Page 19 - Revista Política Democrática Online nº 41 - Março/2022
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ENS RICU
                                                                   DRA. MARGARETH DALCOLMO - ENTREVISTA ESPECIAL
                                                                                     PERO -
                                                                             B
                                                                                                    T
                                                                                           ENTREVIS
                                                                           RU
                                                                                                     A ES
                                                                                                        PECIAL
                     não deverá ser capaz de causar casos gra-  Hoje até as elites mais avançadas do país
                     ves como nós temos visto com a variante  reconhecem isso. E  cada vez que recebo
                     ômicron e suas subvariantes, a BA.2, que  uma foto de um empresário – com quem
                     hoje não é predominante, mas ela se dis-  discuti a  compra  privada de vacina,  em
                     semina com muita facilidade no mundo  uma iniciativa espetacular conduzida pela
                     todo, inclusive, no Brasil.              Luiza Trajano – sendo vacinado com uma
                       Ainda temos um número de mortes mui-   plaquinha de  Viva o SUS!,  me comove
                     to alto. Quem está internado e quem está  muito. Isso  revela  que o SUS mostrou a
                     morrendo? São pessoas não vacinadas ou  todo mundo que ele é universal, de que ele
                     pessoas de mais idade, portadoras de uma  deve ser equânime, e que ele era a grande
                     condição que as fragilize muito e que, por-  arma para fazer face à epidemia.  
                     tanto, as expõe a uma determinada compli-  O segundo aspecto positivo foi que
                     cação clínica. Então, como vejo isso? Entran-  nós, pesquisadores,  saímos de  nossos
                     do no terceiro ano pandêmico, precisamos  casulos, quer dizer,  de  nossos laborató-
                     vacinar de maneira mais equânime o mundo  rios, de nossos pontos de pesquisa, nos-
                     todo.  Não  adianta  completar 90% da  po-  sos  hospitais,  e  viemos  a  público  e  nos
                     pulação brasileira. Sabemos que estamos  expusemos. Nunca houve participação
                     falando de uma doença de transmissão res-  tão maciça, permanente de vários mé-
                     piratória e, portanto, os cuidados ditos não  dicos, cientistas com a população. Sinto
                     farmacológicos  são imprescindíveis. Consi-  um reconhecimento de muita gente nas
                     dero uma temeridade, uma perda de tempo  ruas, em aeroportos, supermercados,
                     a discussão em curso no Rio de Janeiro so-  retribuindo essa demonstração de con-
                     bre o uso de máscara. Já me recusei, inclu-  fiança. Jamais  recebi hostilidade. Parece
                     sive, a dar entrevistas a esse respeito. Preci-  que fizemos a coisa certa, nos desencas-
                     saremos usar máscara durante muito tempo  telamos dos nossos consultórios e nos
                     estamos falando de uma doença altamente “
                     ainda. Basta responder à seguinte pergun-
                                                              expusemos ao  público.  Levamos  muita
                     ta: quem de vocês, hoje, ou daqui a um mês,
                     embarca em um avião para um voo interna-
                     cional, transoceânico, sem máscara, saben-
                     do que, mesmo que os aviões tenham me-
                     lhorado a condição de aeração e filtragem,

                     contagiosa e de transmissão respiratória?   COMO SE TRATA DE UMA
                     Não tem sentido, os cuidados não farmaco-  DOENÇA VIRAL, AGUDA, DE
                     lógicos em ambiente fechado, como o uso
                     de máscara, a meu juízo, deverão ser man- TRANSMISSÃO RESPIRATÓRIA,
                     tidos ainda no ano de 2022. Ao ar livre, é
                     outra coisa, não tenho dúvida, pode-se ficar  SABÍAMOS, DE SAÍDA, QUE A

                     sem máscara 
                                                               GRANDE SOLUÇÃO PARA ESSA
                       RPD: Está-se pensando em transferir
                     às pessoas a responsabilidade pelo uso  NATUREZA DE DOENÇA SERIAM
                     ou não de máscaras, quando a respon-      AS VACINAS
                     sabilidade tem de ser das autoridades
                     sanitárias por se tratar de uma ques-                                          “
                     tão de saúde pública. Essa inversão de
                     responsabilidade  praticamente atribui
                     ao  doente a opção de ficar doente. O  pancada também,  mas guardamos  uma
                     que pensa sobre isso?                    coerência e uma tranquilidade quanto ao
                       MD:  Tenho dito e vou aqui reiterar:  que sabemos fazer, que é cuidar de pes-
                     um dos produtos positivos dessa tragédia  soas, estudar, publicar, fazer estudos de
                     que  se  abateu  sobre nós, foi, primeiro,  boa qualidade e, sobretudo, não cair na
                     o reconhecimento óbvio de que a grande  simplificação dicotômica do certo ou er-
                     arma  contra a pandemia é o SUS, como  rado, abrindo sempre espaço para certo
                     declarei lá trás, em 13 de março de 2020.  relativismo quando couber. 




       MARÇO  2022                              REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA                                    19
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