Page 39 - Revista Política Democrática nº 46 - Agosto/2022
P. 39
KENNEDY VASCONCELOS JÚNIOR - REPRESENTATIVIDADE NEGRA NA POLÍTICA
“ entanto, fazem parte de uma lógica histó-
rica mais profunda, entranhada não só nas
percepções individuais e no funcionamento
A ÚNICA FORMA DE
das políticas públicas e das instituições.
Tudo isso, atrelado à falta de perspecti-
COMBATER O RACISMO vas e oportunidades, justifica a urgência da
necessidade de falarmos sobre representa-
ESTRUTURAL NAS tividade negra e diversidade, além da ga-
rantia de direitos fundamentais para que a
vida de nossas crianças se desenvolva de
INSTITUIÇÕES É POR forma segura, saudável e promissora, por
meio de políticas compatíveis com as ne-
cessidades de um mundo real, partindo do
MEIO DO DESPERTAR entendimento de que nossa sociedade é
múltipla e diversa. Aceitar e se aliar a essa
DA CONSCIÊNCIA DA pauta é uma oportunidade de reforçar o
nosso desenvolvimento individual como
seres humanos e como sociedade.
COMUNIDADE NEGRA duto das relações de poder, trazendo à
A “violência simbólica” é o subpro-
“ margem tudo que foge do padrão eu-
rocêntrico preestabelecido desde as
colonizações. O sociólogo francês Pier-
re Bourdieu define violência simbólica
país em concentração de negros fora do
continente africano, temos 125 deputados “
autodeclarados negros – soma de pardos e
pretos, segundo critério do Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatística (IBGE) – de É PRECISO CONFIAR
um total de 513 parlamentares na Câmara
dos Deputados, o que representa 24,36% NAS INSTITUIÇÕES E NO
da assembleia da Casa.
Mesmo que pessoas negras constituam
a maioria da população brasileira (cerca de PROCESSO ELEITORAL
56%, de acordo com dados do censo do
se grupo está muito aquém da necessária, E RESPEITAR A LUTA DE
IBGE de 2018), a representatividade des-
e isso não é um acidente. O racismo es-
trutural é fruto do caráter exploratório e MUITOS QUE SE FORAM
excludente da colonização, bem como da
desigualdade social que afeta majoritaria-
mente negros e pardos no Brasil. PARA RESPIRARMOS
Jovens negros continuam sendo as prin-
cipais vítimas da violência no Brasil, o que LIBERDADE E ESCOLHA
é facilmente constatado pelos dados do
Anuário Brasileiro de Segurança Pública de
2020. De acordo com a pesquisa, pessoas “
negras foram 76,2% das vítimas de mor-
tes violentas intencionais. No mesmo ano,
representaram 78,9% das vítimas de inter- como um conceito social elaborado, o
venções policiais. Além disso, 62,7% dos qual aborda uma forma de violência sem
policiais assassinados eram negros. coação física, causando danos morais e
Nada disso decorre de crimes direta- psicológicos, muitas vezes sutis, e que
mente caracterizados por ódio racial. No estão arraigados na estrutura social.
AGOSTO 2022 REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA 39