Page 23 - Revista Política Democrática nº 49 - Novembro/2022
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BABALAWÔ IVANIR DOS SANTOS - ENTREVISTA ESPECIAL
outor em História Comparada pela de produção e de escoamento de alimen-
Universidade Federal do Rio de Janei- tos para que cheguem a uma rede mais
ro (UFRJ), o professor Babalawô Iva- barata e a quem mais precisa”, sugere. A
Dnir dos Santos destaca a importância seguir, confira trechos da entrevista.
do movimento negro para a eleição do presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e diz que Política Democrática (PD): O que o
a “intolerância religiosa está espalhada por senhor espera para o Brasil nos próximos
todo o país”. Em entrevista à revista Política quatro anos?
Democrática deste mês de novembro (49ª
edição), ele diz que o problema se agravou
nos últimos quatro anos, com “interferência
muito forte na democracia brasileira”.
O professor, que também é membro da Foto: Arquivo pessoal
Associação Brasileira de Pesquisadores Ne-
gros (ABPN), defende um plano nacional de
combate à intolerância religiosa, cuja pro-
posta, segundo ele, foi apresentada ainda
em 2008 a Lula. “O novo governo deve ter
medidas concretas e efetivas de combate à
intolerância religiosa”, assevera.
“
Pesquisador do Laboratório de História
Tivemos uma vitória
Babalawô Ivanir dos Santos (BIS):
eleitoral muito Neste momento, o sinal é de que se deve
caminhar em sintonia com o respeito à de-
mocracia, às liberdades, às diversidades,
pequena, mas uma ao Estado laico e aos direitos humanos e o
fortalecimento das lutas contra a misogi-
nia, o racismo, a homofobia. No processo
grande vitória política” eleitoral, além das questões econômicas e
sociais, havia um divisor de águas entre o
ódio e a democracia, envolvendo o racis-
mo, a intolerância religiosa, a diversidade e
as liberdades. Ganhou o campo da diversi-
das Experiências Religiosas (LHER-UFRJ) dade e da liberdade. Tenho chamado aten-
e do Laboratório de Estudos de História ção de que os partidos progressistas foram
Atlântica das sociedades coloniais pós muito importantes nesse processo. Houve
coloniais (LEHA-UFRJ), Santos também uma unidade nunca pensada antes, inde-
critica o academicismo nas universidades pendente das questões do primeiro turno.
brasileiras e ressalta a necessidade de Quem garantiu essas eleições foram os que
pensamento intelectual que reflita sobre eles chamam de grupos de identidade, por-
a realidade dos mais pobres, a maioria que correm dizendo que são identitários,
da população. “Nem todos os acadêmi- que são os grupos, acham que são minori-
cos são intelectuais”, afirma. tários - e não são tão minoritários assim -,
Diante do alerta de o Brasil ter voltado que já garantiram a eleição no primeiro
ao Mapa da Fome, das Nações Unidas, o turno, junto a essas forças progressistas,
professor também chama a atenção para mas todos os apoios foram importantes
a urgência de se garantir a segurança ali- do ponto de vista político, mas, do ponto
mentar da população. “Fome Zero não é só de vista eleitoral, não garantiram uma larga
dar o cartão para o pessoal adquirir o ali- vitória. Tivemos uma vitória eleitoral muito
mento no mercado, mas criar um processo pequena, mas uma grande vitória política,
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