Cleomar Almeida, coordenador de publicações da FAP
Baseado em obra do mesmo nome de Mário de Andrade e um dos marcos do Cinema Novo, o filme Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, se mantém como um clássico marcado pelo seu múltiplo personagem. O herói sem qualquer caráter, por não ser canônico, está em constante transformação.
Depois de dois anos de escritas, cortes, acréscimos e revisões, em 26 de julho de 1928, nasceu “Macunaíma: o herói sem nenhum caráter”, obra-prima de Mário de Andrade e do Movimento Modernista Brasileiro.
Confira o vídeo!
Quatro décadas mais tarde, em 3 de novembro de 1969, depois de devidamente analisado e recortado pela censura vigente à época, o longa “Macunaíma” chegou às grandes telas para consagrar seu diretor.
Na quinta-feira, o filme será analisado no segundo evento online do ciclo de debates quinzenais realizados pela Biblioteca Salomão Malina, da FAP, sobre o modernismo no cinema brasileiro. O webinário é parte da pré-celebração ao centenário da Semana da Arte Moderna, realizada em fevereiro de 1922, em São Paulo, e que inaugurou o movimento no Brasil. Abaixo, veja mais detalhes.
No elenco da comédia de 1h43 de duração, estão Dina Sfat, Grande Otelo, Jardel Filho, Joana Fomm, Milton Gonçalves, Paulo José, Rodolfo Arena
Índio nascido preto, sem pai, Macunaíma torna-se branco. Nasce no fundo do mato-virgem, renasce na metrópole. Reúne vários personagens em um só. É uma espécie a ser moldada pelo medo e pelo prazer. Malandro que cai na conversa dos mais espertos. Aquele que mente para sobreviver e tirar vantagem. Egoísta tragado pelo egoísmo dos outros.
No press book de 1969, o diretor afirma que considera o filme um comentário ao livro. As mudanças do longa-metragem são precisas e circunstanciais, oriundas de um homem consciente da história do Brasil e do modernismo.
O cineasta soube trabalhar bem os propósitos do escritor. O objetivo era voltar contra a arte dos salões, representada pelo Parnasianismo, com sua dicção afrancesada, através do uso da linguagem oral e da cultura popular, parodiando os discursos dos oradores.
A iconoclastia ganhou forma no Manifesto Antropofágico. “Joaquim Pedro de Andrade digeriu Mário de Andrade com o estômago de Oswald de Andrade e o olhar aguçado da sua câmera”, como escreveu o editor da revista Em Tese, publicação do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Josnei di Carlo.
No texto Macunaíma é a cara do Brasil – de ontem e de hoje, Carlo avalia que o diretor atualizou Macunaíma à conjuntura política (Ci era guerrilheira) e parodiou a estética julgada ultrapassada da chanchada (o humor burlesco).
Além disso, segundo ele, o cineasta ironizou o kitsch tropicalista (o figurino de Anísio Medeiros) e deu algumas cutiladas na ditadura militar (a canção ufanista em momentos grotescos ou trágicos).
De acordo com o mediador do debate, o cineasta e documentarista brasileiro Vladimir de Carvalho, os debates online em pré-celebração ao centenário da Semana de Arte Moderna vão se estender ao longo deste ano.
Cada evento vai discutir um filme que será exibido, no próprio dia, a partir das 17 horas, pelo perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e também pelo canal da FAP no Youtube e no @facefap, o perfil da fundação na rede social, para mostrar a influência do pensamento modernista no Brasil e nas artes. O debate, que também será retransmitido pelo portal da FAP, começará duas horas depois do início da exibição (às 19h).
Centenário da Semana de Arte Moderna
2º evento online da série: O modernismo no cinema brasileiro
Dia: 27/5/2021
Transmissão: a partir das 17h
Onde: Perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e no portal da FAP e redes sociais (Facebook e Youtube) da entidade
Realização: Fundação Astrojildo Pereira
O arquivo do vídeo do evento fica disponível para o público nesses canais, por tempo indeterminado
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