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Vera Magalhães: Episódio levou presidente à capitulação pública
Carlos Bolsonaro pode cantar vitória e se vangloriar de ter derrubado um desafeto. Mas o filho mais ativo do presidente da República tratou de criar a primeira fissura importante no casco da popularidade do pai, o forçou a uma capitulação pública em vídeo para evitar (ou tentar) que Gustavo Bebianno falasse o que viu no tempo em que foi um aliado da família e bagunçou o coreto da política às vésperas de o governo enfrentar sua principal batalha, a da reforma da Previdência.
O vídeo em que, visivelmente constrangido, Bolsonaro fala nada com nada a respeito da saída de seu secretário-geral da Presidência e diz que “tem de reconhecer” a dedicação, o empenho, o esforço, o comprometimento (só faltou falar dos belos olhos) de um de seus apoiadores de primeira hora é uma confissão pública de que o presidente tem o que temer.
Nada disso teria sido necessário se não fosse o afã de Carlos de derrubar um desafeto – que só o é por conta da paranoia ideológica que guia a leitura de mundo e de política dos filhos do presidente. Conseguiu seu intento, mas a que preço?
Corroeu parte da credibilidade do pai junto aos militares, que se assustaram com a presença tóxica da família em assuntos de Estado, escancarou o telhado de vidro do clã com o que Bebianno pode saber e queimou todo o seu próprio crédito logo na primeira mesada como filho do presidente.
Sim, porque se Bebianno caiu, Carluxo também terá de sair de cena publicamente, ao menos por um tempo. Foi com isso que Bolsonaro se comprometeu diante dos muitos bombeiros que tentaram apagar o fogo que ele mesmo acendeu.
Vera Magalhães: Autocombustão
Crise que prolonga paralisia de governo que mal começou foi fabricada pelo presidente
O governo Jair Bolsonaro já estava paralisado sem nem ter começado. A expectativa era de que essa letargia cessaria com a alta do presidente da República após duas semanas de internação. Mas a prioridade de Bolsonaro e família ao deixar o hospital não era a reforma da Previdência, mas incinerar um aliado nas redes sociais, sem se dar conta de que a chama poderia voltar e chamuscar o próprio governo.
A semana terminou com Gustavo Bebianno ainda pendurado ao cargo por um fio. Parece que Bolsonaro vai demiti-lo oficialmente na segunda-feira, mas não é bom cravar nada. Afinal, o presidente chamou o seu secretário-geral da Presidência de mentiroso enquanto ainda estava no hospital, deixou o filho brincar de fritá-lo no Twitter, deu ordem para mantê-lo no cargo e, depois, o demitiu verbalmente. Mas nada está formalizado. Este, aliás, não é um governo que se atenha a formalidades.
Num show de horrores digno de programa de barraco familiar vespertino, Carlos Bolsonaro deixa vazar áudios privativos do presidente e o ministro atingido replica fazendo vazar conversas suas com o mesmo presidente. Eis a “nova era” da comunicação direta com o povo. Um coquetel perigoso de despreparo, arrogância, autoritarismo e ingenuidade leva os Bolsonaros a jurarem que estão revolucionando a forma de fazer política e se comunicar, mas se esquecem de que as armas que usam para aniquilar inimigos (mesmo aqueles que eram amigos até ontem) podem se voltar contra eles. Afinal, se não há privacidade assegurada, vale tudo na selva das redes sociais.
Quem mais tem a perder com isso é quem tem mandato. No caso, o presidente, que insiste em brincar no Twitter ou bancar o sujeito bonachão que se deixa fotografar de chinelo e camiseta pirata de time de futebol enquanto arbitra o futuro dos brasileiros na questão mais relevante de seu governo.
Acontece que o teatro do caos vai cansando mesmo aqueles que votaram nele. Sim, porque o coquetel demoníaco a que me referi faz com que o clã tuiteiro viva a ilusão de que o patriarca foi eleito única e exclusivamente pelas redes sociais, quando muitos apenas taparam o nariz e apertaram o 17 achando que era menos pior que o 13 do PT, que levou o País à bancarrota.
Bolsonaro foi eleito por 57.797.456 de pessoas. Menos que os 58.151.241 que votaram em Fernando Haddad, em branco ou nulo. Quando se somam a esse contingente de votos contra ele os 31.371.704 que se abstiveram, tem-se um número que deveria ser eloquente para qualquer mandatário sensato ver que precisa mostrar serviço sob pena de ver a popularidade ruir.
Agora, paralelamente à apresentação de um texto que mexe diretamente com a vida das pessoas, como é a reforma da Previdência, tem-se a encenação de uma ópera bufa da demissão de alguém que sabe tudo da vida da família Bolsonaro. O presidente parece não se lembrar de que Bebianno, antes de ministro do palácio e coordenador da campanha, foi seu advogado! Conhece, portanto, o histórico patrimonial da família, as relações de amizade, as entranhas dos gabinetes de todos e os acordos que foram feitos para o desembarque da tropa bolsonarista no PSL, que era e continua sendo uma legenda de aluguel nas mãos de Luciano Bivar.
O poder que tem alguém com esse nível de acesso, humilhado reiteradamente e com uma clara disposição de não ter a reputação destruída, é imprevisível. A frase dita a mim por Bebianno dá uma pista do que está por vir: “O que eles que chamam de inferno, eu chamo de lar”. A citação não é de nenhum filósofo. Como uma boa metáfora da era Bolsonaro, ela é o slogan do segundo filme da série Rambo, que retrata um militar expurgado, armado até os dentes e disposto a tudo para se vingar.
Vera Magalhães: E, de novo, vai sobrar para os generais contornar a crise
Com 44 dias de mandato, dos quais 15 passou internado, Jair Bolsonaro promoveu ontem um processo de fritura de um ministro que começou pelas redes sociais e tendo o filho como instrumento, evoluiu para uma entrevista à TV e colocou até Sérgio Moro no olho do furacão de uma crise política que preocupa os militares e não se sabe que extensão terá.
Gustavo Bebianno praticamente foi demitido no ar por Bolsonaro, depois de um dia inteiro sob óleo quente no qual foi colocado primeiro por Carlos Bolsonaro e, depois, pelo pai em pessoa.
Embora pouco seja visto nesta função, “Carluxo” tem mandato de vereador no Rio. Mesmo não tendo cargo na gestão do pai, é um de seus principais protagonistas. Chamou de mentiroso pelo Twitter o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Para corroborar sua tese, divulgou na mesma rede o áudio de uma conversa privativa de Bolsonaro com o auxiliar.
A indisposição de Carlos com Bebianno remonta à campanha. Por pouco ele não ficou sem ministério, mas a gratidão do então presidente eleito ao advogado, que comandou o PSL na campanha, superou a birra do filho. Agora, a suspeita de que mais de uma seção estadual do partido usou laranjas para destinar recursos do Fundo Partidário foi o pretexto para “Carluxo” voltar à carga, sob os auspícios do pai.
Caberá aos generais tentar contornar a bagunça. A área de inteligência do governo considera precedente gravíssimo o vazamento de conversas privativas do presidente. Também não aprova a interferência da família na gestão. Ao autorizar a impostura do filho e endossá-la, Bolsonaro mostra que não entende a dimensão republicana do cargo que ocupa. Mais digno seria demitir o ministro de uma vez.
Bebianno, aliás, disse que não pedirá demissão pois não fez nada de errado no caso do laranjal do PSL. O risco político de se fritar um aliado que sabe muito é que, ao cair, ele pode decidir não sair pela porta dos fundos do palácio. E então estará armada uma crise cujos desdobramentos podem implodir o partido do presidente e dificultar a aprovação da reforma da Previdência. Não custa lembrar que ela estava prestes a ser aprovada no governo Michel Temer quando veio o caso JBS e implodiu tudo.
Vera Magalhães: Equilíbrio frágil
Se der certo arranjo que une adversários de antes num suposto pacto pró-superação da crise, aumentam as chances de a reforma da Previdência prosperar
Às vésperas da volta de Jair Bolsonaro, o governo tenta armar o meio de campo da articulação política para que o presidente arbitre, finalmente, a proposta de reforma da Previdência que mandará ao Congresso. No domingo, alertei que esta composição não era mera contagem de base aliada na Câmara e no Senado. A concertação com o Judiciário e o Ministério Público tem um peso crucial para as chances de sucesso da emenda. E os movimentos desta semana demonstram que o Planalto tem consciência disso. Se a composição será bem-sucedida e duradoura é mais complexo de estimar.
O almoço que reuniu o presidente do STF, Dias Toffoli, e o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) forneceu a imagem necessária a passar o recado aos exércitos de lado a lado: a hora é de distensionar as relações entre Executivo e Judiciário. Por isso, nada de marolas.
Alguns fatos aparentemente isolados atendem a esse comando: a Receita veio a público informar que o ministro Gilmar Mendes não é alvo de investigação; no Senado, a CPI da Toga morreu antes de nascer; nas redes sociais, foram silenciados os clamores pela revogação da emenda que esticou a aposentadoria compulsória dos juízes, a chamada “PEC da Bengala”, ideia que estava sendo vendida como forma de “expurgo” dos ministros hostis ao governo.
Por fim, o ministro Luiz Fux suspendeu duas ações penais contra Bolsonaro. Ora, dirão, a Constituição determina que presidentes não podem ser processados por fatos anteriores ao mandato. Verdade. Mas não custa lembrar que ainda ontem Michel Temer era presidente e isso não foi óbice para que enfrentasse inquéritos que escrutinavam sua vida e a da família.
Toffoli tem feito vários acenos a um suposto “pacto” para que o País supere suas múltiplas crises. Isso, no entanto, não impede sinais trocados, como a liminar concedida por ele mesmo na madrugada de um sábado enfiando a colher de pau na eleição para a presidência do Senado.
É frágil esse arranjo que une adversários de antes num suposto pacto pró-superação da crise. Se der certo, aumentam as chances de a reforma da Previdência prosperar. Falta chamar um ator para o baile do entendimento: o Ministério Público, que organiza um indecente piquete contra a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pela perda de privilégios. E que vai tentar inviabilizar a reforma, pela mesma razão.
MEIO AMBIENTE
Brumadinho não mudou dogmas do governo para política ambiental. Mais do que a falsa polêmica sobre o que Ricardo Salles acha ou deixa de achar de Chico Mendes, a entrevista do ministro do Meio Ambiente ao Roda Viva foi ilustrativa de que a tragédia de Brumadinho, que resultou na morte de mais de 300 pessoas, não alterou a forma como ele e o governo Jair Bolsonaro enxergam a questão ambiental.
Nas palavras de Salles, fiscalização, regulamentação, licenciamento, preservação e metas são sempre sinônimos de estorvo ao desenvolvimento econômico, e não preocupação real que tem impacto na vida das pessoas e no futuro do País.
O ministro despreza estatísticas em nome de “causos” exóticos evocados para demonstrar a ineficiência da fiscalização e das normas.
O que colocará no lugar não fica claro. Mesmo depois de Brumadinho, segue falando em termos como autolicenciamento. Entope de ideologia o debate que pretensamente quer desideologizar. Nesse contexto, o que Salles acha de Chico Mendes é o menor dos problemas.
Vera Magalhães: A falta que faz a política
Estigmatizada na campanha, prática será a diferença entre sucesso e fracasso do governo
O governo Jair Bolsonaro, em seus dois primeiros meses, sofre de um déficit absoluto de política. Acontece que a prática - estigmatizada ao longo dos últimos anos, num processo que atingiu seu ápice na última campanha eleitoral - será a grande definidora do sucesso ou do fracasso da gestão do ex-capitão, algo que ele, seus auxiliares e entusiastas parecem ainda não se dar conta.
O vácuo da política não é perceptível apenas na falta de articulação entre Executivo e Legislativo, algo que pode ser explicado pela inexperiência de ministros e parlamentares e pela ausência do presidente devido a nova cirurgia a que se submeteu.
Falta interlocução entre os principais agentes do governo e instâncias como o Judiciário, a imprensa e os expoentes dos setores econômicos. Ainda impera entre os novos inquilinos do poder a sensação, entre ingênua e messiânica, de que se pode levar quatro anos de governo nas mesmas bases que vigoraram na campanha, com Deus acima de todos, muito lero-lero no Twitter, doses cavalares de bobajol ideológico e a esperança de que Paulo Guedes e Sérgio Moro façam o trabalho difícil e cuidem do que de fato importa.
Não há política nem mesmo na relação entre o presidente e o vice, Hamilton Mourão, que por cisma da família Bolsonaro passou a ser visto como alguém inconfiável, incapaz de assumir o dia a dia da administração enquanto o titular está obviamente impossibilitado de fazê-lo, às voltas com a recuperação que se vendeu como simples e rápida, quando não era.
É bem provável que, caso Guedes tenha sucesso na virtuosa pauta de sua pasta - que tem a reforma da Previdência, a desburocratização da economia, a simplificação tributária e a redução do paquiderme estatal como carros-chefes -, Bolsonaro colha uma popularidade de longo prazo e se reeleja.
Mas, para que ele obtenha esse êxito, há um longo e tortuoso caminho de negociação com o Congresso, convencimento da sociedade e blindagem para esperadas tentativas de frear essas iniciativas pela via da judicialização.
Essas forças são organizadas. São os deputados e senadores, que estão com seus canais de atuação política tradicional obstruídos pela forma de a “nova era” lidar com o Congresso; os sindicatos, ligados a uma oposição ainda em ritmo de tartaruga, mas que vai acordar, e corporações que reagirão à redução dos seus privilégios com a reforma da Previdência, entre as quais, as mais poderosas são o Judiciário e o Ministério Público.
Achar que se pode ir para uma batalha de votos no Congresso diante desses adversários tendo como forças apenas o apoio popular a Bolsonaro - que, aliás, não tem relação direta com uma pauta indigesta como a da Previdência -, as redes sociais e uma “nova” articulação política feita no varejo, e sem levar em conta os partidos e as lideranças, parece ser o caminho para o fracasso.
Quem percebeu isso nitidamente, até agora, foi só o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Na ausência de Bolsonaro e diante da paralisia que se abateu sobre o Planalto sem ele, tem sido o presidente da Câmara o mais realista ao dizer que, até aqui, não se sabe que base é essa com a qual o governo pretende contar. E que entupir o Congresso ao mesmo tempo com reforma da Previdência, pacote anticrimes e um caminhão de projetos na área de costumes apresentados por novos deputados ávidos por um holofote é meio caminho andado para o fracasso em todas as frentes.
No fim, será a política - nem nova nem velha, a única digna do nome - que separará lacradores de legisladores e candidatos de governantes. Quanto antes Bolsonaro e os seus perceberem isso, maiores as chances de o governo sair da paralisia em que está e engrenar.
Vera Magalhães: Negociação inevitável
A área política do governo está convencida de que a reforma ambiciosa consignada na minuta divulgada pelo Estado não é muito palatável nem a Jair Bolsonaro nem ao Congresso. Daí porque três ministros opinaram à coluna que será preciso suavizar a proposta para que ela seja aprovada. A divergência é qual o melhor momento para começar a fazer concessões: se antes de fechar o texto do Executivo ou já no parlamento.
A divulgação antecipada do texto serviu como termômetro da reação da sociedade. O entusiasmo do mercado e dos especialistas e a ausência de gritaria maior por parte de corporações foram considerados sinais positivos para a largada. O temor era de que uma oposição vigorosa a um texto que ainda não é final, pois não passou pelo crivo de Bolsonaro, pudesse queimar a largada da campanha publicitária que o governo prepara para embalar a reforma numa narrativa favorável. Ela será na linha de que tirar o peso excessivo do sistema previdenciário sobre as contas públicas vai liberar o Estado para prestar serviços melhores e realizar investimentos que permitam a retomada do emprego e dos gastos sociais. Nas palavras de um dos negociadores, humanizar a ideia de reformar a Previdência.
A vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e a disposição do presidente da Câmara de fazer a reforma avançar rápido são motivo de alívio nos diferentes gabinetes do Executivo. A ordem é, inclusive, tratar Maia como corresponsável pela reforma, dividindo com ele os louros (e, portanto, a responsabilidade de chegar aos 308 votos necessários) pela sua aprovação. Isso porque os negociadores de Bolsonaro se lembram dos atritos entre ele e a equipe de Michel Temer e querem evitar esses tropeços – ainda mais de obstáculos já esperados no Senado.
SENADO 1
Impasse no PSDB atrasa acordo para Mesa e comissões
O acordo para contemplar a senadora Simone Tebet (MDB) com a presidência da Comissão de Constituição e Justiça esbarra numa disputa interna do PSDB. O partido topa ceder a CCJ para Simone, mas isso leva a uma disputa pela primeira vice-presidência da Casa. O presidente Davi Alcolumbre (DEM) quer Antonio Anastasia no posto, mas o também tucano Izalci Lucas ameaça sair do partido se não for contemplado.
SENADO 2
Planalto preocupado com ira de Renan contra Flávio Bolsonaro
Preocupa o Planalto a ira com que Renan Calheiros (MDB) tem se referido a Flávio Bolsonaro mesmo depois de passados alguns dias de sua derrota na disputa pela presidência do Senado. Ele continua atribuindo ao filho do presidente a decisão de desistir. Ministros dizem que terão de atuar para serenar os ânimos, embora avaliem que o emedebista já não tem o mesmo potencial de causar estragos que já teve no passado.
SEGURANÇA
Risco de contrabando ronda pacote de Moro
Tão logo chegue ao Congresso, o pacote anticrime de Sérgio Moro enfrentará uma chuva de emendas que pode desconfigurá-lo. Deputados novatos do bloco bolsonarista, ansiosos por corresponder à demanda da sociedade por projetos na área de segurança pública, veem na proposta do superministro, que vai angariar todos os holofotes da área no primeiro semestre e deverá ter prioridade para tramitar em relação a outros projetos de lei, a chance de surfar na onda popular. Propostas como a redução da maioridade penal e a flexibilização do porte de armas, que não têm relação direta com os principais objetivos da proposta de Moro, podem ser colocadas de contrabando na discussão. O ex-juiz terá de mostrar jogo de cintura de negociação política – algo para que ainda não foi testado – para evitar os penduricalhos. Ele é contra a liberação do porte de arma, o que será foco de controvérsia com apoiadores do presidente. A negociação será necessária também para se contrapor às tentativas na mão contrária: de esvaziar o pacote dos itens que incomodam os políticos, como o que tipifica caixa dois como crime eleitoral.
Vera Magalhães: Levanta, Senado!
Cenas lamentáveis de 2019 são o ápice de uma deterioração que começou em 2000
A derrota de Renan Calheiros é um marco delimitador de uma crise do Senado que durou quase 20 anos. Curiosamente, o processo começou com uma briga de titãs entre PMDB e PFL, nas figuras de Jader Barbalho e Antonio Carlos Magalhães, e ontem teve seu episódio mais bizarro protagonizado por MDB e DEM, as versões repaginadas no nome, mas não nas práticas, dos mesmos partidos.
Em 2000, o Senado cassou o primeiro senador de sua história, o hoje presidiário Luiz Estevão. Começava ali a deixar de ser a Casa das altas discussões e da aposentadoria dos políticos para frequentar o noticiário policial. Naquela votação, o então todo-poderoso ACM exigiu que uma funcionária do Prodasen, Regina Célia, extraísse e lhe fornecesse a lista de como votaram os senadores, em escrutínio secreto.
Estevão era do PMDB de seu arqui-inimigo Jader. ACM passou a usar a lista para chantagear senadores que votaram no escurinho para salvar o mandato do brasiliense. A violação se tornou pública, ACM teve de renunciar ao mandato para não ser cassado, logo em seguida Jader enfrentou o mesmo processo e o Senado nunca mais voltou a ser o mesmo.
Renan, o velho Renan, viveu seu calvário em 2007, quando sobreviveu a cinco pedidos de cassação sucessivos. Começou com a acusação de que usara dinheiro de empreiteira para pagar pensão à filha que teve com uma amante, resvalou para negócios mal explicados com a compra de gado, desaguou em denúncias de uso de laranjas para emissoras de rádio e outros problemas. Se safou de todas.
Dois anos depois foi a vez do escândalo dos atos secretos de José Sarney, unha e carne com Renan. De novo, um peemedebista se safou de sucessivos pedidos de cassação. De novo no voto secreto. O reinado do PMDB no Senado dura desde 2001, com um breve período, na renúncia de Renan, em que o petista Tião Viana (AC) assumiu.
O desespero demonstrado pelo antes frio e calculista Renan, distribuindo em público, a golpes de cusparadas no microfone, as ameaças que sempre fez a seus pares em privado, foi a reação de um dos poucos sobreviventes da onda de renovação de outubro às evidências de que, por mais que ainda use as manobras nas quais é expert, seu tempo está chegando ao fim.
Renan caiu. Teve sua maior derrota no Senado. Foi vaiado por senadores novatos, desafiado dentro da bancada, derrotado no voto secreto. Levou um nó tático até mesmo em matéria de manobras de um novato como Davi Alcolumbre e de um articulador político neófito e questionado, o ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, que sai vitorioso de sua primeira batalha.
Tal qual o inseto que citou duas vezes, o tal cavalo do cão, que tem uma ferroada considerada letal e enfrenta mesmo bichos maiores, Renan tentará ir à forra da derrota tendo o governo Jair Bolsonaro como alvo. Antes um entusiasta das reformas, deve passar ato contínuo a miná-las.
A reforma da Previdência começa na Câmara, onde deverá ter o trâmite facilitado pela vitória sem sobressaltos de Rodrigo Maia (DEM). Depois chegará ao Senado.
Por mais que tente armar a picada, Renan, o cavalo do cão, está com o enxame reduzido a poucos espécimes. Alguns do MDB e outros de um anêmico PT, que foi um coadjuvante assustado da batalha do Senado, como já havia sido na Câmara.
A queda de Renan mostra que os ecos de outubro de 2018 não se restringiram à onda que varreu velhas raposas, ainda que algumas tenham se segurado nos galhos. Não fosse a opinião pública, talvez o emedebista tivesse conseguido operar no terreno em que antes era mestre. Sua queda encerra um ciclo de 20 anos de crises no Senado.
Que depois de uma catarse pública vexatória nos últimos dois dias a Casa volte a ser a Câmara alta e deixe de se rebaixar.
Vera Magalhães: Entre novos e velhos políticos, Congresso terá papel central
A semana em Brasília foi marcada pela despedida de velhas raposas, a chegada de novos rostos e a tentativa dos sobreviventes ao tsunami que virou o Congresso de ponta-cabeça de se adaptar ao novo ecossistema. A dinâmica de como essas forças vão se acomodar deverá ditar o sucesso de parte substancial da agenda do governo Jair Bolsonaro, daí a importância de se olhar para o Legislativo desde hoje, o dia 1.
Paulo Guedes, o ministro da Economia, acabou se transformando, num sinal dos novos tempos, numa espécie de avalista dos que almejam comandar as duas Casas do Parlamento. Rodrigo Maia (DEM) e o “novo” Renan Calheiros (MDB) buscaram antes a interlocução do “posto Ipiranga” que a dos responsáveis pela articulação política do governo, o que é mais do que sintomático de qual será a prioridade daqui em diante.
O bom trânsito com os congressistas é uma prioridade da equipe de Guedes. O convencimento de que a reforma da Previdência corrige distorções, dirime privilégios e, sobretudo, será a garantia de que Estados e municípios voltarão a investir e que os serviços públicos melhorarão começou a ser feito antes mesmo da posse de hoje.
A ordem é que o projeto chegue à Câmara já mastigado, com a narrativa ditada pelo governo, e não apropriada pela oposição, como ocorreu com Michel Temer. “Precisamos dar conforto para que os deputados e senadores votem”, me disse um dos comandantes das negociações.
A dúvida maior do governo recai sobre o Senado. Renan saiu vitorioso na bancada do MDB, mas a divisão ficou explícita ali e também está no plenário. A avaliação é de que, se vencer, ele pode até apoiar as reformas, mas cobrará um preço alto demais – e que certamente irá contra a pregação de Bolsonaro de renovação política.
Vera Magalhães: A incógnita do Senado
É delicada a situação do MDB no Senado. Retirado, juntamente com PSDB e PT, do centro da política brasileira pelas urnas, o partido tem na presidência da Casa a sua última chance de ter relevância no jogo institucional, e sabe bem disso. Nesta circunstância, vai para a disputa dividido entre um sobrevivente dos velhos tempos, Renan Calheiros (AL), e uma senadora de perfil mais independente – e, assim, mais palatável a um acordo com outras forças –, Simone Tebet (MS).
O presidente do partido é Romero Jucá (RR), de quem se pode falar o que quiser, menos que não seja um exímio leitor do cenário político. Ele tenta costurar nos bastidores a desistência do amigo e aliado de sempre Renan, não por outra razão que não seja a de entender que, a insistir na candidatura, o alagoano pode levar o partido a perder tudo.
Há quem duvide desse súbito afastamento entre Jucá e Renan. Afinal, Simone Tebet é considerada “incontrolável” pela cúpula partidária. Então, por que passariam a trabalhar por ela? A resposta parece ser: pelo pragmatismo de sempre. Seu nome é mais palatável tanto ao governo quanto a partidos como PSDB, DEM e PSD.
Senadores experientes notam que declarar abertamente o voto contra Renan vai virar o “atestado de moralidade” que senadores de vários partidos, novatos ou veteranos, vão querer ofertar à sociedade. Quem conhece Renan acha que ele não insistirá na candidatura se sentir que vai perder, o que ficará mais claro na nova reunião da bancada, na quinta-feira. O grupo dos demais candidatos à presidência da Casa até admite apoiar a senadora sul-mato-grossense, mas desde que ela consiga vencer a disputa na bancada antes.
CÂMARA
Maia tenta blitz final para vencer no primeiro turno
Rodrigo Maia (DEM) avançou muitas casas com a decisão do MDB de apoiar sua reeleição para o comando da Câmara. Ainda que o folclórico Fabio Ramalho (MG) mantenha a candidatura até o final (o que é dúvida, pois o tiraria da Mesa Diretora, onde ele mantém seu feudo fisiológico), aliados de Maia acreditam que ele está próximo de assegurar a vitória em primeiro turno. Para isso, fará uma blitz final para tentar dissuadir o Partido Novo de manter a candidatura de Marcel Van Hattem, que reúne dissidentes do PSL e outras adesões avulsas. O deputado gaúcho garante que não desistirá.
Deixa esfriar. Governo deve conter ímpeto de intervir na Vale Foto: Washington Alves/Reuters
BRUMADINHO
Falas do governo sobre Vale nascem do clamor popular
As falas do governo sobre a possibilidade de convocar uma reunião do conselho da Vale para tentar liderar uma maioria para destituir a diretoria da empresa mostram antes um afã de dar resposta ao clamor da sociedade por punições que uma disposição política consensual. Isso porque há sérias dúvidas sobre qual seria a melhor maneira de atuar no caso – a via judicial, por exemplo, é considerada fora de cogitação. O temor de setores do governo é o de agravar a situação da empresa internacionalmente – e, consequentemente, a imagem do Brasil num momento em que busca atrair investimentos. A convalescência de Jair Bolsonaro deve ser usada para que o ímpeto vá morrendo aos poucos. A expectativa é de que a Justiça, que está agindo de maneira mais célere agora que em casos como o de Mariana, dê as respostas que a população cobra, enquanto o governo se concentra nas questões relativas ao marco legal da mineração, à regulação e à cobrança de multas.
Vera Magalhães: A hora do Congresso
Parlamentares estarão à altura de votar importantes mudanças econômicas?
O Congresso que assume na próxima sexta-feira é profundamente diferente do anterior. Foram varridos caciques políticos que há décadas pontificavam nos plenários da Câmara e do Senado, oscilando como pêndulos na órbita do governo de turno, perpetuando oligarquias da velha política na base do fisiologismo raiz.
Agora, os últimos remanescentes dessa era geológica da política, como Renan Calheiros, dividirão a ribalta, e lutarão pela sobrevivência, com os espécimes da chamada “nova política”. Não se trata de um grupo homogêneo por nenhum prisma que se analise: social, político-ideológico ou cultural.
As urnas despacharam para Brasília mais representantes de igrejas, um número recorde de parlamentares de farda, uma quantidade considerável de youtubers e expoentes de outras mídias sociais, representantes de movimentos ativistas e paraquedistas eleitos de carona pura e simples na onda Jair Bolsonaro (caso do tio do dog que teve a sacada de fazer os sanduíches batizados com o nome do então candidato).
Que bicho isso vai dar, é impossível dizer antes que a legislatura comece. Justamente porque o caráter heterogêneo das duas Casas, a pulverização partidária que houve nas eleições, a renovação inclusive etária, o apelo midiático trazido na bagagem pelos novos eleitos e as tarefas muitas vezes contrárias a essas características que os esperam podem causar um caldo de cultura bastante complexo e imprevisível.
Os primeiros testes antes mesmo da posse já mostraram que não será trivial. Empolgado com um convite irresistível, um grupo de novos parlamentares do PSL, o partido do presidente da República, foi à China, com direito a ampla cobertura em suas estridentes redes sociais, conhecer uma tecnologia de reconhecimento facial que poderia ser trazida para o Brasil. A casa caiu. Foram acusados pelos próprios colegas, gurus e seguidores de traidores da Pátria. Sentiram no cangote o calor que gostam de impingir aos inimigos. Gaguejaram, titubearam.
O mesmo PSL fechou, no início do mês, o apoio a Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, a partir de um cálculo pragmático de que o deputado do DEM seria o mais talhado para ajudar o governo Bolsonaro a conduzir as reformas. A casa caiu. Foram de novo acusados pelos seguidores de vendilhões do templo, de terem sido cooptados pela velha política, traindo os desígnios de seus eleitores.
Resultado: o partido rachou e pode passar de dez a dissidência na bancada que vai apoiar o candidato-calouro do Partido Novo, uma sigla que nem estreou na Casa, mas já quer sentar na cabine do piloto e comandar a votação da emenda constitucional da reforma da Previdência, aquela que vai determinar se o País vai sair do buraco em que o PT o enfiou ou continuar chafurdando lá no fundo. Lembra em muito o filme Picardias Estudantis, que é dos anos 1980, então não deve ter sido assistido pelos jovens parlamentares.
Esses dilemas algo juvenis estarão a todo momento colocados diante do novo Congresso. Trocar uma geração de dinossauros por sangue novo pode ser auspicioso, mas também vai implicar, em muitos momentos, que se perca tempo com discussões típicas de centros acadêmicos, de um lado, e com guerras puramente ideológicas e de pouco ou nenhum ganho prático para o País, de outro, como o projeto alegórico do Escola sem Partido.
Enquanto isso, os temas para adultos, aqueles que levarão seus defensores inevitavelmente a sangrar nas redes sociais, a enfrentar apavorantes dislikes em seus vídeos, esses vão depender de uma articulação política neófita, com parlamentares neófitos e um governo de marinheiros de primeira viagem. São as dores do crescimento.
Vera Magalhães: Guedes salva o dia
Jair Bolsonaro perdeu a chance de fazer história em Davos. O ineditismo de um presidente sul-americano abrir o Fórum Econômico Mundial foi desperdiçado com uma fala mais curta que o mínimo necessário para enunciar alguma plataforma, mais genérica que o necessário para convencer um público tão qualificado e, principalmente, completamente desprovido de senso de liderança e convicção de estadista.
Daí que a reforma da Previdência, o projeto que vai definir o sucesso de sua Presidência, tenha ficado fora da fala. Certamente não foi por falta de tempo, uma vez que o discurso, lido no teleprompter em tom vacilante, teve seis parcos minutos.
Ao deixar de fora o tema que a plateia mais queria ouvir, Bolsonaro passou aos investidores – que pareceu querer atrair enaltecendo nossas belezas naturais – o recado de que vacila quanto a firmar um compromisso com a reforma.
Coube a Paulo Guedes consertar as coisas na palestra que fez depois a investidores, organizada por um banco, em que por 90 minutos detalhou os planos do governo para a economia e assegurou que a mudança no sistema previdenciário será aprovada.
Claro que não se pode comparar a natureza dos dois discursos. Mas dá para pedir ao presidente o tal compromisso e cobrar um plano para reerguer a economia, como, aliás, fez o presidente executivo do fórum, Klaus Schwab, ao tentar espremer algo de concreto de Bolsonaro. A reforma será uma tarefa difícil de levar a cabo. Dizer naquele palco que ela é a prioridade era o recado que Bolsonaro poderia passar.
EM FAMÍLIA
Ideia de que Previdência é tema ‘doméstico’ prevalece
A pista de que o discurso de Bolsonaro em Davos não seria, como afirmavam ministros nas semanas anteriores à viagem, o momento para que o presidente firmasse o compromisso com a reforma da Previdência foi dada na véspera, quando Eduardo Bolsonaro, o filho deputado e que tem pretensões a influenciar a política externa do governo, opinou, com a convicção que lhe é peculiar, que o assunto não interessaria ao público do Fórum Econômico Mundial, por ser muito “doméstico”. O vaivém da definição do teor do discurso até a véspera de um evento tão importante foi um aperitivo do tipo de impasse que pode acontecer num governo tão dividido em grupos muitas vezes com visões e interesses antagônicos.
VICE
Mourão pode ser negociador da reforma junto aos militares
Os ruídos da campanha eleitoral, quando Hamilton Mourão causou sobressaltos para o candidato Jair Bolsonaro com declarações fora do tom, levaram a que a desconfiança pautasse a relação inicial do general com o capitão. Mas a forma bastante razoável com que Mourão tem tratado da necessidade de os militares serem incluídos na reforma, destoando do resto dos oficiais em postos-chave do governo, deveria ser aproveitada pelo presidente como um ativo na negociação. Está claro que, com a configuração dada por Bolsonaro à sua equipe, os militares tendem a ganhar uma queda de braço no mano a mano com a equipe econômica “no tocante” ao enquadramento nas novas regras de aposentadoria. Mourão pode atuar como mediador dessa negociação e convencer seus pares (que têm a hierarquia e o sentido de dever como valores importantes) a dar seu quinhão de sacrifício para que a reforma passe no Congresso. Não são eles que falam em governar pelo exemplo?
Vera Magalhães: Jair & Filhos
Clã renova o filhotismo político brasileiro tendo as redes sociais como curral
Na última quinta-feira, conversava com um aliado de Jair Bolsonaro a respeito da forte presença de militares em postos-chave do governo. Ele fez uma observação: “Não me preocupa. Os militares são os adultos na sala deste governo. E terão um papel importante: o de conter a influência dos filhos”. Na saída do encontro, me deparei com o desdobramento do caso Fabrício Queiroz, com a reclamação de Flávio Bolsonaro ao STF para paralisar o inquérito contra o ex-assessor e anular suas provas.
O filhotismo é um dos fenômenos originais da política brasileira. Tão antigo quanto os outros “ismos” que nos (de)formaram: clientelismo, patrimonialismo, coronelismo, populismo, e por aí vai.
O clã Bolsonaro, bem como outros da política atual, renovou o fenômeno. Deu-lhe características de franquia: os produtos são de rápida absorção no mercado, vêm com aquela marca distintiva fácil de “colar” junto ao consumidor, têm uma estratégia de marketing tão simples quanto agressiva e usam as redes sociais como veículo – a versão pós-moderna do curral eleitoral do coronelismo clássico.
A franquia Jair & Filhos foi tão bem-sucedida que mesmo os furos gritantes de narrativa não foram suficientes para conter seu avanço. Como falar em renovação política tendo uma família em que nada menos que quatro integrantes da árvore genealógica direta (sem contar as ex-mulheres) tiram seu sustento da política? Claro, os Bolsofilhos foram eleitos legitimamente. Mas a pergunta é: teriam sido por suas próprias qualidades, trajetórias e ideias, dissociados da “matriz” Jair? Provavelmente não.
Mas o filhotismo não se encerra na perpetuação dos clãs por meio da entrada de sucessores na vida pública. Quando ele chega ao Executivo, há os desdobramentos disso: os herdeiros passam a orbitar em torno do poder. Aconteceu com os filhos de Lula, que preferiram agir nos bastidores, sem ocupar funções eletivas, mas se valeram do apelido do pai, convertido em sobrenome, para fazer negócios para si.
No caso dos Bolsonaro, por ora a influência se dá mais no campo da própria política. Eduardo e Carlos, os irmãos que se dão melhor entre si e com o pai, hoje exercem forte influência nas áreas de comunicação, educação e política externa do governo.
Flávio, o “patinho feio” da família, aquele a quem as abundantes postagens dos manos sobre tudo nas redes sociais ignoram, se preparava para, a partir do Senado, também ser um foco de influência junto ao pai. Dias antes de Fabrício Queiroz emergir dos bastidores da política miúda de gabinete para as manchetes, seu ex-chefe dera uma entrevista à GloboNews em que pontificava sobre a eleição para a presidência da Casa para a qual foi eleito e defendia a eleição de um nome alternativo ao de Renan Calheiros para que o governo tivesse tranquilidade para votar sua pauta. Ironicamente, o primeiro do trio a se desgastar politicamente é aquele com discurso político menos belicoso, mais conciliador e pragmático – sem arroubos tirados de manuais dos cursos online de ideologia para iniciantes.
O fato é que a desenvoltura com que os filhos transitam no governo, de um lado, e o novelo do caso Queiroz em que o menos desenvolto deles se enreda dia a dia, de outro, respondem hoje pela quase totalidade de pequenas crises que travam o início do mandato do “01”.
Das confusões no Itamaraty aos recuos no MEC; da cantilena da “comunicação direta com o povo” aos entreveres diários e infantis com adversários políticos e a imprensa; e, finalmente, o primeiro confronto autoimposto com o Supremo: todos os primeiros ruídos do governo têm o mesmo sobrenome. Os militares, como os adultos na sala, já começam a se preocupar com as diabruras das crianças.