Page 15 - Revista Política Democrática nº 45 - Julho/2022
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SIMONE TEBET - ENTREVISTA ESPECIAL
“ R$ 28 bilhões em emendas nos últimos três
anos. Paralelo a isso, a sensação de uma
população mais envelhecida e empobre-
cida, o aumento da desigualdade social,
A DEMOCRACIA BRASILEIRA
a criminalização da política. Temos que re-
E A CLASSE POLÍTICA NÃO além de uma série de outros fatores, como
conhecer: a corrupção tornou-se sistêmica
CONVIVEM BEM COM A no Brasil, mas houve também, simultane-
“ candidatos outsiders. A política tradicional
amente, a criminalização exacerbada da
REELEIÇÃO política. Com isso, proliferaram esses par-
tidos populistas, e dentro deles surgiram
não percebeu isso, pois uma parte dela
foram mais breves e aparentemente menos estava mancomunada com esse sistema
de corrupção. Então, não interessava per-
profundas. Entretanto, nós cometemos fa- ceber. Tivemos uma fatalidade no Brasil:
lhas e terminamos por aceitar distorções elegemos um presidente da República que
desse importante ambiente democrático. não participou de debates. A população
Quais teriam sido os erros que permitiram sequer o conhecia; votou no escuro, mui-
que ascendesse ao poder o projeto político to em função lamentavelmente do atenta-
autoritário que temos hoje no governo? do que sofreu. O conjunto desses fatores,
promoveu, infelizmente, uma tempestade
ST: Nós nos assemelhamos ao que acon-
teceu no mundo na segunda metade do
século passado. O liberalismo econômico “
operou com eficácia depois da segunda
guerra mundial até os anos 1990 promo-
vendo o crescimento da economia. Tive- AS INSTITUIÇÕES
mos aumento continuado da qualidade de
vida, mas de repente veio a crise. Houve DEMOCRÁTICAS ESTÃO
queda desse dinamismo econômico, perda
de investimentos na área social, além de ENFRAQUECIDAS PERANTE
diminuição dos gastos públicos naqueles
pontos capazes de resolver efetivamen- A OPINIÃO PÚBLICA E NÓS
te os problemas que afligem a população TEREMOS QUE RECONSTRUIR
brasileira. Há culpa, sim, da política tradi-
cional. Trouxeram para nós uma crise sem O BRASIL
precedentes, acima, talvez, do observado
na média de muitos países considerados “
democráticos. O Brasil teve queda de in-
vestimentos na área social, ampliação do
gasto público, e um aumento também da-
quela sensação, nos meios populares, de perfeita. O bolsonarismo vai permanecer,
“a minha vida não melhora”, e “por que independentemente de o presidente sair
tantos privilégios?”. Esquemas de corrup- vitorioso ou derrotado do pleito de ou-
ção foram desvendados. O mensalão, algo tubro. Temos que enfrentar essa situação
na ordem de R$ 160 milhões, que acabou reconsiderando a questão do fim da ree-
ficando pequeno em termos percentuais leição e o retorno à situação anterior. Eu
perto da crescente corrupção, aparente que já fui favorável à reeleição no passado,
nos escândalos posteriores. Afinal, o petro- hoje a questiono. Entra governo, sai gover-
lão atingiu a ordem de R$ 2 bilhões, con- no – e isso vale para os governos de todos
siderando apenas o que foi investigado de os matizes ideológicos –, no último ano do
repasse das empreiteiras para os partidos seu mandato o Chefe do Poder Executivo
políticos. E agora chegamos a um orçamen- faz graça com o dinheiro público, violando
to secreto por meio do qual foram pagos os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal,
JULHO 2022 REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA 15