Novo caso Queiroz leva mais gente do PSL a sugerir que há podres no governismo
Desde que começou o furdunço no PSL, bolsonaristas engrossam a lista de denúncias contra o bolsonarismo. É constrangedor dizer tal obviedade. O assunto é do conhecimento de qualquer leitor de jornais, mas as elites fazem cara de paisagem diante do monte crescente de bodes mortos na sala.
Sendo sarcástica, a gente pode dizer que se trata de um tipo novo do crime de ocultação de cadáver. Em vez de desaparecer com o morto, as pessoas ensaiam uma cegueira quando veem a carcaça do bicho.
Vão desver também o novo caso Queiroz? Fabrício Queiroz foi flagrado a discutir nomeações no Congresso e os meios de ganhar “20 continho aí” com essa mumunha, como revelou o jornal O Globo.
Por enquanto, não é possível saber se Queiroz era só garganta ou se de fato traficava influência. Mas tem gente com conhecimento de causa. Ao saber da história dos “20 continho”, o deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO) aproveitou a oportunidade para cumprir um tico da sua promessa de “implodir” Bolsonaro.
Waldir era líder do PSL na Câmara. Caiu em desgraça no bunker presidencial, foi frito por Bolsonaro e perdeu o filé mignon da liderança para Eduardo, o filho 03. Ao saber dos “20 continho” de Queiroz, o deputado observou:
1) “em nenhum momento, a rachadinha parou”; “Queiroz continua operando”;
2) “ao fingir que a corrupção não ocorre, é visível que ele [Bolsonaro] se afastou das propostas de campanha, e nossa ala [do PSL] não aceita isso, ao contrário da ala bolsonarista”.
Queiroz, como bem se sabe, foi assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio e amigão de Jair Bolsonaro por muitos anos. É acusado de gerenciar o esquema de rachadinhas no gabinete estadual do filho 01 e fazia um meio de campo da agora família presidencial com famílias milicianas.
Delegado Waldir prometeu “implodir” Bolsonaro quando explodiu o salseiro do PSL, que teve origem na série de reportagens desta Folha sobre o laranjal do partido na campanha de 2018. Por falar nisso,
a deputada federal Soraya Manato (PSL-ES) disse em plenário que o PSL teve candidatos laranja, como “em tudo que é partido”.
Ainda nessa refrega, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) também foi degolada. Em um arranca-rabo com os filhos do capitão pelas redes insociáveis, disse saber “o que eles fizeram no verão passado”, além de acusar a filhocracia de manter um esquema clandestino de propaganda e difamação digital, talvez no próprio Planalto.
Do outro lado do balcão pesselista, pró-Bolsonaros, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) escreveu a colegas do partido que teria “muita coisa” para “ferrar”, digamos, o Parlamento; que iria “bagunçar o coreto de todo mundo” e “sacudir o Brasil”. Silveira procurava assim se defender de uma ameaça de cassação por ter grampeado uma reunião de amotinados do PSL.
“Garanto que não estão acostumados com alguém como eu”, arrematou, com realismo autorreflexivo. Mas o que teria a dizer esse “alguém como eu”? Saberá Deus, mas Silveira fez campanha vilipendiando a memória de Marielle Franco. Do alto de um palanque, quebrou uma placa com o nome da vereadora assassinada, provavelmente por milicianos próximos daqueles amigos do Queiroz.
Com Queiroz o círculo parece se fechar, mas o circo de aberrações na verdade está com as portas abertas: “o espetáculo começa quando você chega”.
Polícia, procuradores, parlamentares, alguém vai?