Valor Econômico: “O jogo começa agora”, afirma FHC

Encerrado o julgamento do ex-presidente Lula pelo TRF da 4ª Região, com surpreendente unanimidade na condenação e na extensão da pena para 12 anos e um mês a ser cumprida em regime fechado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comentou: "O jogo começa agora". Referia-se à composição das forças políticas para as eleições presidenciais de outubro.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Encerrado o julgamento do ex-presidente Lula pelo TRF da 4ª Região, com surpreendente unanimidade na condenação e na extensão da pena para 12 anos e um mês a ser cumprida em regime fechado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comentou: “O jogo começa agora”. Referia-se à composição das forças políticas para as eleições presidenciais de outubro.

Por Claudia Safatle

FHC falou ao Valor sobre o futuro da política sem a eventual presença da figura quase mitológica de Luiz Inácio Lula da Silva na disputa. Antes, porém, lamentou a situação em que se enredou o maior líder dos trabalhadores que o país já conheceu, condenado por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sob risco de ser levado à prisão ou de ter que pedir asilo a algum outro país.

Sem a candidatura de Lula, é bastante provável que murche a do seu extremo oposto, deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), e que o centro se organize melhor para concorrer, seja com Geraldo Alckmin, governador de São Paulo pelo PSDB, ou com algum outro candidato.

Fernando Henrique não vê espaço para “outsiders” na disputa da Presidência da República. Também não considera o apresentador de TV Luciano Huck definitivamente fora do páreo. “Luciano não desistiu”, disse FHC, de quem é amigo. Para se colocar na disputa, porém, o apresentador terá que mostrar-se capaz de sensibilizar os outros partidos mais alinhados com o centro, a exemplo do PPS, presidido por Roberto Freire.

Fernando Henrique está ciente da falta de preparo do apresentador para enfrentar as artimanhas e ardis dos políticos profissionais do Congresso. “Gosto do Luciano, sou amigo da família, mas ele é muito cru para ser presidente da República”, salientou. “Não acho que ele seja a maior possibilidade”. O ex-presidente, no entanto, avalia que se a candidatura de Alckmin não se firmar abre-se espaço para o apresentador de TV concorrer.

O fato é que, para FHC, após o resultado do julgamento de Lula, ontem, “as forças políticas vão se acomodar à nova realidade”. Até então, não havia certeza sobre qual seria a decisão dos três desembargadores da 8ª Turma do TRF da Região Sul.

Para além das implicações no cenário eleitoral deste ano, porém, Fernando Henrique enxerga em todo o processo que culminou com a condenação de Lula a possibilidade de engendrar mudanças, levando o país a alterações mais profundas nas regras políticas que permitem, por exemplo, a existência de mais de trinta partidos políticos. “Não há como governar com essa quantidade de partidos”, atesta ele, com a experiência de quem governou por oito anos e também se incomodou com denúncias de compra de votos no Congresso.

Há uma crise de representação no mundo ocidental. As economias vão bem, mas a tecnologia não gera, ao contrário, destrói empregos e cria um grande e complicado problema distributivo. “Os políticos fecham os olhos” para essas questões, disse FHC. No Brasil são 5.700 municípios sem dinheiro, o Rio de Janeiro está se desmilinguindo. “Pode ser otimismo meu, mas a crise que vivemos sem muita comoção social vai deixar resultados”, disse ele.

 

 

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