Page 30 - Revista Política Democrática nº 46 - Agosto/2022
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REPORTAGEM ESPECIAL
Foto: Graeme Kennedy/Shutterstock
Para evitar contaminação, a orientação é realizar limpeza de superfícies
com álcool 70%, água e sabão ou álcool em gel
“Todos viram o que aconteceu com o ele. “Não gosto do discurso ‘pare de tran-
HIV/Aids, como foi difícil lidar com isso sar com muitas pessoas’. Isso nunca fun-
para as autoridades sanitárias, para a po- cionou com o HIV e não é hoje que vai
pulação em geral e particularmente os funcionar com a monkeypox”, acrescen-
próprios afetados pelo vírus. Isso não pode tou, ressaltando que aposta na conscien-
se repetir de forma alguma”, alertou Dile- tização das pessoas.
ne. Ela é autora do livro As Pestes do sé- Em sua página de perguntas e respostas
culo 20: tuberculose e Aids no Brasil, uma sobre o vírus monkeypox, a OMS conde-
história comparada, da Editora Fiocruz. nou a estigmatização de grupos de pes-
soas que ocorre via mensagens online.
Discriminação “Vimos mensagens estigmatizando certos
Em meados dos anos 1990, a Aids ainda grupos de pessoas em torno desse surto
estava na agenda das autoridades de saú- de varíola. Queremos deixar bem claro que
de como uma doença de homossexuais. isso não está certo”, disse o texto.
Pessoas conhecidas nacionalmente, como “Em primeiro lugar, qualquer pessoa
o sociólogo Herbert José de Sousa, o Be- que tenha contato físico próximo de qual-
tinho, que era HIV-positivo por conta da quer tipo com alguém que tenha varíola
hemofilia e presidiu a Associação Brasileira está em risco, independentemente de
Interdisciplinar de Aids (Abia), contribuíram quem seja, o que faça, com quem tenha
muito na luta contra discriminação. Apenas relações sexuais ou qualquer outro fator.
em 1995, começaram a ser feitos cartazes Em segundo lugar, estigmatizar as pessoas
sobre o HIV para mulheres, por exemplo. por causa de uma doença é inaceitável. É
O infectologista Bruno Ishigami afir- provável que o estigma só piore as coisas
mou que é preciso ter cautela. “O HIV e nos impeça de acabar com esse surto o
mostrou isso para a gente de forma bem mais rápido possível”, acrescentou a OMS.
ruim, quando a gente disse lá atrás, que
era uma doença exclusiva de gays, de Vulnerabilidade
gente que era promíscua. A gente criou Segundo a historiadora da Fiocruz, uma
estigmas que existem até hoje”, lembrou forma de informar a população de forma
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