Page 47 - Revista Política Democrática nº 49 - Novembro/2022

BENJAMIN SICSÚ - A COP 27 FRACASSOU?

Nações Unidas sobre Mudança Climática, por cada um dos países sobre quais seriam
adotada em 1992. As reuniões de deliberação suas contribuições para o objetivo de redu-
ocorrem anualmente desde 1995. Durante ção da temperatura.
duas semanas, os países avaliam a situação do
clima no planeta e propõem mecanismos para
garantir a efetividade da convenção. “
Este ano, o encontro realizou-se no Egito
gico-climático não foram atendidas, o que O que se tem que levar
e muitas das expectativas do mundo ecoló-
gerou o sentimento de frustração. Mas é
preciso avaliar a situação dentro do mar- em conta é que a COP
co histórico e do contexto político mundial
para se ter a real dimensão dos resultados 27 produziu uma grande
obtidos em Sharm el-Sheikh.
Os resultados acordados na COP de Pa-
ris, em sua edição de número 21, ocorrida vitória”
em 2015, foram, até o momento, os mais
impactantes para o encaminhamento de so-
luções visando equacionar a crise climática. Este ano, havia grande expectativa de
Decidiu-se ali que era preciso manter a tem- que fossem pactuadas novas medidas em
peratura média da terra abaixo de 2 graus direção à eliminação do uso de combustí-
“ causam aumento de temperatura. Na COP
celsius acima dos níveis pré-industriais. veis fósseis, como o carvão. Eles represen-
tam atualmente 80% das emissões que

26, realizada em Glasgow, pela primeira
vez, o texto fi nal trouxe a citação ao carvão
Alemanha teve que
e enunciou medidas necessárias para o fi m

acionar usinas a carvão de seu uso. Não houve, então, qualquer
menção ao uso de gás e de petróleo.
Na COP do Egito, além de continuar não
priorizando medidas em relação ao gás e
para se contrapor petróleo, o acordo fi nalizado retirou o foco
dado ao uso do carvão. No texto fi nal, foi
à diminuição do trocado o termo “redução gradativa” para
“eliminar subsídios inefi cientes”, e isso foi
entendido como um retrocesso.
recebimento do insumo que entender que, no último ano, países lí-
Em função da invasão da Ucrânia, temos

importado da Rússia” deres nas medidas de contenção da tempe-
ratura, como a Alemanha, foram impelidos
a adotar medidas contrárias ao enunciado
em Glasgow. País da Europa mais depen-
dente do gás russo, a Alemanha teve que
Pactuou-se também a necessidade de acionar usinas a carvão para se contrapor
realizar esforços para que esse limite não à diminuição do recebimento do insumo
ultrapasse 1,5% acima dos níveis pré-in- importado da Rússia. Logicamente, esse
dustriais. Foi acordado, ainda, que os pa- choque de realidade refl etiu-se sobre o do-
íses desenvolvidos manteriam um fl uxo cumento fi nal da COP 27.
regular de fi nanciamento de recursos fi - Mas essa é uma situação transitória.
nanceiros para os países mais pobres pode- Tão logo o mundo reequacione as conse-
rem adotar tais medidas visando a redução quências geopolíticas da invasão da Ucrâ-
do aquecimento global. nia, medidas de extinção do uso do car-
De Paris para o Egito, as sucessivas COPs vão voltaram a ser debatidas e adotadas.
foram destinadas a avaliar e criar as condi- As razões técnico-científi cas permanecem
ções de implantação dessas medidas, sen- apontando o carvão como o grande vilão
do também monitorado o anúncio feito do aquecimento. Portanto, esse pequeno

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