Tibério Canuto: Alckmin e a fortuna 

A fortuna volta a sorrir para Alckmin. No PSDB costuma-se dizer que ele nasceu com aquilo virado para a lua. De fato, tem sido um político bafejado pela sorte. Eleito vice de Mário Covas em 1994, a sorte sorriu para ele pela primeira vez na eleição municipal de 2000. Até então um político desconhecido do grande público, Alckmin quase chega ao segundo turno. Não se elegeu prefeito de São Paulo, mas saiu da refrega com um cacife eleitoral e herdeiro natural do legado de Covas.
Foto: Alexandre Carvalho/A2img
Foto: Alexandre Carvalho/A2img

A fortuna volta a sorrir para Alckmin. No PSDB costuma-se dizer que ele nasceu com aquilo virado para a lua. De fato, tem sido um político bafejado pela sorte. Eleito vice de Mário Covas em 1994, a sorte sorriu para ele pela primeira vez na eleição municipal de 2000. Até então um político desconhecido do grande público, Alckmin quase chega ao segundo turno. Não se elegeu prefeito de São Paulo, mas saiu da refrega com um cacife eleitoral e herdeiro natural do legado de Covas.

A morte de Mário Covas em pleno exercício de mandato fez com que Geraldo Alckmin fosse bafejado pela fortuna pela segunda vez. Não que desejasse a perda de Covas. Mas ela encurtou a sua maturação como principal político do Estado, ao completar o mandato do ex-governador. Esses dois anos de mandato lhe deram musculatura para se reeleger governador e buscar voos mais alto.

Abatido em pleno voo na disputa presidencial de 2006 – teve menos votos no segundo turno do que no primeiro – parecia que seu futuro se resumiria a cargos de menor relevância. No máximo uma senadoria. Em 2008 sofreu nova derrota na disputa para prefeito de São Paulo, amargando um humilhante terceiro lugar.

Não faltou quem diagnosticasse o fim de sua carreira, ou a ter um papel irrelevante na política. Humildemente, Alckmin esperou a sorte lhe sorrir novamente, aceitando ser secretário do governo Serra.

Jogando parado, viu a candidatura a governador do Estado cair no seu colo em 2010, em nome da pacificação do tucanato paulista. Sua candidatura era interesse de Serra para ter a sua retaguarda unida e partir para a disputa presidencial.

As sinas dos dois políticos são distintas. Serra é bafejado pela virtude, mas pouco pela fortuna. Já com Alckmin é ao contrário. Não é um formulador ou grande estrategista. Mas sabe, como poucos, jogar parado.

Parado, assistiu seus principais concorrentes internos serem abatidos. Aécio torrou seu capital de 51 milhões de votos e disputa com Temer e Cunha o título de político com maior grau de rejeição. Seu enrosco com a JBS o fez carta fora do baralho. Se ainda movimenta peças nos labirintos do tucanato, é uma estrela decadente, condenada a ter peso irrelevante no futuro. Já Serra soube recuar para o fundo do palco pouco antes da delação da Odebrecht.

Alckmin virou candidato do PSDB quase que por W.O. Só não é porque Arthur Virgílio resiste em retirar sua candidatura, ao menos por enquanto.

Mas que fortuna há em ser candidato de um PSDB dividido, sem projeto e agastado com seus eleitores que se sentem traídos em função de sua pusilanimidade nos desvios éticos de Aécio e outras lideranças?

Aparentemente, a sorte lhe fugiu. Começou a se firmar a percepção de ser um candidato sem pujança para vencer a disputa presidencial e portanto, de se firmar como alternativa à polarização Lula-Bolsonaro. Sem oferecer expectativa de poder, corria sérios riscos de ser cristianizado pelo seu próprio partido, ou por parte de seus parlamentares, que como os de todos os partidos, pensam, antes de tudo, na sua sobrevivência eleitoral.

Mas eis que hoje a fortuna aplainou o seu caminho por duas vezes. Huck desistiu de ser candidato. Sai de campo um concorrente que poderia desidratar a candidatura Alckmin e ser a alternativa para o eleitorado do centro democrático.

No front interno, Alckmin conseguiu pacificar as alas beligerantes do tucanato e vai ser sacramentado, por unanimidade, presidente do PSDB. Pode parecer pouco, mas sem esse passo, esquece candidatura. Como disse lá em cima, ninguém ganha uma guerra se suas tropas estão divididas.

Como não basta apenas ter sorte. Geraldo Alckmin terá de demonstrar que tem o dom da virtude, se quiser ser vencedor na sucessão presidencial. Virtude, no caso, é apresentar um projeto para o país e ser capaz de fazer um movimento duplo.

O primeiro movimento voltado para sua aproximação com a parcela do eleitorado sensível ao discurso da renovação política e que viram em Huck essa virtude e a possibilidade de se livrar da polarização Lula- Bolsonaro. A indagação a ser feita é se Geraldo tem condições de empolgar o eleitorado de centro-esquerda. Seria ele capaz de promover a inclinação à esquerda do centro democrático? Acho difícil.

Geraldo é o centro do centro. Tem que acenar para seu lado esquerdo, mas também para o centro-direita. A possibilidade de vitória está na razão direta da sua capacidade de trazer para o seu arco de alianças os partidos que orbitam em torno de Temer. Como ser um candidato não governista, mas ao mesmo tempo não ser o candidato contra o governo? Em outras palavras, como querer o apoio dos partidos governistas sem defender o governo?

É nesse labirinto de contradições que Alckmin terá de se movimentar para ser o candidato do campo reformista. Vai precisar bem mais do que a fortuna para se eleger presidente.

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