Page 35 - Revista Política Democrática Online nº 39 - Janeiro/2022
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A PROPÓSITO DE “A MÃO DE DEUS” (2021) - LUIZ GONZAGA MARCHEZAN
“ balham com memórias sempre divertidas
Federico Fellini e Paolo Sorrentino tra-
que trazem de Rimini e Nápoles, lugares
a partir dos quais desdobram para suas
FEDERICO FELLINI E narrativas representações de hábitos e
PAOLO SORRENTINO comportamentos que lhes possibilitem
leitura da natureza do italiano, sempre
TRABALHAM COM arredia a consensos, escolhas, opções.
Os dois diretores, para isso, lidam com
personagens aparentemente vazias, que,
no entanto, contam com vozes desas-
sossegadas constantemente voltadas
MEMÓRIAS SEMPRE para valores de suas origens; assim, elas
DIVERTIDAS QUE se colocam de maneiras teatrais e osten-
tam as especulações que fazem, mesmo
TRAZEM DE RIMINI E distantes de um conhecimento seguro
sobre as coisas do mundo, e no âmbito
de citações de autoimagens dos dois di-
retores em cenas de seus fi lmes.
Em A mão de Deus (2021), a justaposi-
NÁPOLES, LUGARES ção entre costumes, hábitos, que mostram
A PARTIR DOS QUAIS a fanfarronice do napolitano, seu cálculo,
ficou por conta da figura de Maradona,
DESDOBRAM PARA que jogou no Napoli a partir de 1984 e fez
um gol com a mão pela seleção Argentina
contra a Inglaterra em 1986, algo que o na-
politano assumiu como um feito com fun-
damentos em fanfarronices suas e que res-
SUAS NARRATIVAS soaram em campo aberto para o mundo.
REPRESENTAÇÕES também em A juventude (2015), de Pa-
A personagem Maradona apareceu
DE HÁBITOS E olo Sorrentino, representado pelo ator
Roly Serrano. Maradona, como na vida
de então, fora de controle do seu corpo
e mente. Aliás, uma vez considerado o
cenário do fi lme – um hotel spa suíço,
COMPORTAMENTOS percebemos que todas as personagens
QUE LHES se encontram com seus corpos e mentes
sob o controle de fi sioterapeutas e médi-
POSSIBILITEM cos do luxuoso local.
O maestro e compositor Fred Berlinger
(Michael Caine) encontra-se em profunda
crise existencial e ao lado de sua filha, Lena
Berlinger (Rachel Weesz), também em cri-
LEITURA DA se, porque abandonada pelo marido. Mick
NATUREZA DO Bayle (Harvey Kertel), diretor de cinema e
amigo do maestro, vê-se deprimido e ava-
ITALIANO liando sua vida e obra como medíocres;
Jimmy Tree, ator de cinema, certifica-se
“ senta no cinema. O tema musical do filme,
de que precisa mudar os papéis que repre-
cantado, no final, nada menos do que por
Sumi Jo, traz exatamente o motivo central
da narrativa: a perda do controle da medi-
da pessoal para com a vida.
JANEIRO 2022 REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA 35