Page 10 - Revista Política Democrática Online nº 41 - Março/2022
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PAULO FÁBIO DANTAS NETO - OPOSIÇÃO SEM RUMO NUMA CONJUNTURA NOVA
“ bolsonarismo recuará é ver ali uma razão ra-
zoável que lhe é estranha. Se seu êxito não é
provável, os estragos que pode causar à demo-
cracia o são.
Nova conjuntura se forma com as mais
CAMPO IDEOLÓGICO
propensão magna do bolsonarismo, é pro-
GOVERNISTA NÃO DEVE recentes pesquisas. Pescar em águas turvas,
babilidade muito grande, porém, agora mais
perigosa, em face da situação desenhada de
SER SUBESTIMADO que poderá ter apoio bastante para chegar
virtualmente competitivo ao segundo turno.
Outra coisa seria sua derrota no primeiro tur-
NO ATRIBUTO DE no, ou chegada ao segundo em posição de
fragilidade explícita. O teor máximo de perigo
RACIOCINAR. NO para instituições será a combinação incandes-
cente da percepção pública de que Bolsonaro
PALÁCIO NEM SÓ O pode se reeleger com a convicção palaciana
de que isso não ocorrerá. Será intuitivo fazer
a percepção pública polarizada acirrar os âni-
CENTRÃO RACIOCINA, mos para que o segundo turno seja o palco
ideal de encenação de um script golpista.
AINDA QUE, COM SUA oposição democrática tirar atitudes proteto-
Se essa suposição faz sentido é hora de a
RAZÃO PRAGMÁTICA, ras da democracia do armário onde dormem
desde setembro do ano passado. Seis meses
após o fracasso daquele golpe, as instituições
GOVERNE MAIS QUE podem estar vigilantes para a possibilidade de
“ ser outra. A fera já não sangra tanto e pode
a fera ferida tentar, no desespero, virar a mesa
TODOS no período pré-eleitoral, antes de um fracasso
no primeiro turno. Mas a conversa começa a
atacar na hora da decisão. A situação pede
mais que a presença de guardiães institucio-
nais regulares e neutros. Pede compromisso
evidências. Os russos também. O que farão? unitário prático de atores políticos (partidos e
O campo ideológico governista não deve ser candidatos) envolvidos diretamente na eleição.
subestimado no atributo de raciocinar. No palá- Ainda não se enxergam respostas das opo-
cio nem só o centrão raciocina, ainda que, com sições a essa nova conjuntura imediata, nem
sua razão pragmática, governe mais que todos. sinais de ação conjunta. O quadro pré-eleito-
Mas não cabem ilusões de que no duro núcleo ral parece reafirmar o nome de Lula como o
do capitão se pratique uma razão do tipo razoá- que tem mais chance de evitar a reeleição do
vel, que aceite a derrota sem apelar à subversão presidente, mas também o fato dele não atrair
das regras do jogo ou, no limite, tentar acabar forças de centro e centro-direita para antecipar
com ele. Sua razão calculista é cheia de razão. a decisão no primeiro turno. Evidência disso é
Sendo tosca, tem apetite destrutivo. A hipótese a persistência de monótonas articulações en-
de ela ver as urnas como via principal tem fei- tre partidos daquele campo prometendo ter
tio de plano B. O golpismo é a língua falada por candidatura única. Se for para valer, pode ate-
uma força social que já tem vida fora do palácio. nuar sobressaltos em relação ao crescimento
A eleição poderá virar seu plano A se hou- de Bolsonaro. Se não for, o enterro definitivo
ver milagre na economia ou suicídio da opo- da ideia de uma terceira via agregadora porá a
sição. Sem isso, setores resilientes do palácio, nu a grande distância a que Lula está de ser o
sem perderem a noção da aritmética, calcula- herdeiro indisputado desse espólio.
rão a iminência da derrota, agirão de acordo O PT não tem ajudado na suposta “ida
com sua razão tosca e nenhum centrão os de- ao centro”. Se depender do que tem dito e
terá. Chances de êxito da insensatez são bem feito, Alckmin será azeitona conservado-
duvidosas, mas supor que por saber disso o ra numa empada esquerdista e populista. É
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