Se novo ministro conseguir livrar MEC do aparelhamento sempre tão condenado pela direita, mas praticado sem moderação quando ela assumiu o poder, estará no caminho virtuoso
O fiasco da curta passagem de Ricardo Vélez Rodríguez pelo Ministério da Educação poderia ter ensinado uma importante lição ao governo de Jair Bolsonaro, que hoje completa 100 dias: o aparelhamento ideológico, sempre tão combatido e associado à esquerda pelo hoje presidente ao longo de sua carreira na oposição, é, de fato, deletério para a administração pública.
Balcanizado entre “olavetes”, militares e evangélicos, com um núcleo técnico espremido nessa maçaroca ideológica, o MEC produziu uma sucessão de episódios grotescos numa pasta que, no curto mandato de Michel Temer, tinha colhido avanços concretos na área mais crucial para que o País almeje algum futuro mais promissor.
O substituto de Vélez na pasta, Abraham Weintraub, é identificado com a mesma matriz ideológica que endossou a nomeação do seu antecessor. Tem um histórico de declarações voltadas a defender o combate ao tal “marxismo cultural” como missão da Educação.
Encontrará agora, no entanto, um transatlântico para pilotar e um iceberg no caminho, que o desastre Vélez tratou de aproximar.
As tarefas da Educação são tão concretas e urgentes que, se Weintraub quiser entregar números melhores que os antecessores – os tais “esquerdistas” – terá de se dedicar a elas, e não à guerra cultural, sob pena de ir à deriva.
O ministro parece ter se dado conta da realidade que enfrentará. Tanto que seu discurso de posse foi focado na defesa de uma gestão técnica na pasta. Repetiu o mesmo à Coluna. Questionado sobre se readmitirá os “olavetes” demitidos por Vélez e promoverá um expurgo dos militares, negou que pretenda fazê-lo. Também refuta a análise de que sua assunção representará uma derrota para os militares. “O momento é de serenidade, pacificação e GESTÃO”, me disse ele, assim mesmo em maiúsculas, numa troca de mensagens ontem.
Se conseguir livrar o MEC do aparelhamento sempre tão condenado pela direita, mas praticado sem moderação quando ela assumiu o poder, estará no caminho virtuoso.
O mesmo deveria ser feito urgentemente na Apex, agência que tem a missão de promover as exportações brasileiras, mas se transformou num antro de intrigas e favorecimentos da corte olavista, em que diretores que gozam da intimidade do chanceler Ernesto Araújo recebem dele prerrogativas à revelia da direção do órgão.
A Apex é financiada com recursos de uma fonte que os bolsonaristas adoram fustigar: a chamada “farra do Sistema S”. Recebe fartos repasses – algo como R$ 500 milhões ao ano para custear feiras e viagens de seus diretores –, oriundos da contribuição compulsória das empresas. Como está parcialmente paralisada pela guerrilha interna, tem muito dinheiro “entesourado” em caixa e pouca ação prática.
A Apex já era um prêmio de consolação para aliados no governo Dilma Rousseff. Um dos seus presidentes foi o fiel Alessandro Teixeira, um dos coordenadores da campanha da petista. Na gestão Temer, passou para o guarda-chuva do Itamaraty apenas para engrossar o poder de José Serra na pasta. Agora, vira parquinho ideológico da juventude olavista.
Pelo receituário liberal do governo, uma agência financiada dessa forma e gerida na base do compadrio deveria ser extinta, em nome da eficiência. Ou ter sua gestão profissionalizada, com mandatos para os diretores e metas a serem atingidas.