aquela história que não são coibidos. Por isso, se tornou
do plano real, que liberou os preços, mas terra de ninguém. Para o Brasil cumprir
não liberou os indexadores de aplicações os seus compromissos de diminuição da
de médio e longo prazo. emissão de gases do efeito estufa, só tem
que cumprir a lei, porque 60% da contri-
PD: Estamos saindo de um período de buição de gases do efeito estufa no Brasil
quatro anos de um governo que foi con- são oriundos do desmatamento irregular.
siderado, pela comunidade internacional, Se acabar com o desmatamento irregu-
praticamente de forma unânime, um re- lar, o país cumprirá as cotas com as quais
trocesso absoluto do ponto de vista am- se comprometeu em relação ao mundo
biental. E estamos prestes a ter um novo por causa da crise climática. Nesse senti-
governo, que anuncia uma mudança do, poderá se tornar extremamente mais
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