Page 13 - Revista Política Democrática nº 49 - Novembro/2022
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EDUARDO ROCHA - DESAFIOS FISCAIS, REFORMA DO ESTADO E REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS
                    “                                         vel correlação de forças sociopolítica para cons-


                                                                Tal reforma necessita criar uma imprescindí-

                                                              truir progressivamente uma estrutura tributária
                     As desigualdades

                                                              e fiscal mais justa; redefinir em sentido demo-

                     gravíssimas persistem                    crático e progressista a natureza tributária tanto
                                                              em termos de arrecadação quanto em termos
                                                              de distribuição do bolo;  atualizar a tabela do
                     mesmo depois de 34                       imposto de renda; reduzir a multiplicidade e a
                                                              complexidade das regras; redesenhar a política

                                                              de incentivos fiscais para estimular determina-
                     anos da promulgação                      dos setores geradores de emprego e aumentar
                                                              a produtividade do trabalho e a competitivida-
                                                              de da produção; incorporar o mercado informal
                     da Constituição Cidadã                   ao mundo fiscal formal e, por fim, construir um



                                                              orçamento que possibilite o financiamento das
                     de 1988”                                 políticas públicas direcionadas à redução pro-
                                                              gressiva da terrível desigualdade social e intelec-
                                                              tual-cultural existente entre milhões de cidadãs
                                                              e cidadãos brasileiros. As desigualdades gravís-
                                                              simas persistem mesmo depois de 34 anos da
                       O novo governo recém-eleito com Luís  promulgação da Constituição Cidadã de 1988.
                     Inácio Lula da Silva, assumindo pela ter-
                     ceira vez a presidência da República, não
                     logrará sair de imediato do atoleiro fi scal,  “
                     da desnutrição dos investimentos e da de-
                     cas, bem como não conseguirá redução do  Reforma fiscal deve ser
                     sestruturação sistêmica das políticas públi-
                     seu custeio – medidas maléfi cas produzidas
                     pelo desgoverno Bolsonaro.                construída pela interação
                       Este novo governo – cuja natureza e
                     PT e seus aliados históricos – precisa reali- democrática entre
                     alianças políticas são mais amplas do que o

                     zar um pacto democrático centrado, entre
                     outras tantas agendas econômico-sociais e   governo, parlamento e
                     político-institucionais, na criação de alter-
                     nativas fi nanceiro-fi scais extensivas e inten-
                     sivas inéditas que permitam, de um lado,   sociedade civil”
                     cortar despesas supérfl uas e mantenedo-
                     ras de privilégios e, de outro, promover
                     a elevação das receitas públicas sem tirar   São desafios fiscais gigantescos a serem


                     mais um centavo de imposto do já espo-   enfrentados e nada garante que serão facil-
                     liado, cansado e insatisfeito contribuinte.  mente  superados. Fazem parte ainda  desses
                     Os grandes contribuintes, porém, têm de  desafi os o fi m de privilégios fi scais e o comba-
                     entrar na órbita contributivo-fi scal, pois  te efi ciente e efi caz da sonegação. De acordo
                     a manutenção de seus privilégios históri-  com o site www.quantocustaobrasil.com.br,
                     co-estruturais  inviabiliza  o  futuro  social  e  de 01/01/2022 a 05/12/2022, o Sonegômetro
                     mina as bases sociais da democracia.     registrava que o Brasil havia perdido em torno
                       Além de criar as condições – ainda que  de R$ 582 bilhões, de acordo com estudo rea-
                     paliativas – para cumprir as promessas  lizado pela Receita Federal, que revela quanto
                     eleitorais da eleição de 2022, é inequívoca  deixou de ser pago nos tributos PIS/Cofi ns, con-
                     a necessidade histórica para a construção  cessão de subsídios/benefícios fi scais ao setor
                     democrática de uma ampla, profunda e  privado. Essa receita é impraticável nos curtos e
                     estrutural reforma fi scal que vise promo-  médios prazos. É, com certeza, um cálculo con-
                     ver uma otimização fi scal repartida, isto é,  servador, mas o número impressiona.
                     otimização seja do lado da receita seja do   Essa reforma fiscal, que abarque as esfe-

                     lado da despesa.                         ras da União, estados e municípios, deve ser


        NOVEMBRO  2022                          REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA                                    13
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