Luiz Antonio Santini / Revista Política Democrática online
Margareth Dalcolmo lança esta semana o livro Um tempo para não esquecer. Enfrentamento da pandemia e o futuro da saúde. Reúne 81 textos de sua autoria. A apresentação é de Nélida Piñon, e o prefácio de Domicio Proença, ambos membros da Academia Brasileira de Letras. O médico cirurgião e escritor J J Camargo, membro titular da Academia Nacional Medicina, e Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz, completam a galeria de especialistas de primeira grandeza que contribuíram com seus testemunhos para marcar a importância e oportunidade da obra, a qualidade da abordagem técnica, a profundidade da perspectiva histórico-filosófica e, como se não bastasse, o excepcional tratamento literário.
A obra tem por objeto uma das maiores crises sanitárias vividas nos últimos 100 anos, a pandemia denominada Covid-19, provocada pelo vírus Sars–Cov-2. Foi construída por crônicas, publicadas a cada semana em O Globo, entre 7 de abril de 2020 e 2 de novembro de 2021.
Margareth acompanhou os acontecimentos envolvendo uma doença cuja história natural foi sendo desvelada no curso da própria pandemia, assim como seus mecanismos de disseminação e a própria evolução clínica. O livro constitui, portanto, possibilidade impar para os leitores de seguir, passo a passo, o desenrolar da pandemia, as estratégias empregadas de controle da disseminação da doença, os principais eventos científicos que permitiram o desenvolvimento das vacinas, o aprimoramento dos cuidados médicos tanto no ambiente hospitalar quanto ambulatorial e domiciliar, tudo isso de acordo com os conhecimentos que foram sendo adquiridos pela experiência clinica cotidiana da própria autora e pelo conjunto dos inúmeros artigos científicos, na ordem de milhares, que se publicavam simultaneamente.
Um tempo para não esquecer também registra em detalhes a luta da saúde pública brasileira, sobretudo suportada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para garantir o acesso da população aos recursos, às experiências e aos conhecimentos já adquiridos, enfrentando a brutal resistência por parte do governo federal, que se utilizou de todos os meios possíveis para impedir o êxito das ações necessárias.
Com elegância e grande acurácia científica e linguagem acessível, o livro permite a compreensão de fenômenos complexos no campo da ciência e das pesquisas, tanto básica, quanto clínica. Contribui, assim, para promover certa desmistificação dos conhecimentos mais avançados em biologia, imunologia, epidemiologia e de saúde pública, facilitando a imersão do leitor nesse universo científico complexo, pelas mãos seguras de quem muito conhece o caminho a ser percorrido.
Cada capítulo do livro traz referências a episódios marcantes da história da medicina e das ciências como um todo, o que ajuda o leitor não só a identificar trajetórias e controvérsias sobre temas críticos, mas também se posicionar quanto à inundação de informações, majoritariamente falsas, e reconhecer as verdadeiras.
O livro abarca a evolução da pandemia da Covid-19 no Brasil no período entre abril de 2020 e outubro de 2021, do desenvolvimento científico e tecnológico que correspondeu a ele, das controvérsias legitimas e da guerra de notícias falsas e pressões políticas ilegítimas que emolduraram esses momentos. Mostra os esforços para barrar as inciativas nocivas e privilegiar os melhores tratamentos para os pacientes. Inevitavelmente, mostra também, com transparência, as hesitações, as incertezas, os sucessos e os insucessos vividos e cometidos ao longo desse processo.
A doutora Margareth Dalcolmo é, sem dúvida, a autoridade mais capacitada a cumprir essa tarefa com brilho. De todos seus inúmeros títulos e honrarias, eu destacaria o que melhor a define – ser médica e professora –, atributos essenciais de sua prática e o melhor laurel em seu compromisso hipocrático.
Acrescentando a tudo isso as referências literárias que enriquecem e suavizam o texto, recomendo a leitura deste livro. E, como professor de medicina que sou, torço para que seja usado como leitura obrigatória dos estudantes de medicina, médicos residentes e outros estudantes de carreiras de saúde .
Saiba mais sobre o autor
*Luiz Antonio Santini é médico, professor da UFF de Cirurgia e de Saúde Pública, ex-diretor do INCA e pesquisador associado da Fiocruz.
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de março/2022 (41ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
Hesitação vacinal é negacionismo que pode matar, acredita Margareth Dalcolmo
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