Page 33 - Revista Política Democrática nº 47 - Setembro/2022
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O CHILE DO PÓS-PLEBISCITO - ALBERTO AGGIO
Foto: Fernando Lavoz/NurPhoto via Getty Images
População chilena rejeitou proposta de nova Constituição no início deste mês
O Chile do pós-plebiscito
Reações do governo Boric têm sido de mudanças tópicas em
seu gabinete e erráticas em muitas outras dimensões
Alberto Aggio
Historiador e professor da Unesp
assados mais de 20 dias do plebis- de entrada”, no qual cerca de 80% dos
cito de 4 de setembro, aprofun- eleitores votaram a favor da montagem
dam-se as avaliações a respeito do de uma Convenção Constitucional (au-
Psignifi cado daquela que está sendo tônoma e paritária) para a elaboração de
considerada a maior derrota eleitoral da uma “nova Constituição” para o país.
esquerda chilena, desde a retomada da A derrota da opção apruebo foi dura e
democracia, no alvorecer da década de contundente, e é necessário refl etir sobre
1990. Depois disso, nunca a esquerda ha- isso. Trata-se de uma refl exão obrigatória
via sido derrotada por mais de 25% dos especialmente para aqueles que pensam
votos, numa eleição de altíssima partici- na continuidade do governo de Gabriel
pação. Nem mesmo quando a direita chi- Boric até o fi nal do seu mandato. Vale en-
lena se impôs com Sebastian Piñera, por fatizar que nunca a esquerda chilena havia
duas vezes, já nos primeiros anos do novo sido derrotada de forma tão acachapante,
século. A discrepância é enorme se com- logo após vitórias expressivas como foram
parada à votação no chamado “plebiscito a conquista da maioria dos convencionais
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