Page 54 - Revista Política Democrática nº 49 - Novembro/2022
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UM REVOLUCIONÁRIO CORDIAL EM REVISTA - DANIEL COSTA
Foto: João Rodrigues/FAP
A FAP lançou em 28 de junho a Coleção Astrojildo Pereira, no Espaço
Arildo Dória, auditório da Biblioteca Salomão Malina, em Brasília
ainda discutirá o papel desempenhado por Rui URSS Itália Brasil, seu livro de estréia, foi
Barbosa no processo que culminaria na abo- lançado em 1935. Reunindo textos publicados
lição da escravidão. O prefácio da edição é entre 1929 e 1934, a obra buscava difundir o
assinado pelo professor Flávio Aguiar, e apre- ideário comunista pelo país. É dividido em três
senta, como anexo, o ensaio intitulado “Meu partes, cada uma dedicada aos países que dão
amigo Astrojildo Pereira”, escrito por Nelson título à publicação. A edição conta com prefá-
Werneck Sodré e publicado em 1990, e “As cio de Marly Vianna e apresentação de Heitor
tarefas da inteligência”, de Florestan Fernan- Ferreira Lima.
des, publicado em 1945, ainda sob o calor da Por fim, destaco a reedição da biografia es-
publicação da primeira edição do livro. crita pelo historiador Martin Cezar Feijó, O revo-
Machado de Assis, um dos trabalhos mais lucionário cordial: Astrojildo Pereira e as origens
conhecidos de Astrojildo, teve sua primeira de uma política cultural mostra as várias faces
edição em 1959. Desde então, ganhou nova de Astrojildo, do militante político ao intelectual
edição em 1990 e outra, em 2008, quando amante dos livros e da literatura. Segundo Fei-
foi comemorado o centenário do bruxo do jó, sua obra pode ser vista como uma “reflexão
Cosme Velho. Reunindo estudos publicados sobre um revolucionário que soube ser cordial
em revistas e jornais, o livro pode ser coloca- num contexto de brutalidade”.
do na prateleira dedicada às grandes obras Com a publicação das obras de Astro-
que procuraram discutir a formação da nos- jildo Pereira e da biografia escrita por Fei-
sa identidade. A riqueza está no pioneirismo jó, o público passa a ter acesso ao pensa-
de sua análise, pois, por meio da lente do mento daquele que foi “um revolucionário
intelectual comunista, Machado de Assis cordial à frente de seu tempo, tempo este
deixou de ser visto como alguém indiferente sombrio, pouco dado a cordialidades”. No
ao Brasil do século XIX, e sim um escritor momento em que a sociedade passa a ter
que realizou pertinente críticas às desigual- esperança na reconstrução da democracia,
dades e contradições da sociedade em sua pensar como e com Astrojildo pavimenta o
época. A edição traz prefácio de José Pau- caminho para a construção de uma esquer-
lo Netto e, como anexos, textos de Euclides da plural e democrática.
da Cunha, Rui Facó e Otto Maria Carpeaux,
além de Machado de Assis é nosso, é do SAIBA MAIS SOBRE O AUTOR
povo, de Astrojildo, publicado em 1938,
por ocasião dos 30 anos do falecimento de DANIEL COSTA
Machado de Assis.
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