Page 46 - Revista Política Democrática nº 45 - Julho/2022
P. 46
POVOS QUILOMBOLAS NO BRASIL: INVISIBILIDADE, RESISTÊNCIA E LUTA POR DIREITOS - VERCILENE FRANCISCO DIAS
A Lei Rouanet surgiu em contraposi-
ção à débâcle que foi o governo Collor “
para a cultura. Contra o estrangulamen-
to do setor, lançou-se mão de uma lei de
mento de projetos para a área. Há regras A LEI ROUANET SURGIU
uso do imposto devido para o financia-
públicas e critérios para a seleção. A lei
vinha, ao longo do tempo, sendo deba- EM CONTRAPOSIÇÃO
tida e aperfeiçoada. Com Bolsonaro, e
suas fake news, foi tudo jogado ao mar À DÉBÂCLE QUE FOI O
e estigmatizado.
Se Zé Neto soubesse que atrairia os ho-
lofotes por seu comentário indelicado a GOVERNO COLLOR PARA
Surpreendido com a mão na cumbuca, terras, hipervalorização do dinheiro e “
respeito de Anitta, provavelmente teria fi-
atingindo outros figurões desse gênero A CULTURA
cado de boca fechada. O rebuliço acabou
musical. Que o diga Gusttavo Lima, bol-
sonarista que lota shows em feiras agro-
pecuárias, onde é comum defender Deus,
pátria e família entre uma música e outra.
fez chororô nas redes ao saber que o MP valores conservadores. Preservação am-
investigaria suas apresentações. biental, para ele, é pasto para o gado. A
O Brasil deixou há muito de ser um referência é J.R. Ewing, o magnata texa-
país essencialmente agrário. O caipira no da série “Dallas”, sucesso mundial
de hoje não é mais aquele ingênuo per- dos anos de 1980.
sonificado por Mazzaropi nos cinemas. Tudo isso trouxe à baila uma estética
O sucesso do agronegócio moldou um também nova: saem Pena Branca e Xa-
novo perfil. O cowboy norte-americano vantinho, já falecidos; adeus Milionário e
moderno é agora o ícone – self made Zé Rico, com um Brasil cantado em moda
“ mato ruim.
man com uma pistola na cintura, vastas de viola. Foram substituídos por um ser-
tanejo anódino, que cresce que nem
Mas, curiosamente, hoje existe um Bra-
sil caipira que é um contraponto às du-
plas sertanejas. Ele é consumido na tela
É MELHOR PARA
pela trilha sonora, repleta de Almir Sater,
Renato Teixeira e outros poetas do sertão.
A SAÚDE DO de TV, na novela “Pantanal”. Começa
A natureza aparece em todo seu esplen-
dor, valorizada.
BRASILEIRO ASSISTIR dim do Éden, longe disso, nem tampou-
O que vemos na telinha não é um Jar-
A UM CAPÍTULO DE co um retrato realista do país. Se tivesse
que escolher, no entanto, arriscaria dizer
que é melhor para a saúde do brasileiro
“PANTANAL” DO QUE TER assistir a um capítulo de “Pantanal” do
que ter que encarar um show do neoser-
QUE ENCARAR UM SHOW tanejo, com suas consoantes repetidas e
a hipocrisia do falso discurso moralista,
conservador.
DO NEOSERTANEJO SAIBA MAIS SOBRE O AUTOR
“ HENRIQUE BRANDÃO
46 REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA JULHO 2022