Page 20 - Revista Política Democrática nº 48 - Outubro/2022

ENTREVISTA ESPECIAL - ROBERTO FREIRE

mos construir uma federação ampliada, da
qual ela seja a presidente, passando a ter “
um papel político importante na sociedade
brasileira. Uma federação ampliada com o O BOLSONARISMO
MDB, com todos os eventuais problemas,
poderíamos, sim, chamar de ‘frente demo- PERMANECERÁ,
crática brasileira’, que não é ampla como a
uruguaia, que foi feita a partir das esquer- INDEPENDENTE DO
minhar isso. Vamos ter alguns bolsonaristas RESULTADO DAS URNAS
das. Porém, nós podemos e devemos enca-
mas isso a gente terá que trabalhar para NESTE SEGUNDO TURNO
que vão querer fazer uma oposição maior,

segurar. É mais fácil segurar quem quer fa-
zer oposição do que quem adere. Nós, do movimentação que houve no pensamen-“
Cidadania, podemos, com o governo Lula,
manter a independência e ao mesmo tem-
po construir uma possibilidade, pois não va-
mos construir uma alternativa democrática to de esquerda, que é hoje o sustentácu-
à direita. O campo da direita durante algum lo da União Europeia. Outro exemplo é a
tempo vai ser hegemonizado pela parte esquerda norte-americana, que consegue
mais extremada. entender que para derrotar Donald Trump
era melhor colocar Joe Biden do que Bernie
PD: Você acha que isso acontecerá mes- Sanders. Essa esquerda que é democrática
mo com a vitória do ex-presidente Lula? no mundo e entende a globalização, essa
nova economia, as mudanças nas relações
RF: Com certeza. O bolsonarismo per- de trabalho e a evolução da própria socie-
manecerá, independente do resultado das dade.
urnas neste segundo turno. É ótimo que A tendência do mundo, quando se fala
estamos aqui com pessoas que têm a visão de reforma trabalhista, é de querer regula-
da esquerda que quer ser contemporânea mentar esse novo que está surgindo e não
desse mundo que está aí, uma esquerda modificar o do passado. O próximo gover-
moderna. Ao contrário da esquerda dog- no vai ter que lidar com um mundo que
mática, que pensa que é ainda revolucio- já não corresponde mais à mentalidade
nária dos tempos do capitalismo indus- metalúrgica de Lula, daqueles que falam
trial, bolchevique ou quer outros tipos de de classe operária enchendo a boca como
revoluções. E a América Latina tem muito a gente enchia, imaginando que o mundo
disso. A América Latina é refratária a toda era da classe operária no futuro. Era uma
marcha que nós devíamos fazer na histó-
“ derrotado, houve a superação desta reali-
ria. Não conseguem entender que não foi

dade, desta sociedade. E isso vai gerar cri-
se lá dentro. Estou imaginando que esta
O CAMPO DA DIREITA
força, o crescimento desta terceira via, é o
DURANTE ALGUM TEMPO avanço de uma visão que envolva também
pensamentos – vamos chamar de social-
-democrata, centro-esquerda, o referencial
VAI SER HEGEMONIZADO que teremos para o futuro de uma esquer-
da democrática. A Europa democrática en-
PELA PARTE MAIS tende que deve se posicionar contra Putin
“ ro a Putin. O eventual novo governo Lula
em defesa da soberania da Ucrânia. Isso é
EXTREMADA um pouco essa visão progressista, e não da
visão que aproxima Lula, também Bolsona-

vai ter essa contradição muito maior do
que teve, por exemplo, em 2003, no início

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