Page 18 - Revista Política Democrática Online nº 39 - Janeiro/2022
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BAZILEU MARGARIDO - ENTREVISTA ESPECIAL
A terceira agenda, em que a sociedade vem RPD: Belo Monte foi uma agressão?
atuando de maneira importante, tem iniciati- Ou foi uma necessidade? Deve ser
vas muito importantes: é a área do desenvolvi- mantida? É um modelo de futuro? É
mento sustentável. Não adianta apenas fisca- uma vergonha do passado?
lizar, coibir, usar os mecanismos de comando
e controle. É necessário também propor uma BM: Belo Monte é um projeto equivocado
agenda de como é possível fazer, o que é pos- do ponto de vista ambiental e do ponto de vis-
sível, como aproveitar aquela riqueza, aquela ta econômico. É uma hidrelétrica implantada
biodiversidade enorme da Amazônia em prol em regiões ainda preservadas na bacia do Xin-
do desenvolvimento, em prol da melhoria da gu e que atinge áreas e populações indígenas.
qualidade de vida. Mas também, do ponto de vista econômico,
Acho que é uma grande agenda. Temos Belo Monte é uma hidrelétrica de baixíssima
experiências importantes nessa área, na área eficiência. São mais de 11 gigawatts instalados
de bioeconomia. As pesquisas e os projetos para gerar uma potência média de 4,5 — se
da sociedade em torno de iniciativas de apro- não me engano. É uma das hidrelétricas me-
veitamento da biodiversidade da Amazônia nos eficientes que temos. A montagem do
estão ganhando cada vez mais espaço na mí- consórcio para construção de Belo Monte foi
dia, na academia e na sociedade civil. Eu acho uma iniciativa majoritariamente estatal. A mo-
que é uma agenda de importante atuação da delagem econômica, no seu início — depois o
sociedade. Carlos Nobre tem trabalhos im- BNDES conseguiu passar algumas ações para a
portantíssimos, riquíssimos nessa área. Tem frente —, era majoritariamente estatal porque
muito trabalho no Instituto Escolhas. Tem as empresas privadas não viam em Belo Mon-
muitos trabalhos na área do desenvolvimen- te um bom negócio. Um custo altíssimo, uma
to sustentável. Acho que é um espaço impor- hidrelétrica que custou mais de 30 bilhões de
“ agenda das hidrelétricas. A Amazônia é uma
tante de atuação da sociedade civil.
reais, e uma eficiência muito baixa.
Temos um problema de difícil solução nessa
grande planície. Há poucas áreas de declive.
Qualquer barragem inundará uma área enor-
NA PRÁTICA, NO ENTANTO,
Monte, esse impacto foi bastante reduzido
PRESENCIOU-SE O me, e isso impacta o meio ambiente. Em Belo
pelo uso de turbinas a fio d´água, que apro-
DESMANTELAMENTO veitam mais a vazão do rio do que a altura
da barragem. Mas isso fez com que a usina
ORQUESTRADO DA POLÍTICA tivesse um lago proporcionalmente pequeno
em relação ao projeto original e uma capacida-
AMBIENTAL, DAS INSTITUIÇÕES, de de acumulação baixa. Gera, assim, energia
quando o rio tem alta vazão, isto é, no período
COMO O IBAMA E O INSTITUTO de inverno amazônico, de dezembro a março.
No período de seca há uma forte redução da
CHICO MENDES, DE TODA energia gerada. Essa situação se aplica a to-
das as hidrelétricas que se planejam construir
A ESTRUTURA, ENFIM, DE na Amazônia. A topografia da região exigirá
grandes lagos de contenção, porque a água
FISCALIZAÇÃO DOS CRIMES represada se espalha na planície, cobrindo
uma área que inviabiliza o projeto. E a tecnolo-
AMBIENTAIS gia disponível que permite a redução do lado,
“ xa eficiência, porque produz apenas em um
aproveitando a força da vazão, ainda é de bai-
período do ano, durante o período de vazante
a produção da hidrelétrica é baixíssima.
Temos, no entanto, outras opções de gera-
ção de energia no País, a eólica e a solar, que
são as tecnologias que mais crescem no mun-
do nos últimos cinco anos.
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