Page 16 - Revista Política Democrática Online nº 39 - Janeiro/2022
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BAZILEU MARGARIDO - ENTREVISTA ESPECIAL
Na prática, no entanto, presenciou-se o
desmantelamento orquestrado da política
ambiental, das instituições, como o Ibama “
e o Instituto Chico Mendes, de toda a es-
trutura, enfi m, de fi scalização dos crimes
ambientais, particularmente do desmata- NO PRIMEIRO ANO DE
mento na Amazônia, através do PPCDAm,
programa de proteção e controle do des- GOVERNO, REGISTROU-SE
matamento na Amazônia. A operação foi AUMENTO DE QUASE 35% NO
tão paulatina como inclemente. Vários
chefes de fi scalização do Ibama perderem CORTE DA MADEIRA. NO ANO
seus cargos por terem exercido com com-
petência o combate ao garimpo ilegal em SEGUINTE, QUASE 10% A MAIS.
Terras Indígenas no sul do Pará. No tocan-
te ao setor madeireiro, os efeitos foram EM MEADOS DE 2020, A ÁREA
ainda mais impactantes. Estima-se que te-
nhamos retroagido cerca de dez anos na DESMATADA SUPERARIA OS 11
área desmatada na Amazônia. No primeiro
ano de governo, registrou-se aumento de MIL QUILÔMETROS QUADRADOS,
quase 35% no corte da madeira. No ano
seguinte, quase 10% a mais. Em meados ILUSTRAÇÃO FUNESTA DO ÍNDICE
de 2020, a área desmatada superaria os 11
mil quilômetros quadrados, ilustração fu- DE UMA DÉCADA ATRÁS
nesta do índice de uma década atrás. Até “
2012, quando tivemos uma queda contí-
nua do desmatamento na Amazônia, a
gente tinha chegado a pouco mais de 4 mil
e 500 quilômetros quadrados. Mais do que
dobrou com relação aos menores índices não dar satisfações ao mundo com re-
que nós já tivemos no país. lação aos seus atos no plano do meio
Isso teve obviamente refl exos em vários ambiente. Foi, assim, constrangido a au-
cenários. O Brasil, por exemplo, chegou à torizar a assinatura de dois importantes
COP26, a convenção de mudanças climá- documentos, um relativo à redução da
ticas, em uma situação de extremo isola- emissão de gás metano, outro com rela-
mento com relação ao meio ambiente. Já ção à preservação das florestas. Ele não
tínhamos percebido isso um pouquinho pôde reafirmar sua atitude negacionis-
antes, quando da reunião do G20, com a ta nem reproduzir cenas já conhecidas,
presença dos principais de chefes de Esta- como transferir a culpa pelo desmata-
do do mundo. No coquetel de abertura da mento na Amazônia à atuação da popu-
reunião, o isolamento do Bolsonaro paten- lação indígena. Claramente não houve
teou-se quando, depois de transitar como mais espaço para isso.
um fantasma entre os demais célebres Mas tenho a impressão de que foi
convidados, terminou conversando com o apenas um episódio. Logo após o encer-
garçom, tal como constrangedoramente ramento da COP26, o mundo recebeu as
registrado pelas câmeras de televisão. imagens impactantes do garimpo ilegal
É, sem dúvida, um refl exo do negacio- praticamente fechando o Rio Madeira
nismo do presidente, de sua tendência com cerca de 200 barcos enfileirados.
de se aproximar no plano internacional As cenas transmitiam a desativação de
de forças de extrema-direita e sua política toda a capacidade do país de combater
ambiental. Pode ser que a COP26 se tenha os crimes ambientais e de implementar
prestado como um primeiro momento em uma agenda ambiental proativa, agenda
que Bolsonaro percebeu de maneira cla- que tem de contemplar, também, ações
ra a pressão internacional, no sentido de voltadas para o desenvolvimento susten-
que o país não tem liberdade de fazer a tável, particularmente – mas não apenas
bobagem que quiser ou simplesmente – no Norte do país.
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