É delicada a situação do MDB no Senado. Retirado, juntamente com PSDB e PT, do centro da política brasileira pelas urnas, o partido tem na presidência da Casa a sua última chance de ter relevância no jogo institucional, e sabe bem disso. Nesta circunstância, vai para a disputa dividido entre um sobrevivente dos velhos tempos, Renan Calheiros (AL), e uma senadora de perfil mais independente – e, assim, mais palatável a um acordo com outras forças –, Simone Tebet (MS).
O presidente do partido é Romero Jucá (RR), de quem se pode falar o que quiser, menos que não seja um exímio leitor do cenário político. Ele tenta costurar nos bastidores a desistência do amigo e aliado de sempre Renan, não por outra razão que não seja a de entender que, a insistir na candidatura, o alagoano pode levar o partido a perder tudo.
Há quem duvide desse súbito afastamento entre Jucá e Renan. Afinal, Simone Tebet é considerada “incontrolável” pela cúpula partidária. Então, por que passariam a trabalhar por ela? A resposta parece ser: pelo pragmatismo de sempre. Seu nome é mais palatável tanto ao governo quanto a partidos como PSDB, DEM e PSD.
Senadores experientes notam que declarar abertamente o voto contra Renan vai virar o “atestado de moralidade” que senadores de vários partidos, novatos ou veteranos, vão querer ofertar à sociedade. Quem conhece Renan acha que ele não insistirá na candidatura se sentir que vai perder, o que ficará mais claro na nova reunião da bancada, na quinta-feira. O grupo dos demais candidatos à presidência da Casa até admite apoiar a senadora sul-mato-grossense, mas desde que ela consiga vencer a disputa na bancada antes.
CÂMARA
Maia tenta blitz final para vencer no primeiro turno
Rodrigo Maia (DEM) avançou muitas casas com a decisão do MDB de apoiar sua reeleição para o comando da Câmara. Ainda que o folclórico Fabio Ramalho (MG) mantenha a candidatura até o final (o que é dúvida, pois o tiraria da Mesa Diretora, onde ele mantém seu feudo fisiológico), aliados de Maia acreditam que ele está próximo de assegurar a vitória em primeiro turno. Para isso, fará uma blitz final para tentar dissuadir o Partido Novo de manter a candidatura de Marcel Van Hattem, que reúne dissidentes do PSL e outras adesões avulsas. O deputado gaúcho garante que não desistirá.
Deixa esfriar. Governo deve conter ímpeto de intervir na Vale Foto: Washington Alves/Reuters
BRUMADINHO
Falas do governo sobre Vale nascem do clamor popular
As falas do governo sobre a possibilidade de convocar uma reunião do conselho da Vale para tentar liderar uma maioria para destituir a diretoria da empresa mostram antes um afã de dar resposta ao clamor da sociedade por punições que uma disposição política consensual. Isso porque há sérias dúvidas sobre qual seria a melhor maneira de atuar no caso – a via judicial, por exemplo, é considerada fora de cogitação. O temor de setores do governo é o de agravar a situação da empresa internacionalmente – e, consequentemente, a imagem do Brasil num momento em que busca atrair investimentos. A convalescência de Jair Bolsonaro deve ser usada para que o ímpeto vá morrendo aos poucos. A expectativa é de que a Justiça, que está agindo de maneira mais célere agora que em casos como o de Mariana, dê as respostas que a população cobra, enquanto o governo se concentra nas questões relativas ao marco legal da mineração, à regulação e à cobrança de multas.