Page 11 - Revista Política Democrática nº 48 - Outubro/2022
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QUILOMBOS URBANOS: IDENTIDADE, RESISTÊNCIA E PATRIMÔNIO - WANESSA SABBATH
tradições que são guardados e mantidos a
séculos. Além do zelo imprescindível à pre- “
servação dos recursos naturais, nossos povos
têm por costume manter uma relação muito OS QUILOMBOS FORAM
mais saudável e sustentável de contato com
a natureza – bem como os patrimônios di-
versos construídos pelas mãos dos nossos MUITO MAIS DO QUE
antepassados.
e acolhimento da diversidade, local onde ESCONDERIJOS DE
Foto: VIgor Santos/Secom/ Fotos Públicas etnias, bem como representantes de dife- POVOS DE RESISTÊNCIA
Os quilombos são exemplos de respeito
existiam africanos e indígenas de diferentes
cial, econômico e militar, contribuindo para “
rentes povos de resistência comungando do
mesmo espaço, onde o respeito e a preser-
vação das histórias e costumes de cada um
constitui a base das vivências.
É por isso que, como brasileiros, diversos,
plurais, nos cabe esse papel de refletir. É por
isso também que devemos fazer esse resgate
substituído pelo trabalho “livre”. Os quilom-
diário sobre o que é o nosso país e quem
bos foram muito mais do que esconderijos
somos. a crise do escravismo, que mais tarde foi
O quilombo é o epicentro do fenômeno de povos de resistência: foram, com certeza
da quilombagem, que foi organizado e di- absoluta, a maior forma de protesto, luta e
rigido pelos próprios africanos escravizados resistência contra o sistema escravista e um
durante o escravismo brasileiro em todo o espaço onde os pretos puderam desenvolver
seu território. Um verdadeiro movimento de seus costumes e reafirmar sua identidade.
mudança social provocado, que desgastou Estes espaços de resistência não ocorreram
significativamente o sistema escravista, so- apenas nas áreas rurais, existem muitos re-
latos da existência também em áreas urba-
nas. Esses locais ou eram cômodos e casas
coletivas no centro da cidade ou núcleos
semi-rurais. Vale ressaltar que importantes
QUIL
“OMBOS E ALDEIAS núcleos negros nasceram desse tipo de con-
figuração.
No final do século XIX, quando muitas
SÃO PORÇÕES DE mudanças ocorriam no Brasil, como a “abo-
lição” formal da escravatura, e a adesão ao
TERRA DO TERRITÓRIO regime político republicano, a cidade de São
Paulo se consolidava com a mudança de ri-
cos fazendeiros da lavoura de café. Os cafei-
NACIONAL HABITADAS cultores foram morar nas regiões da Aveni-
da Paulista, Campos Elíseos e Higienópolis,
trazendo consigo pretos escravizados e tra-
POR UMA OU MAIS balhadores domésticos “livres”, que foram
residir próximo aos seus senhores e patrões
em residências coletivas conhecidas como
ETNIAS COMO Quilombos Urbanos ou Irmandades Negras,
na área central da cidade.
OS INDÍGENAS E
QUILOMBOLAS SAIBA MAIS SOBRE A AUTORA
“ WANESSA SABBATH
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