Page 42 - Revista Política Democrática nº 45 - Julho/2022
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10 ANOS DO CÓDIGO FLORESTAL: RETROCESSOS E POUCO A COMEMORAR - RAUL VALLE




                     200% superior ao do ano anterior ao da
                     aprovação da lei. Mesmo na Mata Atlânti- “
                     ca, que havia atingido o estágio de quase
                     “desmatamento zero”, este atingiu pata-
                     mares maiores do que antes da aprovação   O BALANÇO DE 10 ANOS
                     da nova lei. No Mato Grosso, capital do
                     agronegócio, o desmatamento não apenas   DA APROVAÇÃO DA LEI
                     aumentou, mas continuou ilegal: 92% do
                     desmatado até 2019 não tinha qualquer
                     tipo de autorização , embora a quase to-  NÃO É BOM
                     talidade dos imóveis rurais já esteja den-                                     “
                     tro do Cadastro Ambiental Rural – CAR. A
                     promessa vendida à sociedade à época da
                     aprovação da lei era de que, em troca das
                     muitas anistias concedidas aos produtores  em propriedades privadas e aprimoravam
                     rurais, estes iriam a partir de então parar  a forma de punir o descumprimento das
                     de desmatar e começar a restaurar os seus  regras estabelecidas. Foi após a aprovação
                     passivos remanescentes, pois ao entrar no  do Decreto Federal 6514, em 2008, que o
                     CAR seriam vigiados de perto pelos órgãos  setor resolveu dar um basta e pressionar
                     ambientais, que poderiam enviar as multas  por uma mudança na lei, que datava de
                     “pelo correio” caso verificassem qualquer  1965. Até então era simples descumprir as
                     desmatamento ilegal. Ledo engano.        regras estabelecidas. O decreto, no entan-
                       Fruto de um longo embate dentro do  to, fechou lacunas jurídicas há muito usa-
                     Congresso Nacional, o qual opôs repre-   das e tornou real a possibilidade de que
                     sentantes do agronegócio, de um lado,  a lei teria que ser cumprida. Confrontado
                     e ambientalistas, cientistas e pequenos  com essa perspectiva, o setor resolveu que
                     agricultores de outro, a lei foi a primeira  era melhor mudar a lei do que se esforçar
                      “                                       da lei não é bom. Embora a maior parte
                                                              para cumpri-la.
                                                                O  balanço  de  10  anos  da aprovação

                                                              dos imóveis rurais já estejam inscritos no
                     QUANDO A LEI FOI                         CAR – em alguns estados os números
                                                              superam os 100%, dentre outras razões
                                                              porque houve fracionamento artificial de
                     APROVADA MUITOS                          imóveis para aproveitar o máximo as be-
                                                              nesses da lei, maiores para pequenas pro-
                     ELOGIARAM SEU SUPOSTO                    priedades – é ínfima a quantia dos que
                                                              foram efetivamente analisados para sa-
                                                           “  apenas 0,1% chegaram nessa etapa e na
                     EQUILÍBRIO                               ber se há passivos e obter do proprietário
                                                              o compromisso de recuperá-los. No Pará,
                                                              maioria dos estados o número é ainda
                                                              menor. A honrosa exceção é o Espírito
                                                              Santo, que tem o mais robusto programa
                     vitória maiúscula  que a então crescente  de apoio à restauração florestal do país e
                     bancada ruralista obteve na sua guerra  mais de 70% dos imóveis já analisados .
                     contra o que, em sua visão, conforma-      Quando a lei foi aprovada muitos elo-
                     va o “eixo do mal”: as regras de prote-  giaram seu suposto equilíbrio. Por não
                     ção ao ambiente, de reconhecimento de  ter agradado nem os ambientalistas, que
                     terras indígenas e de garantia de direitos  viam com horror regras que dispensavam
                     trabalhistas. Até então, desde a rede-   a recuperação de 21 milhões de hectares
                     mocratização, o setor havia acumulado  de florestas, nem os representantes do
                     apenas “derrotas”, com a aprovação de  agronegócio, que gostariam de eliminar
                     leis ambientais mais rigorosas, que impu-  totalmente qualquer restrição legal ao des-
                     nham limites ao uso de recursos naturais  matamento, vendeu-se a ideia de que ela




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