Page 44 - Revista Política Democrática Online nº 39 - Janeiro/2022
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ANDRÉ AMADO - UMA VISÃO CRIATIVA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
superar a atitude no mínimo dúbia da popu-
lação britânica em relação a Hitler. Mesmo “
diante da possibilidade de eventual invasão
da ilha, nem todos se opunham à emergên-
cia da Alemanha nazista. Uns alegavam que SEGUNDO LUKACS,
o Tratado de Versailles (1919) lhe tinha sido
claramente desfavorável. Outros, da elite OS CONFLITOS NÃO
conservadora, consideravam um armistício
com Berlim como um mal menor, em com-
paração a um ataque devastador da máquina OPUSERAM DIREITA
de guerra nazista. Outros, ainda, simpatiza-
vam com os governos de perfil autoritário À ESQUERDA;
que vinham despontando na Europa, como
uma espécie de barreira ao possível avanço
do comunismo. OPUSERAM
Correntes de pensamento conserva-
dor e reacionário também exerciam forte DUAS DIREITAS.
influência dentro e fora do país, dificul-
tando posturas frontais a Hitler. Winston A ESQUERDA
Churchill seria em poucos meses após o
início da guerra um líder inconteste, mas,
naqueles idos de maio de 1940, sua lide- CARECIA DE FORÇA
rança ainda gerava desconfiança. Joseph
Kennedy, embaixador dos Estados Uni- NA EUROPA. O
dos em Londres, por exemplo, detesta-
va Churchill, não acreditava que o Reino
Unido pudesse resistir à investida alemã, COMUNISMO NÃO
e era anti-semita. Seus relatórios a Roose-
velt não ajudaram o presidente a superar ATRAÍA AS MASSAS,
as resistências que ele mesmo nutria ao
Primeiro-Ministro britânico.
Chamberlain, cujo pai declarara, em FORA DA UNIÃO
1890, que o mundo devesse ser governa-
do pelas nações teutônicas, Reino Unido, SOVIÉTICA
América e Alemanha, compartia do anti-se-
mitismo de Kennedy e da dúvida quanto à “
capacidade de enfrentamento britânico à
Alemanha hitlerista. Lord Halifax era mili-
tante ativo no Gabinete de Guerra contra Lukacs se supera fazendo-se apoiar em
as posições de Churchill, que qualificava de referências a livros, diários, anotações de
extremadas. Tinha de haver uma alternati- conversas sigilosas, minutas de reuniões
va à hipótese de guerra com a Alemanha, do Gabinete de Guerra, telegramas mais
como, por exemplo, um acordo de paz ten- do que reservados entre as chancelarias e
do como contrapartida a garantia de Berlim seus embaixadores, enfim todo o arsenal
à autonomia do Império britânico. de informações de fontes primárias e, na
Churchill de fato não admitia hipóte- maioria dos casos, inéditas. O rigor e a
se alguma de flexibilização a possíveis amplitude das pesquisas assim conduzi-
propostas de paz com os alemães. Já lhe das conferem autoridade e confiabilidade
chegara aos ouvidos, por exemplo, que às análises e conclusões de Lukacs, den-
Roosevelt começava a acalentar a ideia tre as quais destco duas.
de que, em caso de invasão da Ilha pelos A primeira é o pragmatismo e a visão
alemães, o Reino Unido deveria deslocar de conjunto do Primeiro-Ministro britâni-
sua Armada para o Canadá e a família co. O Reino Unido sozinho não consegui-
real para as Bermudas. Para Churchill, so- ria derrotar a Alemanha de Hitler. Isto é, o
mente a vitória incondicional lhe servia. apoio militar e logístico dos Estados Uni-
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