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Ricardo Noblat: Ibope ou Datafolha – quem está certo?

Faça sua escolha
A pesquisa Ibope divulgada ontem não foi encomendada por ninguém. Foi feita por conta e risco do Ibope, certamente interessado em avaliar o impacto do atentado de Juiz de Fora na evolução das intenções de voto. É meritório que tenha sido assim, afinal pesquisa custa caro.

Ao Ibope não importa que os resultados da pesquisa tenham reanimado os bolsonaristas, antes abatidos com a pesquisa Datafolha que deixara seu ídolo em maus lençóis. Instituto sério como são os dois deve se preocupar apenas em fazer bem o seu trabalho, e ponto.

Uma pesquisa não está certa e a outra errada. O Ibope foi à campo no sábado dia 8, domingo dia 9 e segunda-feira dia 10 quando Bolsonaro estava no auge de sua exposição depois do atentado do dia 6. O Datafolha foi a campo somente na segunda-feira dia 10. Nesse mesmo dia tabulou e divulgou os resultados.

Os dois institutos entrevistaram cerca de 2 mil eleitores – o Datafolha em um único dia, o Ibope em três dias. Uma cláusula pétrea no mundo das pesquisas de opinião pública diz que só se pode comparar resultados de pesquisas feitas por um mesmo instituto, porque os métodos podem ser diferentes.

São parecidos, mas não são iguais, os métodos de aplicação de pesquisas do Ibope e do Datafolha. E são radicalmente diferentes dos métodos de pesquisas de institutos que preferem ouvir os entrevistados por telefone. O Ibope os entrevista em suas casas. O Datafolha, nas ruas (ou é o contrário?).

No essencial, as pesquisas Ibope e Datafolha coincidem. Bolsonaro lidera, apesar da resistência das mulheres ao seu nome; Ciro Gomes, Marina Silva e Geraldo Alckmin estão embolados na disputa pelo segundo lugar; e Fernando Haddad começa a crescer à base de votos transplantados de Lula.

Nesta sexta-feira, o Datafolha dará à luz uma nova pesquisa contratada pela Folha de S. Paulo e a TV Globo. Emoção na veia para quem gosta de eleição.

Em breve, Lula livre!

Está tudo combinado
Ex-advogado de Lula, o ministro Dias Toffoli, que amanhã assume a presidência do Supremo Tribunal Federal, porá para ser votada novamente a prisão em 2ª instância. Uma vez que ela deixe de valer, Lula será solto. Está previsto para acontecer no início de 2019, mas nada impede que depois da eleição ele seja solto.

Lula sairá da cadeia dizendo que a Justiça, afinal, reconheceu a sua inocência tão proclamada por ele desde que foi preso. E quem acredita que Lula foi preso só para que não pudesse ser candidato e vencer a eleição, acreditará, sim, com mais fé ainda que ele não passou de uma vítima de um golpe. Tanto que acabou libertado.

Os políticos enrolados com a Lava Jato, mas não somente eles torcem desesperadamente por Lula livre. Ficará mais fácil para que escapem à Justiça. No tempo oportuno, se dirá que Lula solto é uma contribuição ao restabelecimento da paz política. E que o país, sob um novo presidente, precisará de paz para se reconstruir.


Ricardo Noblat: Lula bate o pé e insiste com a farsa

E se ele decidir não indicar ninguém para candidato?

Estelionato é “obter, para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento”, segundo o Código Penal brasileiro. Pena: de um a cinco anos de reclusão.

Estelionato eleitoral é “um conceito da ciência política utilizada para descrever os casos de candidatos eleitos com uma plataforma ideológica que, após a eleição, adotam um programa de signo ideológico contrário”, segundo a Wikipédia. Pena: nenhuma.

Misture as duas definições, bata bem e não tenha dúvida: Lula é um estelionatário. Sua falsa candidatura a presidente da República foi o meio fraudulento encontrado por ele para se beneficiar e conferir vantagem ilícita a quem venha a substitui-lo.

Estelionato eleitoral só se configura depois que as urnas cantam seu resultado, que o eleito começa a governar e a fazer o contrário do que prometeu. A criatividade assaz louvada do brasileiro acaba de patentear o estelionato eleitoral que dispensa tudo isso.

A candidatura de Lula não existe, jamais existiu. Ele não poderia ser candidato, impedido por lei que carrega sua assinatura. Mas foi preciso que a mais alta corte da Justiça Eleitoral esfregasse tudo isso na cara dele e na nossa cara para que… Para quê o quê?

Para nada. Para que parte de nós continue acreditando, por devoção ou ignorância, que Lula será, sim, candidato – quem sabe, não é? Fernando Haddad voou ontem a Curitiba com a esperança de voltar de lá ungido pelo encarcerado ilustre.

Voltou dizendo que o candidato será Lula para sempre, ou até quando ele quiser, ou até que se esgote o prazo de 10 dias dado pela Justiça para que o PT indique outro candidato. Pobre do Haddad, que imagina estar cumprindo bem o seu papel de capacho.

E se Lula decidir no último minuto que o melhor para o PT (leia-se: o melhor para ele) seria não indicar ninguém, ficando de fora da eleição presidencial? Hipótese remota? Quem disse? Há gente no partido, não sei se muita ou pouca, que deseja isso.

As alianças nos Estados já foram feitas. Faltam apenas 34 dias para o primeiro turno. O cadáver de Lula seguiria sendo explorado por quem já o faz. O choro, o ranger de dentes, a denúncia de mais um golpe não perderiam seus efeitos dramáticos e eleitorais.

De resto, convenhamos, seria muito mais coerente. Por que disputar se o candidato líder de todas as pesquisas de intenção de votos foi vetado por uma justiça infame, a serviço dos golpistas, reles capitães do mato de poderosos interesses internacionais?

Lula nunca foi de dividir o palco com ninguém (não é verdade, José Dirceu? Não é verdade, Antônio Palocci ou Tarso Genro?). Deu um chega para lá em Ciro Gomes só para que ele não ganhasse os poucos segundos de televisão que o PSB tinha para lhe dar.

PT é o nome de fantasia do lulismo. Os que se reuniram em torno de Lula para fundar o partido ou já morreram de morte morrida ou perderam relevância. Alguns ainda vagam arrastando correntes que já não fazem mais barulho nem arrancam fagulhas do chão.

Não se duvide da ousadia de um sobrevivente, que é o que Lula é. Conta a história oficial que ele sobreviveu à seca do Nordeste, à miséria da periferia de São Paulo, à amputação de um dedo quando usava macacão e à perseguição militar como líder sindical.

Sobreviveu à desconfiança ao seu nome de tendências mais radicais da esquerda, a três derrotas como candidato a presidente, aos desafios de governar um país complicado, de eleger e reeleger sua sucessora e de enriquecer como jamais pensara. (Ufa! Basta!)

Só sucumbiu ao rigor do juiz Sérgio Moro. Desde então estrebucha na maca para fingir que ainda tem futuro como líder político. Futuro não tem. Diz a Lei da Ficha Limpa que o ficha suja fica inelegível por oito anos, além do tempo a que foi condenado.

No caso de Lula, ele pegou 12 anos de cadeia. Não importa que saia de lá antes do tempo previsto. Importa que estará com 93 anos de idade quando puder se candidatar de novo. Mesmo que viva tanto, é improvável que o Brasil de 2038 lhe dê ouvido.


Ricardo Noblat: A voz do dono e o dono da voz

O melhor para o PT é o pior para Haddad

É pule de dez que o ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), negará o pedido de registro da candidatura de Lula a presidente. E que a maioria ou os demais ministros da Corte o acompanharão.

Só não estava certo, pelo menos até esta madrugada, se Barroso anunciará sua decisão ainda hoje, se a tomará monocraticamente ou se a submeterá ao plenário do tribunal. Poderá fazer qualquer uma dessas coisas – ou nenhuma.

O último dia de agosto – ou parte dele – transcorrerá sob a incerteza da participação direta ou não de Lula no primeiro programa de propaganda eleitoral dos candidatos a presidente a ir ao ar, amanhã, em rede nacional de rádio e de televisão.

O pedido de registro da candidatura de Lula foi contestado por 16 pedidos de partidos, entidades e pessoas para que o TSE barre a candidatura por ser ilegal. Lula foi condenado pela Justiça a 12 anos e um mês de cadeia, e está preso em Curitiba.

A resposta da defesa de Lula às contestações só foi protocolada no tribunal às 23 horas de ontem. Com 180 páginas, começou a ser lida por Barroso. Se a decisão do ministro ficar para a próxima semana, melhor para o PT, pior para Fernando Haddad.

Para o PT, quer dizer: para seus candidatos a deputado, senador e governador. Quanto mais durar a farsa da candidatura de Lula, mais eles poderão se beneficiar da popularidade do ex-presidente. Lula é uma vaca leiteira a ser ordenhada até o seu último voto.

Mas a demora causará prejuízo a Haddad, o candidato que substituirá Lula tão logo a farsa saia de cartaz. Uma coisa seria ele aparecer amanhã como candidato a presidente no programa do PT. Outra, aparecer como falso candidato a vice.

Haddad precisa de tempo para se apresentar e ser apresentado. Pela lei, 75% do tempo de propaganda eleitoral destinado a um presidenciável deverá ser ocupado por ele. O resto poderá ser ocupado por seus eventuais apoiadores.

De todo modo, Haddad está aí para o que der e vier, disposto a enrouquecer de tanto repetir que ele é Lula e que Lula é ele. Não é não. Está escrito: ele será a voz do dono. E Lula, o dono da voz.

Marina mata no peito e chuta
O desafio de comportar-se como uma mulher forte

Marina Silva, a candidata da REDE a presidente da República pela terceira vez, deu um show na entrevista ao Jornal Nacional ontem à noite. Exorcizou a imagem de mulher frágil.

Não fugiu às perguntas. Com a mão espalmada, soube impor limite às falas dos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcelos. Esteva todo o tempo no controle.

Ao cabo de 27 minutos de interrogatório, e de mais um para que dissesse o que deseja para o Brasil, saiu do ar como entrou – sem ter sido atingida por uma única denúncia de mal feito.

Mas não só. Também sem ter sido pega em contradições, nem hesitado nas respostas que ofereceu. Sempre haverá críticas ao seu novo penteado, mas é impossível agradar a todo mundo.

Cobrada insistentemente por não conduzir seu partido com mão de ferro, a certa altura ensinou sem perder a brandura: “Liderar não é ser dono de partido, Bonner, é ser capaz de dialogar”.

Falou para os diversos tipos de eleitores, mas especialmente para as mulheres que em sua maioria rejeitam a candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL). Por fim, prometeu:

– Vou fazer um governo de transição. Durante quatro anos, eu vou governar este país para que a gente possa combater a corrupção, fazê-lo crescer e ser um país justo para todas as pessoas.

Todos os candidatos dizem coisas parecidas? Bem, mas eles não disputam prêmio de fantasia na categoria de originalidade.


Ricardo Noblat: Outra ameaça a Bolsonaro

Réu em duas ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes de injúria e incitação ao estupro, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) corre o risco de tornar-se um tríplice coroado.

Amanhã, a Primeira Turma do STF deverá decidir se recebe ou não denúncia de racismo contra Bolsonaro apresentada pela Procuradoria Geral da República.

Se receber, ele passará à condição de réu outra vez. Isso não o impedirá de ser candidato, mas bem não fará à sua pretensão de se eleger presidente da República.

Comece a pensar no que vai ouvir
Fatos e versões

O PSDB de Geraldo Alckmin apoiou o impeachment de Dilma Rousseff – ou o golpe, como prefere o PT. Certo ou errado?

Certo. Mas Dilma caiu porque gastou além do que estava autorizada a gastar pelo Congresso, perdeu autoridade política e, sem ela, não se governa.

O PSDB apoiou o governo de Michel Temer até um dia desses, e o governo foi incapaz de tirar o país da crise econômica. Certo ou errado? Certo.

Mas quem inventou Temer presidente foi o PT que, por duas vezes, o indicou para vice de Dilma.

Temer é responsável pela crise econômica que devastou o emprego de 17 milhões de brasileiros – ou de 30 milhões, a levar-se em conta o número daqueles que desistiram de procurar emprego. Certo ou errado? Errado.

O responsável foi Dilma, que legou a Temer uma herança maldita. Quem inventou Dilma foi Lula, que a apresentou como melhor gestora do que ele.

Alckmin é investigado pela Lava Jato. Certo ou errado? Certo.

Lula foi condenado e está preso por crime de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Certo ou errado? Certo.

(Prepare-se para ouvir essas coisas e muito mais a partir da próxima sexta-feira quando começa a propaganda dos candidatos no rádio e na televisão.)


Ricardo Noblat: A última de Dilma

Desrespeito à inteligência alheia

Que Dilma carecia de qualidades para governar o país, ninguém mais duvida disso. Nem mesmo seus companheiros de partido. Ela encarregou-se de provar. Lula já despediu desculpas por tê-la escolhido. Não foi nem será desculpado.

Que Dilma queira ser senadora, ela tem esse direito. Foi-lhe concedido pelo Senado, à época sob o comando do ministro Ricardo Lewandowski, quando cassou seu mandato e, em seguida, rasgou a Constituição para preserva-lhe os direitos políticos.

Nem por isso Dilma deveria se permitir dizer barbaridades como a que serviu ontem aos eleitores de Contagem a pretexto de defender Lula. Em ato de campanha, ela afirmou que Lula foi preso apenas para não se eleger presidente em outubro próximo.

Quando um eleitor gritou “Lula ladrão”, ela respondeu: “Esse pessoal é o pessoal do ódio, o pessoal da intolerância, o pessoal que quer o Lula preso porque não conseguem ganhar no voto, tentam ganhar na violência”.

À parte o português como sempre mal tratado, e quando nada em respeito ao cargo que ocupou, Dilma deveria sentir-se obrigada a respeitar a inteligência alheia. Lula está preso e condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Ponto.

Boa parte dos brasileiros que desejam votar nele sabe disso, mas não liga porque acha que todos os políticos roubam, mas que pelo menos Lula fez algo por eles. O que dirá Dilma quando se esgotarem todos os recursos judiciais para libertar Lula?

Por ora, ela, Lula e sua turma atacam o juiz Sérgio Moro e os desembargadores de Porto Alegre que por duas vezes confirmaram a sentença de Moro. Mais tarde atacarão o Supremo Tribunal Federal cuja maioria de ministros foi indicada por eles?

Em telefonema gravado e que se tornou público, Lula já chamou o Supremo de “Corte acovardada”. Para ele que se diz democrata e respeitador de leis, o Supremo só deixará de ser uma casa de covardes se o absolver e soltar.

A lei pode ser para todos, menos para Lula.

A arte de enganar o eleitor
Trump sabe. Bolsonaro aprende

Eleitor ama ser enganado, e os políticos sabem disso. Depois fica furioso quando descobre que foi enganado – os políticos também sabem disso, mas não ligam desde que se elejam.

Fernando Collor era candidato a presidente em 1989 e acabara de sair de um comício no interior do Ceará onde usara um discurso em tudo semelhante ao que faz hoje Jair Bolsonaro.

Entrou no carro que o aguardava na companhia do seu aliado Tasso Jereissati (PSDB), governador do Estado, e começou a gargalhar do que dissera. Foi Jereissati que me contou à época.

Como é fácil enganar eleitor! Primeiro você diz um monte de coisas que pensa e que imagina que ele possa pensar. Se vir que não é bem assim, você nega o que disse e muda de assunto. Funciona.

Se ainda assim lhe cobrarem pelo que disse, não se preocupe. Responda que foi mal interpretado. Ou culpe a mídia por tirar do contexto algumas de suas frases. Costuma dar certo.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, é um craque nisso e dá um passeio nos seus adversários, incluindo a mídia. Mais tosco do que Trump, Bolsonaro ainda tenta aprender. É um bom aluno.

Diga-se a favor dos dois que eles não são os únicos a procederem dessa maneira. Está para nascer um candidato que só defenda o que fato acredita, sem ligar para o que o eleitor pense a respeito

Talvez eu exagere. Lembro-me de um assim que conheci de perto: o jurista baiano Josaphat Marinho. Foi senador duas vezes, eleito por obra e graça de Antônio Carlos Magalhães.


Ricardo Noblat: Operação Segura Tropa

Bolsonaro radicaliza para não perder votos

Há menos de um mês, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) concluiu que estava na hora de tentar avançar sobre fatias do eleitorado que resistem aos seus encantos. A melhor maneira para isso seria suavizar seu perfil de líder duro e repleto de ideias extremas.

Assim tentou se apresentar em sabatinas e nos dois primeiros debates de televisão entre candidatos a presidente da República. Não gostou dos resultados. Menos ainda de ter sido alçado pelas pesquisas à condição de o candidato mais rejeitado.

Então com medo de que parte do seu eleitorado cativo desertasse, deu meia volta volver. É o que se vê desde o início da semana. Voltou a radicalizar seu discurso. Pior do que simplesmente não crescer seria começar a diminuir de tamanho.

É necessário armar as crianças e ensiná-las a atirar, pregou no interior de São Paulo. Quem reagir a assaltos será condecorado se ele for eleito. Rasgue-se o Estatuto da Criança e do Adolescente. Confine-se em campos especiais quem peça refúgio ao Brasil.

Sabatinas? Nunca mais. Bolsonaro “está de saco cheio com elas” e tem mais o que fazer. Debates? Irá a mais três, se tanto. Depois, só se disputar o segundo turno. É pau, é pedra, bateu, levou. Não bateu? Mesmo assim poderá levar.

Bolsonaro de raiz na veia para quem gosta dele.

Que país será esse?
Pergunta que não quer calar

Eleitor capaz de acreditar que Lula é candidato, Jair Bolsonaro não é político e Michel Temer é o principal culpado pela herança maldita que recebeu de Dilma Rousseff, que Brasil de fato ele quer?


Ricardo Noblat: Lula pede para ficar preso

Deixar de ser candidato, jamais!

Onde se lê coisas do tipo: “Lula retira pedido de soltura no STF para impedir discussão sobre elegibilidade”. Ou: “Com medo de ter candidatura impugnada, Lula desiste de pedido de liberdade”.Ou ainda: “Temendo inelegibilidade, Lula retira recurso do STF”. Leia-se simplesmente: Lula prefere ficar a preso a ter sua candidatura barrada pela Justiça. Pois foi isso o que se tratou.

Em junho último, a defesa de Lula entrou com recurso no Supremo Tribunal Federal pedindo que ele fosse solto e autorizado a disputar as eleições de outubro próximo. Agora desistiu do recurso com medo de que o Supremo declarasse desde já que ele não poderá ser candidato. Em resumo: a tirar a fantasia de candidato a presidente, Lula escolheu manter a fantasia de preso político.

O pedido de desistência do recurso será examinado pela ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no tribunal. Ele poderá aceitá-lo, negá-lo ou submetê-lo ao julgamento dos seus colegas em plenário. Está chegando a hora da Justiça decidir o futuro de Lula. E a Lula só interessa atrasar o relógio. Desistiu há muito tempo do papel de mediador de conflitos. Quer mais é agravá-los.

O que o general acha dos brasileiros
Preconceito e ignorância

Imagine ter como presidente da República ou como vice, o substituto, portanto, do titular do cargo, alguém que pense assim sobre os seus governados: os brasileiros herdaram dos índios a indolência (preguiça), dos negros a malandragem e dos povos ibéricos (portugueses, de preferência), a tendência a querer privilégios.

Se o deputado Jair Bolsonaro (PSL) se eleger presidente, fique desde já sabendo que o vice dele, o general da Antonio Hamilton Mourão, pensa assim de nós. Foi o que ele mesmo disse ontem em sua primeira aparição pública como vice em uma reunião na Câmara de Indústria e Comércio (CIC) de Caxias do Sul, na serra gaúcha.

Por que o general não disse, por exemplo, que os brasileiros herdaram dos índios o amor pela natureza? E dos negros o amor pela liberdade? E dos portugueses o amor pela aventura? Porque ele não pensa assim, ora bolas.

Repetindo, pensa que os índios foram ou ainda são preguiçosos, que os negros foram ou são sujeitos repletos de artimanhas para extrair vantagens, e que os portugueses foram ou são gente que gosta de desfrutar o direito concedido a poucos em detrimento da maioria.

Em tempo: o general comentou que não é racista. Preconceituoso e ignorante, ele é.


Ricardo Noblat: Lula, de candidato a ventríloquo

À procura de um boneco. Ou mais uma jogada do guia genial

Procura-se um candidato a vice que se resigne a ser uma espécie de boneco de ventríloquo de Lula. Pode ser de carne e osso e movimentar-se como se fosse uma pessoa normal. Exige-se apenas que abra e feche a boca em sincronia com a voz do seu dono. E que faça tudo o que ele mandar até o fim da campanha eleitoral e, caso se eleja, até o último dia do mandato de presidente da República.

Se tivesse procedido dessa maneira, é bem possível que Dilma ainda fosse a locatária do Palácio da Alvorada, às vésperas de transferir a faixa presidencial para seu sucessor – provavelmente Lula. Mas ela rebelou-se e preferiu governar ao seu estilo, obedecer às próprias ideias, candidatar-se a um novo mandato quando não deveria, e aí deu no que deu. É história conhecida.

A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, tem o perfil do boneco ao gosto de Lula. O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, menos, mas Lula poderá escolhê-lo à falta de algo melhor. Manuela d’Ávilla foi reprovada no primeiro teste. Lula queria que ela renunciasse primeiro à candidatura a presidente mesmo depois de lançada por seu partido.Só mais tarde seria indicada para vice.

Manuela talvez topasse. Quem não topou foi o Partido Comunista do Brasil (PC do B). Seria humilhação demais para os dois – Manuela e o partido. E se mais tarde, por qualquer razão, Lula desse o dito pelo não dito? Não foi assim com Marília Arraes, candidata do PT ao governo de Pernambuco? Lula disse que votaria nela se militasse por lá. Depois rifou sua candidatura.

Não se descarte a hipótese de que Lula acabe por não escolher boneco algum. Ou que só a escolha, vencido o prazo estipulado pela Justiça que termina hoje, e que ele quer prorrogar até o próximo dia 15 contra a opinião dos seus advogados. Mais uma afronta à Justiça que serviria a Lula para que se vitimizasse. Todavia, poderia ser também mais uma jogada bolada por ele de dentro do cárcere.

Sem candidato a presidente (e para Lula é inconcebível que o PT concorra ao cargo com outro nome), o partido usaria o que lhe cabe no milionário Fundo Partidário para financiar a eleição de deputados e senadores, preservando sua força no Congresso. Ainda sobraria grana para sustentar-se pelos próximos anos. Seria, digamos assim, uma nova versão do mensalão. O mensalão ponto três.


Ricardo Noblat: Lula em estado de desespero

Há mais de 100 dias, quando se entregou à Polícia Federal, Lula foi para o cárcere de Curitiba com duas certezas: não ficaria preso por muito tempo, e ainda teria chances de disputar a sucessão do presidente Michel Temer. Havia advogados que diziam para ele que isso seria possível, embora outros mais realistas pensassem o contrário, mas preferissem se calar.

A liberdade tão esperada por Lula não veio, e tão cedo virá ao que tudo indica. Todos os recursos impetrados pela defesa de Lula para soltá-lo foram derrotados nos tribunais superiores. Salvo o inesperado, a Justiça Eleitoral negará em prazo relativamente curto o pedido de registro da candidatura dele a ser apresentado até o próximo dia 15.

A ficha de Lula finalmente caiu. Foi por isso que nas últimas horas ele tomou decisões que dão uma ideia do seu estado de desespero. Mandou rifar em Pernambuco a candidatura de Marília Arraes (PT) ao governo do Estado. Para em seguida oferecer ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) o que ele pedia e o que nem imaginava pedir para deixar de apoiar a candidatura de Ciro Gomes (PDT).

Os advogados de Lula, ontem, o aconselharam a escolher seu vice para que a chapa chegasse pronta à convenção do PT marcada para logo mais. É o que manda recente resolução do Tribunal Superior Eleitoral. Lula recusou o conselho. O vice, seja qual for, só será escolhido a poucas horas do fim do prazo para o pedido de registro da sua candidatura.

Manuela d’Ávilla, candidata a presidente pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B), Fernando Hadadd ou Jaques Wagner, ambos do PT, e quem mais possa vir a ser vice de Lula terão que se conformar com a espera. Lula sabe que tão logo se anuncie quem será seu vice, ele começará a sair de cena. Todos os holofotes se voltarão para o vice no pressuposto de que ele será de fato o candidato do PT.

É tudo o que Lula não quer – perder o protagonismo dentro do PT e da esquerda, perder espaço na mídia, sentir-se, enfim, cada vez mais só. Ele tudo fará para que isso não aconteça, não importa o preço que possa custar ao PT e aos seus antigos aliados.


Ricardo Noblat: Envergonhado, o PSB se cala sobre acordo com o PT

“O jogo só termina quando acaba”

Desde que o ex-ministro Joaquim Barbosa desistiu de disputar a sucessão de Temer, o presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Carlos Siqueira, esgoelou-se de tanto repetir que caberia ao seu partido apoiar algum candidato, mas jamais ficar neutro.

Siqueira viajou, ontem, às pressas a Belo Horizonte para comunicar a Márcio Lacerda (PSB) que ele não poderá ser mais candidato ao governo de Minas Gerais como pretendia. A cúpula do PSB, pressionada pelo PT, afinal decidira pela neutralidade do partido.

Que cúpula? – quis saber Lacerda. Siqueira enrolou-se para explicar, uma vez que não houve reunião de cúpula alguma. O PSB tem convenção marcada para o próximo domingo. E a maioria de suas seções estaduais não foi consultada sobre o acordo com o PT.

De volta a Brasília, Siqueira calou-se. Os principais líderes do PSB também se calaram à espera que o partido nos Estados engula ou regurgite o acordo. “O jogo só termina quando acaba”, comentou irônico o presidente do PDT, Carlos Lupi.

PDT e PSB se coligaram em 13 Estados para concorrer aos governos. Em seis deles, o PDT apoia candidatos do PSB. Esse número ainda poderá crescer a depender do que aconteça nas próximas horas.

A marcha da insensatez do PT em Pernambuco

A lição esquecida de Tancredo Neves

Do alto de uma sabedoria acumulada ao longo de décadas, o presidente da República que morreu antes de tomar posse costumava ensinar aos jovens: “O natural na política é muito forte”.

O mineiro Tancredo de Almeida Neves, no ramo da política há mais de 50 anos, queria dizer simplesmente o seguinte: contra o natural, não insista. Se insistir, no mais das vezes perderá.

Era natural, por exemplo, que o deputado Ulysses Guimarães, líder da oposição nos anos 80, fosse o candidato do PMDB a presidente da República se as eleições diretas acabassem restabelecidas.

Como não foram, a candidatura de Tancredo tornou-se natural. Tanto que ele se elegeu em um colégio formado por deputados, senadores e delegados estaduais onde o governo tinha maioria.

A candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco era o natural até ontem. Neta de Miguel Arraes, ela empolgou o PT no Estado e lidera todas as pesquisas de intenção de voto. Mas aí…

Interessado em impedir que o PSB apoie Ciro Gomes (PDT), a Executiva do PT vetou a candidatura de Marília para facilitar a reeleição de Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco.

Não sairá barato para o PT. Hoje, 320 delegados do PT pernambucano se reunirão no Recife para decidir se o partido deve ou não ter candidato próprio ao governo.

E se decidirem que o partido deve ter? Então no próximo domingo aclamarão Marília como candidata. E como ficará a direção nacional do partido? E como ficará o PSB que recuou do apoio a Ciro?

A candidatura de Marília já foi longe demais para que o PT possa rifá-la sem que o partido imploda no Estado. Ali, antes de Marília, o PT se tornara irrelevante apesar de toda a força de Lula.


Ricardo Noblat: Por Lula, o PT ficou só

Resultado até aqui da estratégia do PT de manter a candidatura de mentira de Lula para mais adiante trocá-la por um avatar: o partido ficou isolado, e isolado deverá disputar o primeiro turno da eleição presidencial de outubro próximo.

O PDT deu-lhe as costas e irá com Ciro Gomes. O PSOL, com Guilherme Boulos. Hoje, a convenção do PC do B lançará a candidatura de Manuela d’Ávila. O PV deverá ir com Marina Silva. O PSB está cada vez mais distante do PT.

Nos Estados, o PT enfrenta sérias dificuldades para fechar coligações. E por causa disso, admite compor-se até mesmo com quem acusou de ser golpista. Rendeu-se a Renan Calheiros (PMDB) em Alagoas, por exemplo. E a Ciro Nogueira (PP) no Piauí.

No Ceará, foi obrigado a rifar a candidatura à reeleição do senador José Pimentel (PT) para aliar-se ao senador Eunício Oliveira (PMDB). A revolta por lá foi tão grande que a direção nacional do PT passou a renegar a aliança que, por ora, permanece de pé.

Entre os deputados federais e os senadores do PT, o clima é de aflição com o possível enfraquecimento do partido no Congresso. Senadores como Gleisi Hoffman (PR), Lindberg Farias (RJ) e Humberto Costa (PE) pensam em disputar uma vaga na Câmara.

Enquanto isso, no cárcere de Curitiba, escasseia as esperanças do preso mais ilustre do país de ser mandado para casa antes da chegada do Ano Novo.


Ricardo Noblat: Rodrigo Maia contra um vice do DEM

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, é contra a indicação de um nome do seu partido para a vaga de vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB).

Natural. Faz parte do acordo de Alckmin com o Centrão o apoio a Maia para que se reeleja presidente da Câmara no próximo ano como ele tanto quer.

Um candidato a vice do DEM, a presidência da Câmara para o DEM… Seria colher de chá em excesso para o DEM, o que desagradaria os demais partidos do Centrão.

Alckmin quer escolher um vice o mais rápido possível. A demora só serve para desgastá-lo.

Jaques Wagner, o candidato de Lula
Por ora, ele nega para ficar a salvo de ataques

O ex-ministro de Lula e Dilma, e duas vezes governador da Bahia Jaques Wagner está pronto para ser o candidato do PT a presidente da República. Lula quer, Wagner topa, e ele só não será se até lá Lula mudar de ideia. Não parece provável.

Antes de ser encarcerado em Curitiba, Lula gravou um vídeo onde declara seu apoio a Wagner. O nome de Wagner é mais bem aceito dentro do PT do que o nome de Fernando Haddad, vice-prefeito de São Paulo, que não conseguiu se reeleger.

O marqueteiro que cuidará da campanha do candidato do PT à sucessão de Michel Temer é o mesmo que cuidou das campanhas passadas de Wagner, e também da que elegeu Rui Costa (PT) governador da Bahia, agora candidato à reeleição.

Wagner é um político que não teme correr riscos. Antes de se eleger e se reeleger governador da Bahia, havia sido candidato a prefeito de Salvador contra a vontade de Lula – perdeu. E uma vez candidato ao governo também contra a vontade de Lula – perdeu.

Na próxima semana, ele será lançado candidato ao Senado. Sua eleição é considerada certa até por seus adversários. Começará sua campanha de imediato. E aguardará a convocação para substituir Lula. Se ela não vier, tudo bem do mesmo jeito.

Seu rolo com a Lava Jato não o preocupa. Se disputar a perder a vaga de Temer, ocupará alguma secretaria de Estado no futuro governo Costa, o que lhe garantirá proteção especial da Justiça. Como senador, estará protegido da mesma maneira.