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Vítimas de tráfico humano relatam horrores: “Comia tripas e lesma”
Maria Eduarda Portela*, Metrópoles
Dois jovens de Ribeirão Pires, em São Paulo, relataram os horrores dos dias em que estiveram num cativeiro em Myanmar. Nathalia Munhoz e Patrick da Silva Palma de Lopes, ambos de 25 anos, foram vítimas de tráfico humano após aceitarem uma falsa promessa de emprego em Bangcoc, na Tailândia. A proposta era de um salário de US$ 1,5 mil por mês para trabalhar em um call center.
Os jovens apostaram todas as fichas em uma mudança para um dos países mais agitados do mundo. O problema é que o sonho se tornou um pesadelo. Ao desembarcarem em Bangcoc, na Tailândia, os jovens foram levados para Myanmar, país próximo, e obrigados a trabalhar em um esquema internacional de extorsão, em condições análogas à escravidão.
Os jovens conseguiram retornar para o Brasil na última quarta-feira (16/11). Nathalia Munhoz e os seus pais, Vanessa Aparecida Munhoz e Cristiano de Lima Munhoz, concederam uma entrevista ao Globo após quatro meses longe.
“Vivemos uma mistura de sentimentos durante a expectativa da chegada deles. Momentos de felicidade, nervosismo, angústia, choro. Ao vê-los e tocá-los, tudo isso foi desmoronando”, relatou Cristiano.
“Tanta coisa negativa, com o Natal chegando e minha filha do meio prestes a ter um bebê… imagina a minha situação. Quando desembarcaram, foi uma emoção só. Sensação de alívio, paz e gratidão a Deus. Eu ganhei um presente de Deus!”, contou o pai de Nathalia em entrevista.
Tudo começou quando Nathalia viu um anúncio de vaga de emprego no Instagram para trabalhar na Tailândia. A jovem se interessou ao perceber que se enquadrava no perfil descrito no post. O homem que divulgou a suposta vaga se apresentava como André.
Entretanto, sua família se mostrou contrária à decisão de ir para o outro lado do mundo em busca de um emprego.
“Não sei ao certo se o rapaz ela já conhecia ou não, mas ela me pediu opinião e eu fui contrário, não havia gostado da ideia, por algumas razões lógicas. Mas, por fim, ela aceitou a proposta e nos comunicou, dizendo que precisava trabalhar e sustentar as filhas dela. Mesmo contrariados, aceitamos”, conta Cristiano.
Após aceitar a vaga de emprego, Nathalia e o pai decidiram como ficaria a situação das duas filhas pequenas. Marina, de 5 anos, e Antônia Beatriz, de 4 anos, iriam ficar sob os cuidados do avô paterno.
“As pessoas que conduziriam eles até a empresa não falavam inglês ou português. Ao entrarem no carro, eles já se depararam com duas pessoas fortemente armadas com metralhadoras e fuzis. Com medo, minha filha postou um vídeo mostrando o entorno durante a chegada e, de relance, alguns dos caras. Já mostrou certa apreensão ali. Àquela altura, eu ainda tentei tranquilizá-la”, relata Cristiano.
Cativeiro
A jovem contou à reportagem que viajou durante dois dias de carro após desembarcar na capital da Tailândia até chegar a um local chamado KKparque, em Myanmar. Os prédios eram uma espécie de condomínio dominado e comandado pela milícia responsável pelo sequestro de Nathalia.
“Lá ela começou a situação inóspita que enfrentaria. Um ambiente hostil, agressivo, com duras horas de trabalho. E ela contou que eles eram ainda mais cruéis e agressivos com os asiáticos mantidos lá”, relata Cristiano. “Mas todos eram vigiados pelos rebeldes ou milicianos fortemente armados, que não deixavam ninguém sair do parque. Entravam e saíam apenas com a autorização do chefe da quadrilha”, lembra.
A vítima ainda está muito abalada, mas contou ao Globo sobre as condições de vida em que era mantida durante o cárcere. “Comia tripas, lesmas, dormi em chão duro, passei fome e frio”, conta Nathalia.
Além das condições precárias, as diferenças culturais relacionadas à alimentação eram difíceis para Nathalia. “Eles comem cobras, escorpiões, pato, rãs, muitos legumes, muito miojo. O café da manhã lá às vezes era miojo… a água que nos davam para beber era salobra”.
Apesar das condições precárias a que era submetida, os sequestradores autorizaram Nathalia a ficar com o seu telefone celular para realizar ligações rápidas, mas não poderia filmar nada. Durante estes telefonemas, a jovem conseguiu tranquilizar a sua família, até que em setembro ela passou a detalhar a situação em que vivia e pediu por meio de um áudio para que os seus parentes procurassem as autoridades policiais caso ela desaparecesse por dois dias ou mais.
Trabalho
Nathalia era obrigada a trabalhar até às 16h por dia e com apenas uma folga por mês. O trabalho criminoso tinha como objetivo extorquir criptomoedas de norte-americanos, em um golpe em que eles se passavam por mulheres interessadas por meio de um perfil falso.
“Ela e o Patrick começaram a passar mal, até mesmo por conta das alimentações, e em certas ocasiões ela deixava escapar que estaria vivendo um inferno e que queria vir embora. Muitas vezes ela deixou escapar que não via a hora de vir embora, que o lugar era horrível, que não tinha o que fazer. Nas raras folgas que tinha, não tinha o que fazer lá, além de dormir”, conta Cristiano.
A família do amigo de Nathalia também sequestrado, Patrick, foi a primeira a procurar as autoridades em busca dos jovens após ser informada das situações precárias em que os dois estavam.
“Entrei em contato com o Itamaraty e com a embaixada de Yangon. Depois da primeira reportagem, o grupo (de sequestrados) começou a se articular lá dentro, por intermédio do Patrick e da minha filha. Eles sofreram, mas os bandidos afastaram eles das atividades por 18 dias alegando que os soltariam. Cobraram um resgate de US$ 6 mil dólares, que a família do Patrick conseguiu levantar. Depois, disseram que não podiam libertá-los ainda porque tinham que esperar a chegada dos passaportes”, contou o pai de Nathalia.
“Mas não foi o que aconteceu. Os milicianos levaram eles e os soltaram em outro lugar, onde eles foram detidos em um distrito sob a alegação de estarem sem vistos. Foram presos por conta da irregularidade. Quando eles foram pegos pela imigração, começamos então a cobrar o Itamaraty e a embaixada. Depois de muita cobrança, foram soltos e mandados de volta ao Brasil”, relembra Cristiano.
Texto publicado originalmente no Metrópoles.
ONU alerta para malefícios na vida de vítimas de desaparecimentos forçados
ONU News*
Este 30 de agosto é o Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados. Para as Nações Unidas, esse tipo de violência se tornou um problema global e não se restringe a uma região específica do mundo.
No passado, muitas pessoas desapareciam por consequência de ditaduras militares. Hoje, a prática acontece também em situações complexas de conflito interno, especialmente como meio de repressão política de opositores.
Impacto dos desaparecimentos forçados
Milhares de pessoas desapareceram durante conflitos ou períodos de repressão em pelo menos 85 países ao redor do mundo.
O desaparecimento forçado tem sido frequentemente usado como estratégia para espalhar terror na sociedade. O sentimento de insegurança gerado por essa prática não se limita aos familiares próximos dos desaparecidos, mas atinge também suas comunidades e a sociedade como um todo.
De particular preocupação são a perseguição contínua de defensores de direitos humanos, familiares de vítimas, testemunhas e advogados que lidam com casos de desaparecimento forçado, o uso pelos Estados de atividades antiterroristas como desculpa para o descumprimento de suas obrigações, e a impunidade.
A ONU também pede atenção especial a grupos específicos de pessoas especialmente vulneráveis, como crianças e pessoas com deficiência.
Tortura
As Nações Unidas também alertam que as vítimas de desaparecimentos forçados são frequentemente torturadas e temem constantemente por suas vidas, além de estarem cientes de que suas famílias não sabem o que aconteceu com elas e que há poucas chances pequenas de que alguém venha em seu auxílio.
Essas pessoas, quando retiradas do recinto de proteção da lei e ficam “desaparecidas” da sociedade, são privadas de todos os seus direitos e ficam à mercê de seus captores.
Mesmo que a morte não seja o resultado e a vítima seja finalmente libertada do pesadelo, as cicatrizes físicas e psicológicas desta “forma de desumanização e a brutalidade e tortura” que muitas vezes a acompanham permanecem.
Familiares das vítimas
Os familiares e amigos das vítimas experimentam angústia, sem saber se a vítima ainda está viva ou onde está detida, em que condições e em que estado de saúde. Além disso, sabem que estão ameaçados, que podem sofrer o mesmo destino e que a busca da verdade pode expô-los a um perigo ainda maior.
A angústia da família é frequentemente agravada pelas consequências materiais do desaparecimento. Em alguns casos, a legislação nacional pode impossibilitar o saque de uma pensão ou o recebimento de outros meios de subsistência na ausência de uma certidão de óbito.
Quando mulheres são vítimas diretas do desaparecimento, se tornam particularmente vulneráveis à violência sexual.
As crianças também podem ser vítimas, direta e indiretamente. A perda de um dos pais por desaparecimento também é uma grave violação dos direitos humanos de uma criança.
Origens do dia
O dia internacional aprovado na Assembleia Geral em dezembro de 2010. A resolução expressava profunda preocupação com o aumento de desaparecimentos forçados ou involuntários em várias regiões do mundo.
A ONU saudou a adoção da Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados, criada em 1992, que é um conjunto de princípios para todos os Estados.
*Texto publicado originalmente na ONU News. Título editado.
Incêndios florestais causam hospitalização de 47 mil brasileiros por ano
Pacientes sofrem principalmente de problemas respiratórios e doenças cardiovasculares. Crianças são as mais afetadas
DW Brasil
A cada ano mais intensos, incêndios que consomem as florestas brasileiras, sobretudo na região amazônica, vêm afetando a saúde da população. Em um estudo publicado neste mês pelo periódico científico The Lancet, um grupo de pesquisadores concluiu que mais de 47 mil internações por ano em hospitais do país têm como causa a poluição decorrente de incêndios florestais.
É a primeira vez que uma pesquisa abrangente sobre o assunto é feita. No total, foram analisados 143 milhões de registros de hospitalizações, de 2000 a 2015, de 1.814 municípios do país — o que significa uma rede de atendimento de saúde que cobre praticamente 80% da população nacional.
Foram identificados 766.091 casos em que a internação pode ser considerada, segundo os pesquisadores, consequência da poluição resultante de incêndios florestais. São 47.880 por ano — cerca de 35 hospitalizações a cada 100 mil habitantes. A maior parte das internações ocorreu por problemas respiratórios, seguida por doenças cardiovasculares.
"Para chegarmos a essa conclusão, pegamos as informações das internações e cruzamos com dados de satélite. Por meio de modelagem de computador, a análise da poluição do ar foi observada, com desvio da normalidade decorrente de dias de queimadas florestais na região", explica o médico patologista Paulo Saldiva, professor na Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores do estudo, que foi coordenado por pesquisadores da Universidade Monash, da Austrália.
"Vimos que o problema existe e tem maior efeito, proporcionalmente, nas regiões Norte e Centro-oeste, onde mais ocorrem as queimadas, e Sudeste, porque correntes de ar trazem a poluição diretamente para essa região", acrescenta ele.
"Como um fumante"
Também pesquisadora da USP, a meteorologista Micheline de Sousa Zanotti Stagliorio Coêlho, outra autora do trabalho, atenta para o fato de que a pesquisa humaniza o problema ambiental, ao focar em danos diretos às pessoas.
Crianças são as mais afetadas, sendo que menores de 5 anos responderam por 254 mil casos no período analisado, e quase metade do total são menores de 10 anos.Volume 90% Assistir ao vídeo06:40
Incêndios florestais: como evitar que o mundo queime
O patologista Saldiva explica que a inalação constante da poluição decorrente de incêndios florestais causa efeitos no corpo humano "semelhantes ao que ocorre com um fumante". "Crianças são mais afetadas porque ainda não amadureceram o sistema de defesa. A [inalação da] queimada de biomassa provoca uma inflamação pulmonar e o enfraquecimento da capacidade de defesa [imunológica]", esclarece o médico.
Idosos também precisam de mais cuidados, já que com o envelhecimento o sistema imunológico fica naturalmente mais comprometido. "Isso pode facilitar que um agente infeccioso prospere, necessitando de internação", diz Saldiva.
No âmbito respiratório, essa inalação de partículas de poluentes pode desencadear diminuição da função pulmonar e quadros de asma, entre outros problemas de saúde. Mas há também um efeito na pressão arterial.
"O que faz com que aumente a carga que o coração precisa fazer, aumentando o trabalho cardíaco, com consumo maior de oxigênio e, eventualmente, a obstrução arterial de uma coronária, favorecendo [a ocorrência de] infarto ou arritmias cardíacas", contextualiza.
Metodologia
Os pesquisadores utilizaram imagens de satélite para suprir uma lacuna do monitoramento brasileiro. "Praticamente não temos, no Brasil, medições em solo de poluentes atmosféricos", afirma a meteorologista Coêlho.
São Paulo é uma exceção, onde tais aferições são executadas pela agência governamental Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Longe dos grandes centros, justamente onde ocorrem as queimadas, esse tipo de monitoramento não é realizado.
"Mas é claro que sabemos que materiais particulados, poluentes, como enxofre e ozônio, têm impacto tanto na saúde humana quanto na alteração do tempo e do clima", ressalta ela. A solução encontrada foi utilizar informações de satélites, observando os desvios que indicavam incêndios.
Em maio, um grupo multidisciplinar de cientistas, do qual também fizeram parte Saldiva e Coêlho, publicou um artigo na Nature Climate Change mostrando que o aquecimento global já responde por 37% das mortes decorrentes de calor no planeta — a força-tarefa compilou e analisou dados de óbitos de 732 cidades, de 43 países.
Para Saldiva, esses trabalhos servem de alerta: como o ser humano, ao destruir o meio ambiente, também está se destruindo. "O Brasil vive um período de sucessivos aumentos de desmatamento ilegal [geralmente acompanhado de queimadas], e isso tem repercutido em questões climáticas", ressalta.
Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/inc%C3%AAndios-florestais-causam-hospitaliza%C3%A7%C3%A3o-de-47-mil-brasileiros-por-ano/a-59174630
Negros, as vítimas esquecidas da era nazista
Das 75 mil pedras comemorativas dedicadas às vítimas dos nazistas, apenas quatro são em memória de negros
DW Brasil
Os negros são as vítimas esquecidas da Alemanha nazista, diz Marianne Bechhaus-Gerst, professora de Estudos Africanos na Universidade de Colônia. A perseguição deles sob os nazistas definitivamente "não é enfatizada o suficiente", acrescenta.
É difícil estimar quantos negros viviam na Alemanha quando os nazistas tomaram o poder, em 1933. Embora alguns fossem originários do efêmero império colonial alemão na África (1884-1919), tratava-se, na verdade, de "uma população muito diversa e ainda assim consideravelmente móvel", diz Robbie Aitken, professor da Sheffield Hallam University, na Inglaterra, e especializado em história da Alemanha negra. "E já por volta de 1933, diante da ascensão dos nazistas, alguns homens negros e suas famílias deixaram a Alemanha."
Outro grupo importante de afro-alemães ficou conhecido como "Bastardos da Renânia", rótulo racista e depreciativo dos nazistas para crianças, cujos pais se acreditava serem militares franceses de ascendência africana que estavam estacionados na Renânia após a Primeira Guerra Mundial.
"Se incluirmos as 600-900 crianças da Renânia, havia no máximo 1.500-2.000 pessoas que podemos chamar de residentes", disse Aitken, acrescentando que muitos outros negros e negras também viviam temporariamente na Alemanha na época, trabalhando como artistas, desportistas ou diplomatas.
Memoriais para quatro indivíduos
Na Alemanha, assim como em alguns outros países europeus, existem mais de 75 mil Stolpersteine comemorativas, ou "pedras de tropeço". Trata-se de pequenas placas de latão instaladas na calçada para marcar os nomes e destinos de vítimas da perseguição nazista.
Até agora, contudo, a Alemanha tem apenas quatro dessas pedras de tropeço dedicadas às vítimas negras do regime de Adolf Hitler.
Esse pequeno número de negros homenageados com as Stolpersteine, na verdade, nada menos que dobrou recentemente: duas placas do tamanho de um bloco de paralelepípedo foram acrescentadas no final de agosto em Berlim, em memória de Martha Ndumbe e Ferdinand James Allen.
O ato cerimonial reuniu pessoas de diferentes movimentos negros e de descolonização.
Gunter Demnig, o artista que idealizou as pedras comemorativas, também participou da cerimônia, inserindo as placas cuidadosamente em frente ao último endereço de cada vítima antes de terem sido presas pelos nazistas.
Martha Ndumbe: morte no campo de concentração de Ravensbrück
O evento cerimonial começou na Max-Beer Strasse 24, em frente à casa onde Martha Ndumbe morava antes de ser presa.
Martha Ndumbe nasceu em 1902 em Berlim. Seu pai, Jacob Ndumbe, veio de Camarões (então um colônia alemã), enquanto sua mãe, Dorothea Grunwaldt, era alemã de Hamburgo.
O pai de Martha veio para a Alemanha como participante da Primeira Exposição Colonial Alemã em Berlim. Após o término da exposição, ele permaneceu na capital alemã, onde Martha nasceu.
Quando Martha era jovem, a situação social e econômica da maioria dos negros na Alemanha era precária devido à discriminação, tornando impossível para ela encontrar um emprego decente. "Ela se voltou então para a prostituição e pequenos crimes para sobreviver", conta Robbie Aitken, que também documentou o caso desses dois indivíduos.
Os nazistas a prenderam, por fim, por ser uma "criminosa profissional associal". Em 9 de junho de 1944, Martha foi enviada para o campo de concentração de Ravensbrück, onde morreu em 5 de fevereiro de 1945.
Ferdinand James Allen: vítima do programa de eutanásia
A segunda pedra foi inserida na Torstrasse 176-178, o último endereço de Ferdinand James Allen, nascido em 1898.
Seu pai, James Cornelius Allen, era um músico negro britânico natural do Caribe que morava em Berlim. Sua mãe, Lina Panzer, era alemã, e também vivia na capital.
Como negro, Ferdinand enfrentava dificuldades para sobreviver – e além disso, sofria de epilepsia.
Ele acabou sendo esterilizado conforme a Lei Nazista de 1933 para a Prevenção de Filhos com Doenças Hereditárias. De acordo com Aitken, também foi devido à sua saúde e condição biológica que ele foi morto no hospital psiquiátrico de Bernburg, em 14 de maio de 1941, como parte da campanha nazista de extermínio em massa por eutanásia involuntária, a chamada Ação T4.
Mahjub bin Adam Mohamed: fim no campo de concentração de Sachsenhausen
Com essas duas novas Stolpersteine instaladas em 29 de agosto, Berlim possui atualmente três memoriais para vítimas negras da Alemanha nazista.
A primeira fora em 2007, em homenagem a Mahjub bin Adam Mohamed.
Mahjub bin Adam Mohamed nasceu em 1904 em Dar es Salaam, a atual capital financeira da Tanzânia. Na época, a cidade fazia parte da África Oriental Alemã, que incluía os atuais territórios de Tanzânia, Ruanda e Burundi. Lá, ele serviu como criança-soldado para o exército colonial alemão, mudando-se mais tarde para Berlim, em 1929, pouco antes de os nazistas tomarem o poder em 1933.
Com dificuldades financeiras devido à discriminação, Mahjub teve que aceitar diversos empregos, incluindo trabalhar como professor de suaíli, garçom em hotéis e ator em vários filmes coloniais.
Por seus casos amorosos com mulheres alemãs, os nazistas o acusaram de "transgressão das barreiras raciais". Em 1941, Mahjub acabou sendo enviado ao campo de concentração de Sachsenhausen, onde morreu em 24 de novembro de 1944.
Sua pedra de tropeço pode ser encontrada na frente de sua última residência, na Brunnenstrasse 193, local onde foi detido.
Pedras comemorativas para vítimas negras
Essas três pedras comemorativas não estão distantes uma da outra, no bairro de Mitte, em Berlim, onde vivia a maioria dos berlinenses negros na época, segundo Robbie Aitken.
"Eram sobretudo comunidades negras pobres e, mesmo quando tinham dinheiro, não eram aceitas em outros bairros", destaca o ativista tanzaniano Mnyaka Sururu Mboro, residente na capital alemã.
Além das três pedras de tropeço para vítimas negras da perseguição nazista em Berlim, há uma quarta em Frankfurt, na Marburgerstrasse 9.
Trata-se de uma homenagem a um sul-africano, Hagar Martin Brown, nascido em 1889 e trazido para a Alemanha para ser empregado de uma família aristocrática. Durante o Terceiro Reich, ele foi usado por médicos como cobaia de medicamentos, o que acabou levando à sua morte em 1940.
Uma pesquisa em andamento
O professor Robbie Aitken, que é coautor de um livro sobre o assunto – Black Germany: The Making and Unmaking of a Diaspora Community (Alemanha Negra: A construção e a desconstrução de uma comunidade da diáspora) – , desenvolve atualmente sua pesquisa sobre a experiência negra na Alemanha nazista para um trabalho futuro.
O historiador também conseguiu descobrir alguns casos esquecidos investigando reivindicações de indenizações feitas por vítimas negras no período pós-guerra.
"Espero que haja mais Stolpersteine no futuro", disse ele. "Claramente, houve mais vítimas negras, mas a dificuldade está em encontrar evidências documentais concretas para provar a vitimização. A dificuldade reside na destruição dos registros pelos nazistas". Além disso, acrescenta, os raros documentos remanescentes também são difíceis de localizar.
Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/negros-as-v%C3%ADtimas-esquecidas-da-era-nazista/a-59115536
Campanha leva ao Senado proposta para criação de fundo de amparo aos órfãos da Covid-19
Objetivo é obter 20 mil apoios, quantidade necessária para que a proposta possa ser analisada como sugestão legislativa e ser debatida pelos Senadores
Com o objetivo de criar um Fundo de Amparo aos órfãos de todo o Brasil, a Campanha Órfãos da Covid-19 está registrada no site e-cidadania do Senado Federal. Entidades como a Anjos do Bem em Brasília (DF), o Instituto de Pesquisa e Ensino para o Desenvolvimento Sustentável - IPEDS, em Manaus (AM) e a Rede de apoio às famílias das vítimas da Covid em São Paulo (SP) apoiam a iniciativa.
A meta é obter os 20 mil assinaturas necessárias para levar a proposta para dentro do Senado Federal. Em paralelo à campanha, estão sendo arrecadados alimentos que poderão ser entregues em Manaus, na sede do Instituto IPEDS - contato com a Glauce Galucio (92) 99248-0221; em São Paulo, para a Rede de apoio às Famílias das vítimas da Covid-19 - contato com Paulo Pedrini (11) 99772-0491 e Danilo Cesar (11) 93011-3281 e, em Brasília, para a Anjos do Bem em contato com Renata (61) 99820-5635 ou com Walberto Maciel (61) 98419-1427.
Para confirmar o apoio para a aprovação da campanha no Senado Federal, acesse o link https://is.gd/wKEz12.