Page 17 - Revista Política Democrática Online nº 41 - Março/2022
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DRA. MARGARETH DALCOLMO - ENTREVISTA ESPECIAL




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                     cabe aqui declinar, era a vacinação. Essa,  pria plataforma da AstraZeneca/Oxford,
                     evidentemente, é uma situação que pode  que hoje está nacionalizada completa-
                     se repetir a qualquer momento e que, pro-  mente pela Fiocruz, garantindo autonomia
                     vavelmente, não será a última epidemia de  completa ao Brasil nesse sentido. Foi, sem
                     nossas vidas. Não teremos grandes tréguas  dúvida, feito inédito, extraordinário, na his-
                     da maneira como o homem tem pilhado e  tória da medicina. Sem burlar etapa algu-
                     tratado mal o planeta.                   ma, ética ou metodológica, pesquisadores
                       Como se trata de uma doença viral, agu-  lograram colocar – testadas e validadas e,
                     da, de transmissão respiratória, sabíamos, de  sobretudo, regulamentadas pelas agências
                     saída, que a grande solução para essa natu-  regulatórias – vacinas plausíveis e possíveis
                     reza de doença seriam as vacinas. Sabíamos,  de protegerem nossa população. A despeito
                     também, que não haveria tratamento fácil  dos mais céticos, o impacto das vacinas foi
                     para uma doença desta natureza, ao con-  inquestionável. Mesmo diante de novas
                     trário das viroses de natureza crônica, como,  variantes, as vacinas deram proteção, pelo
                     por exemplo, a AIDS, que está entre nós há  menos  em  uma  redução  substancial  do
                     40 anos, para a qual não há vacina até hoje.  número de mortes e de casos graves pela
                     Para essas doenças crônicas, como a AIDS,  doença. Os dados são tão, digamos, exu-
                     a hepatite C, que também são virais, mas  berantes, falam por si mesmos.  
                     não são agudas, há tratamentos. É provável,
                     portanto, que, hoje, será possível erradicar   RPD: Os otimistas dizem que estamos
                     a hepatite C do mundo com os tratamen-   em uma fase de domesticação da doen-
                     tos disponíveis, desde que se garanta acesso  ça e que, em breve, teremos aprendido
                     igualitário para todos. Hoje, o acesso ainda  a conviver com ela. Já os pessimistas de-
                     é razoavelmente elitizado.               fendem que, enquanto a vacinação não
                       Tal como esperado,  mais de 100 gru-   chegar perto da universalidade, sempre
                     pos de pesquisadores no mundo inteiro se  correremos risco de que novas variantes
                     dedicaram a buscar essa solução. Viraram  surjam. É possível voltarmos a uma nor-
                     dia e noite tentando resgatar modelos de  malidade qualquer? E que normalidade
                     vacinas que já haviam  sido  utilizados, ou  seria essa? Quais os critérios sanitários,

                     plataformas, como chamamos, em doen-     políticos e éticos nos permitiriam definir
                     ças anteriores, como, por exemplo, den-  o que seria uma situação normal após
                     gue, no ebola, no Chikungunya, e que não  uma pandemia como essa? Por exem-
                     haviam funcionado, como algumas vacinas  plo, 700 óbitos diários podem ser consi-
                     de vetor viral, por exemplo, como é a pró-  derados normais?  




       MARÇO  2022                              REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA                                    17
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