Page 39 - Revista Política Democrática nº 42 - Abril/2022
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SHERLOCK HOLMES REDIVIVO - ANDRÉ AMADO
um grupo de escritores que considerava os
romances policiais como forma inferior de “
literatura (“low-brow litterature”) e aspira-
(“high-brow litterature”), razão por que MORIARTY TINHA,
va a produzir obras de alto nível literário
decide se livrar da dupla, Holmes e Moriar-
ty, afogando-os na cachoeira Reichenbach, PORTANTO, MOTIVOS
em Meiringen, na Suíça, como resultado de
um duelo malsucedido entre os dois, des- DE SOBRA PARA ATRAIR
crito em “O problema fi nal”.
Moriarty tinha, portanto, motivos de
sobra para atrair um leitor, como eu, in- UM LEITOR, COMO
teressado em verifi car o que Horowitz se
dispusera a explorar diante de pano de EU, INTERESSADO
fundo tão terminativo, vale dizer, mortos,
sem dúvida, os protagonistas centrais de
toda essa história. Alguns chegaram a ou- EM VERIFICAR O QUE
vir que, a despeito das veleidades literá-
rias de Doyle, a reação dos fãs de Holmes HOROWITZ SE DISPUSERA
fora tamanha que ele teve de ressuscitar
leção de contos, “Casa vazia”, assinados A EXPLORAR DIANTE DE
pelo menos Sherlock Holmes em uma co-
por John Watson, o inseparável compa-
nheiro do célebre detetive inglês. PANO DE FUNDO TÃO
Assim mesmo, esse sopro adicional de
matéria literária capaz de entreter os lei- TERMINATIVO, VALE DIZER,
vida a Sherlock não se qualificava como
tores nas 320 páginas que restavam, de-
pois dos referidos nas 30 páginas iniciais MORTOS, SEM DÚVIDA, OS
do livro. O que Horowitz ainda teria a
dizer, então? PROTAGONISTAS CENTRAIS
O pretexto narrativo para romantizar as
veio pela investigação que Frederick Cha- DE TODA ESSA HISTÓRIA
relações entre Sherlock Holmes e Moriarty
se, alto funcionário da fi rma americana
Pinkerton Detective Agency, sediada em “
Nova York, se dispôs a conduzir na Europa,
para elucidar a morte de Jonathan Pilgrin,
enviado pelo dito escritório nova-iorquino
de detetives, para se infi ltrar nas gangues Segue-se daí uma história policial, como
de Moriarty. Foi barbaramente assassina- se tivesse sido escrita pelo próprio Sherlock
do, e Chase apostava ter dedo do bandido. Holmes, de quem o inspetor britânico é lei-
Mas, tão logo chegou à Europa, a notícia tor voraz. A trama é muito bem construída,
da morte dupla de Holmes e Moriarty na os personagens são críveis e convincentes,
cachoeira suíça desviou sua atenção, para os mistérios se acumulam e, de repente,
se concentrar no paradeiro do bandido no- vem o desfecho, que não há maneira de
va-iorquino. Não tardou a descobrir que, eu adiantar. Seria uma maldade, o spoiler
com a morte anunciada de Moriarty, um do ano, ou do século. Quem quiser confe-
fora da lei inglês, chamado Clarence Deve- rir que o faça. Não vai se arrepender. Se for
reux, se apropriara do espólio do america- admirador de Sherlock Holmes, então…
no – tampouco no universo do mundo do
crime tampouco existe vácuo de poder – e
estava levando a polícia inglesa à loucura. SAIBA MAIS SOBRE O AUTOR
Chase tanto faz que chega a se associar a
Athelmy Jones, detetive da Scotland Yard, ANDRÉ AMADO
para dar prosseguimento às investigações.
ABRIL 2022 REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA 39