Em relação a subordinados os presidentes dos Estados Unidos e Brasil se parecem muito
Jair Bolsonaro e Donald Trump são muito parecidos em deixar claro que é bem reduzido o espaço para homem forte muito perto de político que faz o papel de homem forte. Mas as aparências enganam.
Donald Trump demitiu seu assessor de Segurança Nacional, John Bolton, o terceiro em três anos, por divergências em relação à maneira como Trump passou a conduzir duas crises internacionais, a do Irã e a da Coreia do Norte, para as quais Bolton receitava dureza máxima e mesmo o emprego de força militar.
Trump passou a agir (no caso de Irã e Coreia do Norte) em contraste com a visão linha-dura que Bolton propunha – e, no caso da Venezuela, achou que Bolton o iludiu ao dizer que o ditador Maduro cairia facilmente.
Pelo jeito, Bolton esqueceu-se de que o político que segue o figurino de homem forte no poder gosta sobretudo de ouvir o que quer, como quer e quando quer. E que só o político eleito como homem forte é o dono de todas as verdades, especialmente eleitorais.
Bolsonaro já se despediu de dois homens fortes ao seu redor: os ex-ministros Gustavo Bebianno e general Santos Cruz. Aos quais vozes nas quais Bolsonaro confia (como seus filhos) atribuíam coisas ditas que Bolsonaro não gostou.
É bem mais complexa a relação com dois outros homens fortes de seu governo, os ministros da Economia e da Justiça. A cada um Bolsonaro confiou parte relevante de seus projetos: consertar uma economia que ainda não saiu de profunda recessão e combater crime e corrupção.
Confiou é modo de dizer. Paulo Guedes já teve de apagar pequenos incêndios, como o do presidente na Petrobrás para não aumentar preço de combustíveis ou no Banco do Brasil para baixar juros. Minúcias, comparado ao que vem: já que não parece possível cortar despesas (por questões intrincadas de política, coisa que Bolsonaro não aprecia muito), ao liberal Guedes não vai sobrar outra coisa senão tacar um novo imposto.
Sérgio Moro e o tratamento que Bolsonaro na prática lhe dispensou se configuram até aqui como único fator a provocar estragos na imagem do presidente entre seus próprios seguidores. Moro é o principal símbolo da luta anticorrupção, problema que imensa maioria da população identifica (erroneamente ou não, nem importa) como o maior do País. Sejam quais forem os motivos – pessoais, políticos ou os dois misturados – Bolsonaro deixou claro que não vai viver à sombra de Moro, e sim o contrário.
Mesmo os generais, normalmente identificados com “força”, foram atacados por gente que Bolsonaro admira e decidiram recolher-se em público a um prudente jogo de espera. É o reconhecimento tácito de que os verdadeiros homens fortes de Bolsonaro são três: seus filhos. Com total licença para falar.
Em relação a eles, não há medida que o presidente poupe para proteger ou incentivar, mesmo que isso implique utilizar considerável capital político em negociações que ele sempre disse abominar – como as que se tornaram necessárias no Senado para aprovar a nomeação de um filho como embaixador em Washington, por exemplo.
Mesmo a nomeação do novo PGR deixou em círculos jurídicos a impressão de que algum cálculo protetivo a um dos filhos esteve em jogo (embora não apenas) – enquanto a aberta interferência em órgãos de investigação sugere atender dois objetivos: resguardar o círculo pessoal e dar um sinal ao homem forte Moro sobre quem, na verdade, detém o poder de mando.
Mas o jogo político do homem forte Bolsonaro é infinitamente mais delicado do que o do homem forte Trump, por isso as semelhanças entre os fortões em Brasília e Washington enganam. O demitido John Bolton consegue no máximo criticar o “fracoide” Trump em programas de televisão. Talvez lhe tire alguns votos nas eleições do ano que vem.
Guedes, Moro e os generais são de enorme relevância pela natureza das tarefas que detêm. Bolsonaro talvez resista à tentação de copiar Trump e achar que pode perfeitamente viver sem nenhum deles.