Tibério Canuto / Esquerda Democrática
O povo russo tem uma história belíssima e uma cultura maravilhosa e rica: na literatura, nas artes cênicas, na música clássica, no balé. É um povo bravo, que enfrentou e derrotou Napoleão Bonaparte, o rei sueco Carlos XII e Hitler. Não podemos esquecer sua inestimável contribuição para a derrota da horda nazista. Foi ele quem arcou com o fardo mais pesado da segunda guerra mundial – mais de 20 milhões de russos mortos – e quem derrotou Hitler às portas de Moscou, Stalingrado e Berlim. A primeira nave espacial tripulada foi russa, assim como o primeiro homem a ir para o espaço sideral.
Digo isto porque a justa ira contra a guerra de agressão contra a Ucrânia não deve alimentar uma postura russofóbica que vai se disseminando nas redes sociais. Isso é obscurantismo, coisa de xenófobo com sinal trocado ou de pessoas com a mentalidade da guerra fria, quando a Rússia era vista como o “império do mal”. Então vamos banir da literatura Tolstoi e Dostoievski? Não vamos mais ler “Guerra e paz” e “Crime e castigo”? Não vamos ouvir a “Abertura 1812”? Vamos cancelar também o balé Bolshoi?
Minha posição sobre a guerra da Ucrânia é clara. Putin é o agressor e ponto. Mas isto não me leva a deificar a Otan e sua expansão para o Leste europeu, inclusive para antigas repúblicas da União Soviética. Isso se deu a partir da “Doutrina Bush”, no segundo mandato do então presidente dos Estados Unidos. Só ingênuos podem acreditar que essa expansão se deu para levar a democracia e os direitos humanos para o Leste europeu. Deu-se por interesses geopolíticos dos Estados Unidos, por uma visão expansionista e hegemonista dentro de um mundo unipolar.
Se a União Europeia é um arranjo institucional positivo que muito contribuiu para a Europa viver o maior período de paz e sem guerra de sua História, a Aliança Atlântica é um entulho da guerra fria. Afinal, qual “império do mal” justifica sua existência? O mundo padece de um verdadeiro sistema de segurança coletiva, não só da Europa, mas de todos os países e continentes, inclusive com a participação da Rússia e da China. Só assim teremos um mundo realmente pacífico. O fim da unipolaridade não será virtuoso se a sua alternativa for a restauração da bipolaridade, como vai se estruturando num quadro de uma segunda guerra-fria.
* Tibério Canuto é jornalista
Fonte: Esquerda Democrática
https://pt-br.facebook.com/esqdemocratica/