Page 26 - Revista Política Democrática nº 48 - Outubro/2022
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UM TSUNAMI CHAMADO GODARD - LILIA LUSTOSA
Foto: Ian W. Hill/Flickr
Por trás da nova onda que surgia naquele final dos anos 1950, estava também um jovem franco-suíço de classe
alta, Jean-Luc Godard
Um tsunami chamado Godard
Muito cedo, cineasta percebeu que a caneta e a câmera poderiam
ser usadas como instrumentos para reparar injustiças
Lilia Lustosa
Crítica de cinema
Nouvelle Vague, um dos movimen- jovem franco-suíço de classe alta, Jean-Luc
tos cinematográficos mais importan- Godard, que, apesar da origem burguesa (Go-
tes da França (e do mundo), gerou dard era filho de pai médico e mãe de família
A de fato, como seu título sugere, uma de banqueiros), foi pouco a pouco se rebelan-
onda volumosa no universo cinematográfico, do contra o sistema vigente, tão injusto com
quiçá um tsunami que revirou tudo de pernas alguns e tão generoso com outros. Muito cedo
para o ar e revolucionou para sempre o curso ele percebeu que a caneta e a câmera pode-
da sétima arte. Suas águas revoltas abalaram riam ser usadas como instrumentos para repa-
os padrões até então estabelecidos, impul- rar tais injustiças e ingressou como crítico da
sionados pelo então ousado neorrealismo
italiano e, ainda, pela maneira descontraída e
original de segurar a câmera de um certo Jean “
Rouch, cineasta etnográfico que se misturava
ao objeto filmado e fazia movimentos desajei-
tados e “fora da ordem” para conseguir apre- UM VERDADEIRO ÍCONE DA
ender o real.
Por trás da nova onda que surgia naque- NOUVELLE VAGUE
le final dos anos 1950, estava também um “
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