unidade
Marco Aurélio Nogueira: Fermento mobilizador
A Roda Democrática se empenhou firmemente na organização do Ato por um Polo Democrático e Reformista que se realizou em São Paulo no começo da noite do dia 28 de junho, no Teatro Eva Herz. Em boa medida, foi graças à dedicação de Tibério Canuto, seu coordenador, que o Ato ganhou vida e se traduziu em um extraordinário sucesso.
Fazer a defesa prática de uma articulação entre as correntes democráticas, partidárias e não partidárias, não é algo simples nos dias correntes, marcados por desentendimentos e atritos complicados, que afastam mais do que aproximam os democratas. Mas é, ao mesmo tempo, algo indispensável para que possamos pensar em uma dinâmica que promova o rearranjo político que a sociedade espera. O tamanho dos desafios nacionais é tão grande que não há como atuar com responsabilidade cívica sem valorizar e construir uma articulação desse tipo.
Não se trata somente de chegar a um candidato de consenso – objetivo que por si só exige alta taxa de desprendimento e bastante visão política estratégica. Mas sim de celebrar um compromisso com a sustentabilidade política, ética e programática de um empreendimento democrático que ponha em marcha uma força cultural e pedagógica de maior fôlego, que eduque e organize os cidadãos com um programa de trabalho que inclua, em lugar de destaque, algumas demandas inegociáveis: defesa e aprofundamento da democracia, republicanismo, combate à corrupção, igualdade perante a lei, diminuição da violência, educação inclusiva e de qualidade, combate à desigualdade e a todas as formas de racismo e discriminação.
Um Polo Democrático precisa ser pensado em termos programáticos e de longo prazo. O cálculo eleitoral não é o melhor conselheiro no momento atual. Muito menos as sondagens de intenção de voto. Os democratas reformadores precisam construir seu candidato, não simplesmente aderir aos que se mostrarem mais “competitivos”.
A ideia da unidade democrática é um valor. Foi com ela que, anos atrás, derrotamos o regime ditatorial e escrevemos a Constituição. Hoje, não há mais ditadura, o país mudou, novas correntes políticas apareceram, o mundo se globalizou, os desafios aumentaram demais. Se os democratas não se articularem, tudo será muito mais difícil. Para a esquerda, sobretudo. Para os liberais progressistas também. Nenhuma corrente política conseguirá avanços se agir isoladamente e de costas para a sociedade, que pede muito mais do que lutas entre partidos, escaramuças parlamentares e disputas por poder.
Em 2018, a questão unitária está reposta com dramaticidade. Os candidatos estão tateando, a fragmentação rouba força de cada um deles. Muita gente teme que o processo eleitoral tenha um desfecho ruim, com a prevalência de candidatos extremistas ou com dificuldades de agir com a serenidade que o momento pede.
Resistências à unidade haverá sempre, vindas seja dos candidatos que já se lançaram, seja de parcelas do próprio eleitorado, que ora torcem o nariz para os políticos, ora cobram radicalidade renovadora dos governos, ora alegam que os esforços unitários só serviriam para desculpar os “golpistas”, ora provocam em tom de deboche. O clima vigente no país faz com que tudo seja muito difícil. Há desalento cívico e desinteresse, uma animosidade contra a política. E há também os ataques petistas contra tudo o que não ponha Lula no meio. Nada disso ajuda.
A melhor resposta a tais resistências é a insistência, o esforço para quebrar a inércia e assumir a causa democrática por inteiro. Não há, na história e muito menos na história brasileira, mudanças que se tenham feito sem acúmulo de forças e sem empenho político. O mundo de hoje, globalizado, líquido e dilacerado por tantos dramas, não tem como mudar de patamar de um dia para outro, por efeito de alguma ruptura explosiva. A saída passa pela agregação de esforços e pela elaboração de estratégias renovadoras que levem em conta a complexidade das sociedades atuais, que se proponham a praticar outras práticas, a aproximar os que não pensam de modo totalmente igual mas compartilham os mesmos sonhos, a reformular a linguagem com que se faz política.
No Brasil, o drama parece ter sempre um grau a mais. As crises que assolam o país – a econômica, a fiscal, a política, a social, a ética – assustam de fato e erguem uma interrogação ao futuro. Os democratas sinceros têm bons motivos para se preocuparem. Não só porque haja ameaças extremadas despontando na disputa eleitoral, das quais a da extrema-direita tem potência suficiente para arrasar o país que temos hoje. Mas sobretudo porque o horizonte mais ou menos imediato, de médio prazo, não prevê nenhum céu de brigadeiro: os desafios irão se manifestar de forma ainda mais virulenta. O país está com sua ordem política exaurida, como frisou Fernando Henrique Cardoso. Faltam lideranças, os partidos não se entendem, as instituições em vigor não conseguem mais responder à sociedade nem corresponder às suas expectativas.
Isso deveria ser suficiente para desarmar os espíritos, os nichos corporativos ou ideológicos, as correntes mais conservadoras ou mais “revolucionárias”, os liberais e os socialistas. Deveria ser suficiente para empolgar o eleitorado e fazê-lo atuar como um efetivo fator de pressão democrática e reformadora. Mas pensar assim é ignorar os próprios termos da crise, é fingir que ela não existe. Pois é precisamente por estarmos mergulhados até o pescoço nessa crise multifacetada, que se retroalimenta o tempo todo, que a constituição de um Polo Democrático reformador não está inscrito nas estrelas e só poderá se materializar de forma tentativa, passo a passo.
Desse ponto de vista, o ato realizado ontem, dia 28 de junho, em São Paulo, representou um fermento mobilizador. A reportagem feita pelo “Programa Diferente” fornece uma excelente visão do que aconteceu.
O sucesso foi extraordinário não só porque o Ato conseguiu reunir, em um mesmo ambiente , importantes representantes do campo democrático. Estiveram lá, imbuídos de uma mesma disposição, representantes da Rede Sustentabilidade, na pessoa de João Paulo Capobianco, do MDB, do PSDB, do PPS, do Podemos, do PSD, do PV; intelectuais como Sérgio Fausto, José Álvaro Moisés, Lourdes Sola, Alberto Aggio, Caetano Araújo, Victor Gentilli e José Armênio de Brito Cruz; e políticos da estatura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, dos deputados Roberto Freire (SP) e Marcus Pestana (MG), do governador Paulo Hartung (ES), do prefeito Bruno Covas (SP), da senadora Rose de Freitas (ES), dos sindicalistas Ricardo Patah e Enilson “Alemão” Simões de Moura, de Eduardo Jorge, Rubens Cesar Fernandes (RJ), Alda Marco Antonio, Alberto Goldman e Floriano Pesaro, para citar alguns.
O Ato atraiu uma multidão de cidadãos e ativistas desejosos de novas opções e dispostos a travar o bom combate. Mostrou, acima de tudo, que existe uma clareira que, se bem aproveitada, poderá propiciar o surgimento de um bloco de forças políticas e intelectuais em condições de dar sustentação a um movimento que recupere o país e aprofunde a democratização que vem sendo construída desde os anos 1980. (Roda Democrática – 29/06/2018)
* Marco Aurélio Nogueira, cientista político, professor titular e Coordenador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais da Unesp
Roda Democrática promove ato do Polo Democrático e Reformista em SP nesta quinta-feira (28)
A Roda Democrática, grupo que reúne “militantes de histórico partidário variado, democratas liberais, socialdemocratas, socialistas, comunistas, pós-comunistas, ambientalistas e alternativos”, realiza nesta quinta-feira (28/06), em São Paulo, às 17h, no Teatro Eva Herz (Conjunto Nacional – Avenida Paulista, 2073 – Consolação) um ato do Polo Democrático e Reformista.
Diante da polarização dos extremos nas eleições presidenciais de outubro, representada pelo “nós contra eles” e por setores defensores da intervenção militar no País, os integrantes da Roda Democrática entendem, no entanto, que “ainda não há, no cenário político, uma candidatura que se possa desde já considerar unitária, arejada e competitiva, definição essa que virá no momento apropriado e como produto do consenso majoritário formado no vasto campo da democracia”.
“Comprometida com a democracia e o reformismo social”, a Roda Democrática (veja a convocação abaixo) considera necessário a união de esforços “para superar a mentalidade binária que simplifica o que é complexo e bloqueia a expansão da sociedade do conhecimento”, ao mesmo tempo em que anuncia que “não se furtará a entrar nessa batalha”, com a mobilização para o ato e a abertura de lista de adesão, no site do grupo na Internet, do “Manifesto Por um Polo Democrático e Reformista”, lançado no último dia 5 de junho, em Brasília.
O documento, que conta com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), parlamentares e lideranças de diversos partidos, defende uma candidatura única de centro em 17 pontos (veja aqui) que “podem gerar consensos progressivos em torno da agenda nacional e dos avanços necessários, a partir de uma perspectiva democrática e reformista”.
O manifesto afirma que a eleição deste ano é mais “complexa e indecifrável” desde a redemocratização e alerta, sem citar nomes, para o risco de uma disputa polarizada entre um candidato de esquerda e o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que lidera as pesquisas de intenção de voto no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“A Roda e os artesãos da unidade
A Roda Democrática nasceu inteiramente comprometida com a democracia e o reformismo social. Em todos os nossos encontros e manifestações, assumimos o compromisso de contribuir para a aglutinação do campo democrático e reformista, tanto para gerar uma alternativa de longo prazo capaz de levar o Brasil a superar a maior crise de sua história, quanto para unir forças na disputa presidencial.
No último dia 5 de junho foi lançado em Brasília o manifesto do Polo Democrático e Reformista. A louvável iniciativa, para ser bem sucedida, não pode se limitar a uma articulação parlamentar e partidária. Tampouco pode ser entendida como correia de transmissão desta ou daquela candidatura. Ainda não há, no cenário político, uma candidatura que se possa desde já considerar unitária, arejada e competitiva, definição essa que virá no momento apropriado e como produto do consenso majoritário formado no vasto campo da democracia.
As forças vivas da sociedade e da democracia precisam convergir para esse objetivo. Os movimentos cívicos horizontais, o mundo da cultura e o mundo do trabalho estão convocados a cumprir papel ativo nessa quadra tão grave da nossa história. Devemos nos esforçar para superar a mentalidade binária que simplifica o que é complexo e bloqueia a expansão da sociedade do conhecimento.
A Roda não se furtará a entrar nessa batalha. Em sintonia com o presidente Fernando Henrique Cardoso, tomamos a iniciativa de realizar em São Paulo um grande ato do Polo Democrático e Reformista, no dia 28 de junho, às 17h, no Teatro Eva Herz, Conjunto Nacional, Av. Paulista. Nos próximos dias pretendemos anunciar a adesão de movimentos como Agora, Juntos e Acredito, entre outros, bem como de políticos, intelectuais e sindicalistas.
Ao mesmo tempo, o site da Roda Democrática hospedará uma lista de adesões ao manifesto do Polo Democrático e Reformista.
O desafio é imenso. É sempre mais fácil dividir do que agregar. É muito mais cômodo cada um ficar na sua bolha. Mas não é o que o Brasil exige de democratas como nós. Nossa cultura é da unidade. Superamos o regime militar por meio de uma grande concertação democrática. Quem disse que não poderemos fazer o mesmo para superar a diáspora que ameaça por em xeque o nosso futuro?
Contamos com todos vocês para essa empreitada. Participem do ato do dia 28 de junho, ajudem na sua divulgação. Convoquem amigos e familiares. Mantenham viva a discussão.
É o que o Brasil espera de todos nós, artesãos da unidade.”
ATO POLO DEMOCRÁTICO E REFORMISTA
Dia: 28 de junho
Horário: 17h
Local: Teatro Eva Herz – Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2073 – Consolação) – São Paulo (SP)