Page 46 - Revista Política Democrática nº 46 - Agosto/2022
P. 46

ELVIS ETERNO - LILIA LUSTOSA
                       Composto por uma montagem sofistica- “


                     Tennessee. O narrador é o tal Coronel, per-
                     sonagem fundamental na vida de Elvis, mas
                     nem sempre retratado com o devido desta-
                     que em obras anteriores.                 SEU ELVIS, ALÉM DE SER

                     da, Elvis tem as primeiras sequências carrega-
                     das de split screens que mergulham o público   UMA ÓTIMA DISTRAÇÃO,
                     nos anos 1960, época de proliferação dessa
                     cesso da carreira de Elvis. Pena que Luhrmann  É UMA PRODUÇÃO DE
                     técnica e, ao mesmo tempo, de grande su-

                     se empolga demais com as telas partidas,
                     agregando-lhes vinhetas gráficas, que dão   ALTA CATEGORIA QUE FAZ
                     um certo ar de Marvel à obra, o que poderia
                     tentado até o fim. Mas não é o que acontece.  JUS AO RETRATADO
                     vida desse artista. Um homem que soube  mesmas músicas, vendo os mesmos cultos, “
                     até ser um caminho estético, desde que sus-
                       Depois de um início um tanto paroxísti-
                     co, o filme acaba por abandonar os exces-
                     sos, encontrando um tom mais equilibrado
                     que mostra, de forma caleidoscópica, a

                     desde cedo antropofagizar os cantos e as  dançando as mesmas danças!  Jovem que
                     danças dos negros, misturando-os ao pop  frequentava a Beale Street, rua em que co-
                     e ao country, criando um estilo original e  nheceu um certo B. B. King, nascido em seu
                     inusitado, causador de muita polêmica,  mesmo Mississippi natal e que acabou por
                     rendendo-lhe inclusive o apelido de “Elvis,  se tornar um parceiro de música e de vida.
                     o pélvis”. Estilo que serve até hoje de ins-  O “rei do blues” chegou a afirmar, em
                     piração para muita gente, mas que segue  2010, em uma entrevista ao San Antonio
                     suscitando  controvérsias,  sobretudo,  com  Examiner, que ele e Elvis compartilhavam a
                     relação à questão da apropriação cultural.  ideia de que a música era uma propriedade
                       Vendo  com  olhos  de  hoje,  concluímos  de todo o universo, e não uma exclusivi-
                     “                                        “em e por” as almas de todas as pessoas.
                     que Elvis se apropriou mesmo dos ritmos  dade do negro, do branco ou de qualquer
                                                              outra cor. Além de ser algo compartilhado

                                                                Seria correto afirmar, então, que  Elvis
                                                              “roubou” isso da cultura negra? Seria jus-
                     DEPOIS DE UM INÍCIO
                                                              to impedi-lo de usar ritmos e costumes que
                                                              consequentemente à militância pela inte-
                     UM TANTO PAROXÍSTICO,                    fizeram parte de sua vida e que o levaram
                                                              gração racial?
                                                                Não sou expert em  Elvis, mas o que
                     O FILME ACABA POR                        Luhrmann faz nas 2 horas e 40 minutos
                                                              que dura o filme é justamente exaltar
                                                              essa influência, dando o devido crédito a
                     ABANDONAR OS                             quem o merece.  Seu  Elvis, além de ser
                                                              uma ótima distração, é uma produção de
                     EXCESSOS                               “  alta categoria que faz jus ao retratado e
                                                              que ainda nos presenteia com um show
                                                              de  atuação  de  Butler,  fazendo-nos  até



                     ouvidos nos cultos e nas festas de seus vi-  duvidar se Elvis, de fato, morreu.
                     zinhos de Lauderdale Courts:  o gospel, o          SAIBA MAIS SOBRE A AUTORA
                     blues… Mas como poderia ser diferente
                     se foi ali que ele cresceu? Menino branco                 LILIA LUSTOSA
                     no meio de crianças negras,  ouvindo as




       46                                       REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA                         AGOSTO  2022
   41   42   43   44   45   46   47   48   49   50