Page 11 - Política Democrática
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REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA DOM ROQUE PALOSCHI - ENTREVISTA 9
da pessoa humana, pelo caminho da preocupação por parte de todas as ins- para o Brasil, como, por exemplo, a
justiça, pelo caminho da dignidade. Não tituições, incluindo o governo e, claro, questão dos povos indígenas em 2000,
tem evangelização quando as pessoas a Igreja. Os desafios não são pequenos. a questão da Amazônia em 2007 e a
não têm perspectiva de vida e vivem uma A média da área geográfica das dioce- questão da água. Como cristãos somos
escravidão. Isso não é evangelização; a ses no norte do país é gigantesca. Eu semeadores, temos que semear e temos
evangelização não é colonização; é um trabalhei, por exemplo, muitos anos na que acreditar na semente, porque a
encontro da boa nova com os sonhos e diocese de Roraima que corresponde semente vai germinar. Nós sonhamos,
esperanças das populações. ao tamanho do Estado de São Paulo. sim, e acreditamos em um mundo justo,
Como, então, atender a essas peque- fraterno e solidário também um Brasil
Teologia da criação nas concentrações humanas, dispersas onde todos possam viver com dignida-
na imensidão? Daí por que a atenção de. A realidade do mundo hoje é, no
O que se chama a teologia da cria- que o Papa reserva à crise ambiental entanto, a de que praticamente mais de
ção é muito clara e está presente na que o planeta está vivendo. Não pode- um terço da humanidade vive abaixo da
Bíblia, é o caminho da teologia da mos pensar só no hoje, temos de cuidar linha da pobreza.
igreja, que tem de ser trabalhada. Daí das gerações futuras.
a importância do Sínodo. Será uma
reunião para construir novos cami- Diálogo
nhos, onde nós vamos debater, rezar
e suplicar as luzes do Espirito Santo Mas repito: é caminhando que se “O SÍNODO CAMINHA
para nos orientar. A história da igreja abrem caminhos, onde vamos encon- COM OS POVOS
é marcada por processos, em que se trar espaços para novos projetos, a INDÍGENAS RESPEITANDO
trilham encruzilhadas e perspectivas partir do diálogo, da corresponsabi- A LIBERDADE DELES,
diferentes. A multiplicidade de pre- lidade. E o movimento terá de ser de RESPEITANDO O PROJETO
sença não empobrece, enriquece a baixo para cima. Não são decretos nem DELES.”
vida dos povos. Não cultivamos visões imposições que vão nos fazer cami-
sectaristas, acolhemos e respeitamos nhar; vamos precisar buscar alternati-
as diferenças. O Sínodo não tenciona vas. Temos clareza quanto ao projeto
colocar-se como centro. Antes, ado- que queremos perseguir: é o projeto
tar a perspectiva de alguém compro- que gera vida, que gera esperança, que O que impulsionou a convocação
metido a descobrir e responder aos promove relação harmoniosa; não é desse Sínodo? Tudo começou quando
novos desafios. o projeto que acumula para poucos e o então arcebispo de Buenos Aires,
destrói a esperança da grande maioria o Cardeal Bergoglio, na condição de
dos povos. O relatório que concluímos coordenador da equipe de redação do
e que vamos entregar agora em maio é documento de Aparecida, em 2007,
um trabalho que a igreja faz com dados ficou muito impressionado com a
“OS POVOS INDÍGENAS de todo o país. Dá prioridade, na linha insistência dos bispos brasileiros em
RECONHECEM de pensamento do Papa, à questão do relação à Amazônia. A pedido não
CERTAS INICIATIVAS meio ambiente, de nossa casa comum, só do Brasil, mas também das outras
por assim dizer. O relatório soma-se a conferências episcopais da região Pan
DO GOVERNO, MAS vários outros que o Vaticano está enco- Amazônica, o Papa decide convocar
PREFEREM CAMINHAR mendando, todos voltados à promoção o Sínodo de bispos, do qual partici-
À SUA MANEIRA, A SEU da pessoa humana e ao fortalecimento parão também convidados da região,
MODO” da consciência dos cristãos católicos. de outras igrejas, povos originários,
Não estamos aqui para competir com povos quilombolas, povos ribeirinhos.
governos, mas sobretudo para ajudar a São experiências diferentes que nos
criar caminhos de esperanças, de vida e ajudarão a enfrentar o desafio das
dignidade para todos, porque Ele veio condições de vida dos povos da região
para servir a todos. amazônica. Não resta dúvida de que a
Brasil Igreja tem um longo caminho a per-
Temáticas correr, o que nos dispomos a fazer na
O Brasil passou de uma sociedade simplicidade, na humildade e na leal-
predominantemente agrária a uma A Igreja tem um histórico no desen- dade ao evangelho de nosso Senhor
urbanização violenta, e isso é motivo de volvimento de temáticas importantes Jesus Cristo.