Page 42 - Revista Política Democrática nº 49 - Novembro/2022
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O QUE A LUTA LGBT PODE COBRAR DO NOVO GOVERNO? - ELISEU DE OLIVEIRA NETO
oferecer capacitação gratuita e inserção de reconhecem (IBGE), não chegam a 5% dos
pessoas transgêneras (transexuais, traves- cargos diretivos. Pessoas com deficiência
tis, não binários) no mercado de trabalho ainda são contratadas sob uma perspectiva
da tecnologia, buscando ser uma ponte meramente legalista, de cumprimento da
entre pessoas trans e empresas. Lei de Cotas. Em relação a pessoas trans,
No recorte mais vulnerável das pessoas quantas delas você já viu liderando gran-
trans, percebemos que muitas estão em situ- des equipes?
ação de vulnerabilidade porque não tinham
conseguido terminar os estudos, e a prosti- “
tuição acaba se tornando um mecanismo
de geração de renda justamente pela baixa
escolaridade. Estimativas apontam que 96% Leis têm que ser
das trans que se prostituem dizem que a
prostituição é a única forma de sustento.
Pesquisa realizada pelo partido Cida- assimiladas para, de
dania23, em parceria com a Universidade
rio), realizada com mais de mil profissionais fato, funcionarem”
Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uni-
LGBT e heterossexuais no país, revela que
metade dos que se declararam gays assu- Dos respondentes LGBT, apenas 13%
miram sua orientação sexual no ambiente afirmaram ocupar ou ter ocupado, ante-
de trabalho. Desse mesmo total, cerca de riormente, um cargo de diretoria ou C-le-
35% alegaram terem sofrido algum tipo de vel. Outros 15% ocupavam ou ocupam
discriminação sexual. Outros 25% decidi- cargos de coordenação e gestão, enquan-
ram não assumir a orientação sexual. Des- to a grande parte (54%) representa cargos
te total, 32% optaram por não revelar sua de entrada, isto é, analistas, assistentes ou
orientação por receios de represálias. estagiários.
Outro dado preocupante revela que Direito ao emprego é dignidade, susten-
33% dos heterossexuais pesquisados afir- to, e gera saúde mental. O próximo gover-
mam ter presenciado algum tipo de discri- no pode lutar por incentivos nas empresas
minação com algum profissional LGBT no e investir em campanhas publicitárias con-
ambiente de trabalho. Deste total, 17% re- tra a discriminação, além de lutar contra
velaram que o episódio teria ocorrido nos essa disparidade
últimos seis meses anteriores à entrevista. Pesquisas mostram que LGBTs são 8%
Outro estudo utilizado no artigo aponta dos moradores de rua. São graves a exclu-
que 82% dos entrevistados LGBT destacam são familiar e o desamparo. É fundamental
a existência de um longo caminho para criar abrigos preparados para esta popula-
que as empresas os acolham melhor. Por ção, pois, muitas vezes, idosos LGBTs têm
outro lado, apenas 38% dos heterossexu- que voltar para o armário, já que há muito
ais afirmam que colegas LGBTs se sentem preconceito em asilos e abrigos.
devidamente acolhidos no trabalho. Voltando para a saúde, precisamos de
Ao serem questionados sobre o atual médicos capacitados, que usem o nome
governo, 64% dos entrevistados LGBT afir- social e tenham sensibilidade. Imagine
maram que a atual gestão não se preocupa uma mulher lésbica sendo examinada por
com a diversidade no Brasil. Além disso, um homem?
para 67%, a promoção de igualdade entre Temos muita luta pela frente e um total
gêneros é uma responsabilidade governa- retrocesso para enfrentar. Precisamos co-
mental. Em relação à homofobia, 76% dos brar do próximo governo um compromisso
pesquisados afirmaram que o Brasil é uma real e não sermos mais usados como moe-
país homofóbico. da de barganha.
Dados do Instituto Ethos apontam que
mulheres são pouco mais de 10% em po-
sições de conselho – excluindo as herdei- SAIBA MAIS SOBRE O AUTOR
ras, o número é ainda menor. Pessoas ne-
gras, que é como 54% dos brasileiros se ELISEU DE OLIVEIRA NETO
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