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REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA SÉRGIO ABRANCHES - ENTREVISTA 11
Temas quentes da atual situação e PSDB, que já chegaram a ter mais de entre o legislativo e o executivo. Será
política nacional com a formação em cem parlamentares, hoje estão na faixa um duro teste às instituições, à demo-
andamento do governo Bolsonaro, os de cinquenta para baixo. Considerando cracia. Mas acho que a Constituição
embates polarizados entre ideologias ex- os cinco maiores partidos, no período de de 1988 nos legou instituições que se
tremas vistos nestas eleições e o declínio 94 para cá, eles saíram de setenta por revelaram suficientemente robustas ao
da esquerda no Brasil - e seu novo papel cento para quarenta e um por cento das longo de vários traumas.
como uma oposição organizada -, tam- cadeiras. O PSDB e os democratas saíram
bém são alvo da reflexão sobre os desa- desse G5, e o PSL e o PSD ocuparam seu GOVERNO DE TRANSIÇÃO
fios para a democracia brasileira tratadas lugar. Não se pode afirmar que o PSD e
nesta entrevista com Sérgio Abranches. o PSL são partidos que vão prosseguir Não creio que Bolsonaro, por conta
Confira, a seguir, os principais tópicos com essa presença, mas de uma coisa das características do governo dele e
de nossa entrevista: temos certeza: por primeira vez, temos de suas caraterísticas pessoais, venha
um governo de direita, organizado com a definir um novo ciclo de coalizão.
TRANSIÇÃO a ideologia de direita claramente assumi- Acho que vai nascer um governo de
da, com agentes políticos declarados de transição, uma nova forma pelo qual
Acho que vivemos uma transição com direita, com uma pauta identificada com esse modelo vai ser operacionalizado,
traços comuns a vários outros países. o ideário de direita. nos novos próximos ciclos eleitorais.
As democracias estão deixando de re- Continuará sendo presidencialista,
presentar adequadamente parcelas im- multipartidário e de coalizão, mas com
portantes da população. Esta frustração diferenças. Bolsonaro, por exemplo já
está produzindo desencanto generaliza- “POR CONTA DAS está mudando, ele está nomeando mi-
do com a política, o que dificulta ainda CARACTERÍSTICAS DO nistérios, sem distribuir os partidos, sem
mais os ajustes exigidos pela globaliza- ter indicações partidárias. Segundo po-
ção. Daí a reação de emoções muito GOVERNO DELE E DE derosa bibliografia sobre presidencialis-
primais, como medo, insegurança, incer- SUAS CARATERÍSTICAS mo de coalizão, inaugurada por Otávio
teza. A direita tem sabido captar esses PESSOAIS, Amorim Neto, a governabilidade resulta
sentimentos com mais competência do BOLSONARO VAI dramaticamente afetada se o ministério
que a esquerda. Acontece que o medo TENTAR DEFINIR UM não for preenchido de forma proporcio-
é péssimo conselheiro para os eleitores, NOVO GOVERNO DE nal ao poder da coalizão, à distribuição
termina buscando alternativas que pare- TRANSIÇÃO, UMA de poder dos partidos no congresso. É
çam mais simples, diretas e mais violen- NOVA FORMA DE quando o presidente passa a ter gra-
tas. Campanhas como a da Marina não COALIZÃO”. ves problemas de governabilidade, e a
funcionaram porque não estavam dis- crise começa. Essa hipótese será tes-
postas a esse tipo de confronto. O gover- tada agora, de uma forma muito mais
no de direita que agora se inaugura tem radical do que no passado, quando
importância. Em primeiro lugar, porque os presidentes – uns mais, outros me-
encerra um ciclo político de quase um OPOSIÇÃO ORGÂNICA nos – distribuíram os ministérios pelas
século. Nos últimos quinze anos, desde a bancadas no congresso. O presidente
ascensão de Itamar Franco à presidência Outro aspecto importante a ser con- eleito está introduzindo outra forma de
e, logo a seguir, com o início do governo siderado é que, desde a presidência negociação. Dará preferências às ban-
de Fernando Henrique Cardoso, PSDB e Fernando Henrique Cardoso, esta será cadas temáticas – bala, bíblia, ruralistas
PT disputaram o poder, e os outros par- a primeira vez em que o governo en- – e já se podem prever problemas. Não
tidos disputavam parcelas do poder por frentará uma oposição orgânica, uma será somando bancadas temáticas que
meio de coalizões. Esse ciclo já vinha oposição forte. Lula e Dilma – ela, so- se garantirá a coalização. Será neces-
dando sinais de esgotamento. mente no primeiro mandato – também sário somar apoios partidários. Acho,
encararam forças políticas organizadas. então, que será uma transição, de cujo
PARTIDOS Em seu segundo mandato, a oposição êxito dependerá o sucesso e o insucesso
ao governo Dilma foi mais oportunista, do governo Bolsonaro.
Observando a trajetória dos partidos acompanhando a marcha do processo
entre 2006 e 2010 para cá, verifica-se do impeachment. Agora, voltará a ha- DIFICULDADES
que todos os grandes partidos encolhe- ver oposição orgânica, com o PT centra-
ram no congresso, fragmentação que al- do no PSL e no Bolsonaro. Isso muda a Outro ângulo relevante na reparti-
cançou seu auge em outubro último. PT dinâmica do jogo político, das relações ção dos ministérios é avaliá-la à luz das