Page 11 - Revista Política Democrática nº 44 - Junho/2022
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RODRIGO AUGUSTO PRANDO - CENÁRIO ELEITORAL E GUERRAS DE NARRATIVAS
                     “                                        ou imaginários, internos ou externos –,



                                                              interditaram  o  debate,  atacaram  (e  ata-
                                                              cam), impiedosamente, com mísseis de
                                                              fake news e torpedos de pós-verdades e,
                      TEMOS NARRATIVAS
                                                              teorias da conspiração e toda a sorte de
                      GERADAS NO ÂMBITO DAS                   ainda, com narrativas alicerçadas sobre
                                                              negacionismos. Cabe, novamente, reme-
                                                              morar  2018,  quando,  na  campanha,  os
                      REDES SOCIAIS E QUE                     candidatos à presidência montavam suas
                                                              equipes e estratégias digitais, ao passo
                      TOMAM PROPORÇÕES                        que Bolsonaro já era chamado de “mito”
                                                           “  primeiro lugar nas pesquisas, seguido
                                                              há anos.
                                                                O cenário eleitoral em tela traz a mus-
                      INIMAGINÁVEIS                           culatura política e eleitoral de Lula, em

                                                              de Bolsonaro, na segunda posição. Tais
                                                              forças espremeram as candidaturas da
                                                              tão desejada “terceira via”, os políticos
                     Trabalhadores (PT), com Lula, assumiu o  que buscam se afastar do lulopetismo e
                     topo da República. Não tardou para que,  do bolsonarismo. Lula está no centro da
                     objetivando afastar-se do antecessor, Lula  disputa eleitoral no plano nacional desde
                     “herança maldita”, na oratória lulista, a “
                     e  sua  militância  iniciassem  sua  fábrica  1989. Ele foi derrotado três vezes (Collor,
                     de narrativas. Das muitas e bem-sucedi-
                     das narrativas criadas, uma – em espe-
                     cial – chama a atenção: a de que FHC e
                     os tucanos haviam legado, ao país, uma
                     “herança maldita”. Conjuga-se à tese da

                     frase “nunca antes na história deste país”   BOLSONARO AGUDIZOU
                     com a qual costumava afirmar que era,     A POLARIZAÇÃO, NÃO
                     praticamente, o inaugurador, a força fun-
                     dacional, de um novo país em detrimento   MAIS NA DIREÇÃO DE UM
                     dos governos tucanos neoliberais e insen-
                     mo, com força, a retórica do “nós” con- PARTIDO OU ADVERSÁRIO,
                     síveis aos pobres. Ali, surgia, no lulopetis-
                     tra “eles”. No que tange à comunicação
                     política e a força destas narrativas, pode-  MAS EM RELAÇÃO A “TUDO
                     -se  rememorar  que  os  então  candidatos
                     do PSDB, José Serra e Geraldo Alckmin,    O QUE ESTÁ AÍ”
                     nas disputas com os petistas, se deixaram
                     guiar pelo adversário e esconderam FHC                                         “
                     de suas campanhas.
                       A polarização PT x PSDB deu a tônica
                     da política no plano nacional até 2018,   FHC e FHC), vitorioso duas vezes (contra
                     ano em que, numa eleição disruptiva,     Serra e Alckmin), fez a sucessora, Dilma
                     Jair Bolsonaro, deputado do baixo clero e   Rousseff, duas vezes, e, em 2018, teve
                     inexpressivo em seus mandatos, ganhou    força, mesmo preso, de lançar Fernando
                     a eleição. Bolsonaro agudizou a polariza-  Haddad, que foi derrotado no segundo
                     ção, não mais na direção de um partido   turno por Bolsonaro. O atual presidente
                     ou adversário, mas em relação a “tudo o   conta com cerca de 30% de intenções
                     que está aí”. Bolsonaro e seus bolsona-  de voto, segundo pesquisa Datafolha di-
                     ristas teciam novas narrativas e, na cam-  vulgada em 26/5/22 e, na mesma sonda-
                     panha e no governo, assumiram um pre-    gem, Lula tem 54%, nas respostas esti-
                     sidencialismo de confrontação. Tornaram   muladas e apenas com os votos válidos.
                     os adversários inimigos – inimigos reais   Bolsonaro teve atuação assaz criticada




       JUNHO  2022                              REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA                                    11
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