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SOBRE SAÚVAS E SAÚDE - MAURICIO VIANNA
Na metáfora de Andrade, nossa saúva milhares de brasileiros e seguem tragica-
contemporânea são os negacionistas, pro- mente atuando.
pagandistas e prescritores de drogas e tec- Agora, diante da ameaça da nova va-
nologias milagrosas sem evidência científica riante da Ômicron BQ.1, que já causou
e os arautos do regressivo movimento anti- sérios problemas nos EUA, Ásia e Euro-
vacina, que transbordaram do tecido social e pa, o comando da saúde no Brasil pare-
inundaram a administração da saúde públi- ce estar indiferente e “naturalizando” o
“ Significa que cada infectado é capaz de
incontável número de casos, cujo fator
ca, nunca tão politizada quanto atualmente.
de replicação já se encontra superior a 1.
contaminar mais de uma pessoa, o que
torna esta nova onda uma ameaça real,
pela possibilidade de dano individual de-
Autoridades de saúde
impacto que irá causar sobre o já precá-
rio e desorganizado sistema de saúde nos
assistem indiferentes à corrente da chance de covid longa e pelo
próximos meses.
Existem estudos demonstrando que,
escalada da nova onda em face do “escape vacinal” da subva-
riante BQ.1, cada nova reinfecção duplica
após desmontar o exitoso o risco de morte e triplica o de hospitali-
zação, principalmente, pela incidência de
efeitos adversos que aumentam com as
e internacionalmente sucessivas infecções.
As autoridades de saúde assistem
indiferentes à escalada da nova onda
reconhecido Programa após desmontar o exitoso e internacio-
nalmente reconhecido Programa Na-
Nacional de Imunização” cional de Imunização (PNI), protelar o
pedido de vacinas bivalentes que con-
ferem proteção contra a subvariante e
desmobilizar o comitê de especialistas.
Há que se fazer a distinção entre políti- As conquistas civilizatórias da nossa re-
cas de saúde e política na saúde. Sobrou forma sanitária foram sistematicamente
política na saúde ao lado da total ausência atacadas em uma “operação de guer-
de política de saúde. ra” a ponto de estarmos sob a ameaça
Vivemos, no último quadriênio, um do retorno de doenças preveníveis por
“terraplanismo” no campo da saúde pú- vacina há muito controladas e/ou erra-
blica, mesmo após 500 anos da revolução dicadas no país.
científica e 250 anos de fabuloso acúmulo Hoje instituições como a Fundação
de conhecimento médico. Agora testemu- Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Bu-
nhamos perplexos uma volta ao passado. tantan, qualificadas para fabricação das
Se o setor aeroespacial segue obser- vacinas de segunda geração, eficazes no
vando as premissas científicas dos últimos combate a BQ.1, ainda não receberam o
500 anos, o mesmo não ocorreu com a apoio necessário para início da produção,
administração da saúde recentemente. tampouco foram solicitadas as vacinas
Os terraplanistas são hoje, no máxi- já previstas nos contratos de aquisição,
mo, um grupo de excêntricos análogos como o da Pfizer.
aos ufólogos, sem, contudo, comandar Injustificavelmente, apenas bebês com
o setor aeroespacial, pois, do contrário, comorbidades com idade a partir de 6
nenhum avião decolaria, e nossos saté- meses até crianças de 2 anos estão qua-
lites de comunicação e meteorológicos lificadas para receber vacinas, e crianças
já não estariam em órbita. Já na saúde, de 3 a 4 anos estão descobertas, pois a
seus equivalentes produziram por ação/ CoronaVac não tem sido entregue. Os
inação a morte evitável de centenas de maiores de 60 anos, cuja proteção do
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